Astro de “Parasita” protagoniza “Broker”, novo filme de Hirokazu Koreeda
Por Maria do Rosário Caetano
A Palma de Ouro conquistada em Cannes, cinco anos atrás, por Hirokazu Koreeda – com o magnífico “Assunto de Família” – parece ter mesmo lançado o artista além das fronteiras do Japão. Tanto que ele realizou “A Verdade” na França, com Catherine Deneuve e Juliette Binoche, e – em seguida – “Broker – Uma Nova Chance” na badaladíssima Coreia do Sul. Com elenco, idioma e cenários 100% coreanos.
O vigésimo-sexto longa-metragem do grande cineasta japonês, protagonizado pelo astro de “Parasita”, Song Kang-ho, estreia em circuito brasileiro nessa quinta-feira, seis de abril. Mais uma vez, Koreeda aborda o tema que o projetou internacionalmente – famílias disfuncionais. Aquelas em que crianças ocupam papeis de imenso relevo.
“Broker – Uma Nova Chance” gira em torno de um recém-nascido (e conta ainda com um menino evadido de um orfanato). Eles circulam de Busan a Seul, as duas maiores cidades da próspera Coreia do Sul, numa van de tinturaria comandada por dois “brokers” (corretores” ou “intermediários”), que negociam bebês com casais dispostos a “comprar” o filho que não puderam conceber por vias naturais.
O protagonista absoluto do filme é o “pai da família” pobre-e-invasora do oscarizado “Parasita”, o astro Song Kang-ho. Ele saiu de Cannes com a Palma de Ouro de melhor ator, ano passado. O filme de Koreeda não repetiu o feito de “Parasita” (detentor da láurea cannoise antes do Oscar), mas foi reconhecido pelo Ofício Católico Internacional de Cinema com o Prêmio Signis. Afinal, mesmo por linhas tortas, “Broker” valoriza instituição muito cara à Igreja – a família. O filme começa marcado pela desesperança, mas termina com um raio de sol a brilhar no firmamento cristão.
A jovem e lindíssima cantora coreana Lee Ji-eun (ou simplesmente IU) interpreta a desesperada mãe Moon, que sem poder criar seu bebê recém-nascido, sai pela noite chuvosa de Busan, decidida a deixá-lo na “caixa dos abandonados” (ou enjeitados) de uma igreja católica. Ela não percebe que duas detetives observam quem deposita crianças no local, pois investigam gangue suspeita de tráfico de crianças.
Uma dupla de “brokers” se apossará do bebê. Um deles, Haa Sang-hyyeon (Song Kang-ho), é dono de uma lavanderia e tem dívidas de jogo. Necessita, pois, de grana complementar para saldar seus compromissos. Ele conta com a cumplicidade de Dong-soo (Gang Dong-won), que faz trabalho voluntário na Igreja e tem como lhe arrumar facilidades (como apagar câmaras de segurança da instituição religiosa etc.). Até a mãe do recém-nascido acabará se juntando aos dois “brokers”, pois também não sabe o que fazer da vida. E eles a convencerão que a criança, se vendida a bom preço para uma família rica, terá vida infinitamente melhor que com ela, sem eira nem beira. E há o garoto fugido do orfanato, agregado a eles. Juntos, os cinco viverão a aventura social que Koreeda soube engendrar com a habilidade costumeira. Mas sem a maestria de “Assunto de Família”, “Pais e Filhos” e “Ninguém Pode Saber”.
Poucos cineastas contemporâneos sabem unir personagens marginais com tanta ternura e tamanha economia de recursos. E o que é melhor – sem chantagem sentimental.
Aos 60 anos, Hirokazu Koreeda vive sua plena maturidade artístico-cinematográfica. Além de imensa facilidade para conseguir produtores na França e na cada vez mais poderosa indústria coreana, que bancou integralmente “Broker”, ele assina, no Japão, a série “Makanai – Cozinhando para a Casa Maiko”, disponível na Netflix. Trata-se de obra refinada, sobre gueixas do mundo moderno, que aprendem a cozinhar e a servir. Isso num mundo em que as mulheres preferem, paradoxalmente, ser cada vez mais donas do próprio destino.
Broker – Uma Nova Chance
Coreia do Sul, 2h09 minutos, 2022
Direção, roteiro e montagem: Hirozaku Koreeda
Elenco: Song Kang-ho (o “corretor” de bebês), Lee Ji-eun (a jovem mãe), Gang Dong-won (o parceiro do “corretor”), Bae Doona e Lee Joo-young (as detetives), e Im Seung-soo (o garoto)
Fotografia: Hong Kyung Pyo
Trilha sonora: Jaeil Jung
Distribuição: Diamond/Galeria
FILMOGRAFIA
Hirokazu Koreeda (Japão, 06/06/1962)
2023 – “Broker – Uma Nova Chance” (Coreia do Sul)
2019 – “A Verdade” (França)
2018 – “Assunto de Família” (Palma de Ouro em Cannes)
2017 – “O Terceiro Assassinato”
2016 – “Depois da Tempestade”
2014 – “Nossa Irmã Mais Nova” (Cannes)
2013 – “Pais e Filhos” (Grande Prêmio do Júri em Cannes)
2012 – “O que Eu Mais Desejo”
2009 – “Boneca Inflável”
2009 – “Seguindo em Frente”
2006 – “Hana Yori Mo Naho”
2003 – “Ninguém Pode Saber” (Cannes)
2001 – “Tão Distante” (Cannes)
1998 – “Depois da Vida”
1996 – “Without Memory”
1995 – “Maborosi – A Luz da Ilusão”
FILMES PREMIADOS EM CANNES NOS ÚLTIMOS 15 ANOS
2022 – “Triângulo da Tristeza” (Ruben Ostlünd)
2021 – “Titane” (Julia Ducournau)
2020 – Não houve festival por causa da pandemia
2019 – “Parasita” (Bong Joon-ho)
2018 – “Assunto de Família” (Hirokazu Koreeda)
2017 – “The Square – Arte da Discórdia” (Ruben Ostlünd)
2016 – “Eu, Daniel Blake” (Ken Loach)
2016 – “Dheepan – O Refúgio” (Jacques Audiard)
2015 – “Sono de Inverno” (Nuri Bilge Ceylan)
2014 – “Azul é a Cor Mais Quente” (Abdellatif Kechiche)
2013 – “Amor” – Michael Haneke
2012 – “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick
2011 – Tio Bonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas” (Apichatpong Weerasethakul)
2010 – “A Fita Branca” (Michael Haneke)
2001 – “Entre os Muros da Escola” (Laurent Cantet)