“Buscapé”, descolado spin-off de “Cidade de Deus”, chega aos celulares no momento em que filme figura em lista dos mais vistos
Por Maria do Rosário Caetano
Semanas atrás, “Cidade de Deus” figurou em segundo lugar na lista dos filmes estrangeiros (leia-se off-Hollywood) mais vistos do mundo. Perdeu só para o arrasa-quarteirão francês “Intocáveis”, melodrama protagonizado por François Cluzet, patrão rico e paraplégico, e seu divertido enfermeiro, o afro-gaulês Omar Sy.
Passaram-se exatos vinte anos do lançamento do filme de Fernando Meirelles, e ele continua “em cartaz”. Ou seja, na lembrança dos espectadores. Muito próximo ao sucesso de “Cidade de Deus”, a dupla Laranjinha e Acerola (os atores Darlan Cunha e Douglas Silva), protagonistas do curta “Palace 2”, ganhariam série na TV Globo e, depois, um filme dirigido por Paulo Morelli.
Uma década atrás, a dupla Cavi Borges e Luciano Vidigal realizaria o longa documental “Cidade de Deus – Dez Anos Depois” e sairia atrás da turma da ‘caixa baixa’ (a molecada) e dos nomes revelados pelo filme. O que andavam fazendo? O que a vida lhes reservara? Haviam se profissionalizado como atores? Algum deles fora atraído pela marginalidade?
Um dos diálogos mais famosos do filme – “Dadinho é caralho! Meu nome agora é Zé Pequeno!”, dito pelo ator Leandro Firmino da Hora – caíra na boca do povo. A narrativa descolada e nervosa — acusada de praticar a “cosmética da fome”, ao invés de dialogar com a “estética da fome” glauberiana — hoje é respeitada e estudada.
Neste exato momento, um projeto sequencia a fértil trajetória do mais famoso dos longas-metragens de Fernando Meirelles, de 67 anos: “Buscapé”, curta-metragem de Fred Luz. Trata-se de spin-off de “Cidade de Deus”. Ou seja, um derivado do filme.
Na origem, o projeto trabalha com dois personagens da seminal adaptação do romance de Paulo Lins, roteirizada por Bráulio Mantovani (Meirelles dirigiu e Kátia Lund codirigiu): o jovem Buscapé, morador de “Cidade de Deus”, interpretado por Alexandre Rodrigues, narrador da trama, e seu amigo Barbantinho (Edson Oliveira).
O novo projeto foi concebido pela agência VMLY&R. Portanto, sua origem é publicitária. A Vivo e a Motorola bancaram a produção, executada pela O2, do próprio Fernando Meirelles. Por que, então, dar atenção a um filme concebido para promover um aparelho de celular 5G de determinada marca?
Porque, depois de assistir ao filme, de 14 minutos, concluímos que ele tem vida própria, inteligência e sensibilidade. O roteiro é do romancista Paulo Lins e da cineasta Thaís Fujinaga. A trilha sonora de Antônio Pinto, Gui Francishi e Guilherme Malavasi. A fotografia de Rodrigo Carvalho, os figurinos de Bia Salgado, a direção de arte de Ana Henriques. A caracterização de Denise Borro (sim, Buscapé e Barbantinho aparecerão 40 anos mais velhos) e o preparador de elenco, Christian Duurvoort. Créditos de longa-metragem, portanto. Todo mundo sabe que a publicidade brasileira não brinca em serviço.
Quando o curta “Buscapé” começa, o repórter fotográfico interpretado por Alexandre Rodrigues (lembram que, em “Cidade de Deus”, o sonho dele era ser fotógrafo profissional?), já tem cabelos grisalhos.
Ele regressa à Cidade de Deus, favela carioca, onde nasceu e cresceu, como fotojornalista tarimbado, para cobrir evento especial promovido pela comunidade (um concurso de slam). Mas seus planos serão alterados, quando deparar-se com descoberta que aguçará seu faro jornalístico e o colocará em perigo. Mesmo assim, ele decide levar suas investigações adiante (usando, claro, sua nova e poderosa conexão 5G). Mas não se preocupem, não há nada de ostensivo, que seja propaganda explícita, ostensiva, aviltante. A nova tecnologia faz parte da trama.
Edson Oliveira, o Barbantinho, continua amigo de Buscapé e irá ajudá-lo, na medida do possível. No elenco estão, também, Carol Dall Farra (rapper, poeta e compositora na vida real), Dudu Neves, Khalifa Idd, Puelo, Sandrão Rzo, Caio Santos, Hugo Brek e Cocão Avoz.
Fernando Meirelles, claro, gostou do que viu, e destaca “o foco positivo na comunidade, em sua vida cultural e não na violência“. Esta, afinal, é a opção dos roteiristas Paulo Lins e Thais Fujinaga e do diretor Fred Luz. O patrocinador prefere assim. E os moradores das comunidades também. Por que contar só histórias de violência se, nas favelas, também há tantas histórias humanas para mostrar?
Buscapé
Direção: Fred Luz
Roteiro: Paulo Lins e Thaís Fujinaga
Elenco: Alexandre Rodrigues, Edson Oliveira, Carol Dall Farra, Dudu Neves, Khalifa Idd, Puelo, Sandrão Rzo, Caio Santos, Hugo Brek e Cocão Avoz Onde: www.vivo.com.br/buscape ou no canal da Vivo no YouTube, além de estar disponível na íntegra para assinantes do Vivo Play.
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