Itaú Cultural Play homenageia o centenário de Ozualdo Candeias
A partir de 4 de novembro, a Itaú Cultural Play acrescenta em sua programação mais duas mostras dedicadas a importantes realizadores do país, de tempos distintos. Uma delas, tem caráter especial ao homenagear o centenário de nascimento de Ozualdo Candeias, com a exibição de seis filmes de um dos pioneiros do Cinema Marginal, movimento de contracultura das décadas de 1960 e 1980. A outra traz os principais filmes de Maria Clara Escobar, considerada uma das principais cineastas da atualidade.
Dono de filmografia que fez suas obras serem consideradas uma das expressões mais originais do cinema brasileiro, Ozualdo Candeias se dedicou a retratar personagens marginalizadas no campo e nas metrópoles brasileiras. As narrativas de seus filmes mesclam lirismo e aridez. Nesta seleção, curtas e longas-metragens realizados por ele entre os anos de 1960 e 1980 retratam um pouco da sua visão de contracultura da época.
“A Herança”, que ele escreveu, dirigiu e fotografou em 1971, conta a história do filho de um fazendeiro que retorna à casa dos pais depois de passar um tempo estudando na capital. Ao chegar, encontra a mãe casada com o tio, irmão de seu pai, que acabou de morrer. Ele duvida das circunstâncias do matrimônio até que o fantasma de seu pai lhe aparece dizendo ter sido vítima de um assassinato. Diante da notícia, o filho vai atrás de justiça e vingança.
Premiado no Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, em 1981, o drama “A Opção ou as Rosas da Estrada” (foto), mostra mulheres que trabalham no corte de cana em regiões pobres do Brasil. Ao mesmo tempo, entregam-se a caminhoneiros em postos de gasolina e na beira das estradas, como garotas de programa. De hotel em hotel, de cliente em cliente, elas vão sobrevivendo à violência e à miséria, até chegar à cidade grande. Este filme foi iniciado por Candeias com recursos próprios, a equipe trabalhou sem remuneração e ele mesmo atuou como fotógrafo, montador e ator, além de dirigi-lo.
O filme de faroeste “Meu Nome é Tonho”, de 1969, conta a história do pistoleiro Antônio, criado desde criança por uma família de ciganos. Ao deixar o acampamento onde vive, ele vaga por terras ameaçadas por um bando de jagunços, até encontrar uma bela mulher que irá reavivar em seu espírito antigas memórias familiares. Sob a sombra destas lembranças, parte em busca de suas origens.
No curta-metragem “Zézero”, dirigido por Candeias em 1974, um homem do campo é visitado por uma estranha figura – uma mulher enfeitada com rolos de filme, que lhe mostra fotos de outras mulheres e anúncios de classificados em jornais modernos. Com um sorriso de propaganda publicitária, ela lhe oferece um mundo de prazeres na metrópole. Seduzido pelos bens de consumo, o agricultor abandona a família e vai para a capital. Em São Paulo, trabalha como peão de obra e passa por maus bocados.
A programação é concluída com “Uma Rua Chamada Triumpho”, curtas-documentário exibido em dois episódios. O primeiro, é uma carinhosa homenagem a um momento criativo do cinema brasileiro de 1969 e 1970. Na Rua do Triumpho, centro da capital paulista e marco para a história do cinema em São Paulo, o diretor descreve sua paisagem e retrata diferentes personagens, entre diretores, distribuidores, técnicos e exibidores. Foi de suas ruas, bares, neons e trabalhadores que nasceu um dos mais importantes núcleos de produção cinematográfica do país, conhecido como a Boca do Lixo.
O outro episódio aborda 1970 e 1971, seguindo o mesmo arranjo narrativo do primeiro. O diretor descreve a Rua do Triumpho como centro de distribuição de latas de filmes para todo o Brasil, dada à sua proximidade com a Estação da Luz. Ele também apresenta novos artistas e faz pequenas ironias à situação do cinema brasileiro naquela década de 1970.
Plataforma de streaming dedicada exclusivamente ao cinema brasileiro, a Itaú Cultural Play é gratuita e pode ser acessada por dispositivos móveis IOS e Android ou pelo site www.itauculturalplay.com.br.