Festival Sesc exibe “Tinnitus” e premia melhores do cinema brasileiro e internacional

Por Maria do Rosário Caetano

O mais antigo festival de cinema de São Paulo, o Sesc Melhores Filmes, chega à sua quadragésima-nona edição com cerimônia de premiação nessa quarta-feira, 5 de abril, em sua sala paulistana, o CineSesc.

Produções brasileiras e internacionais receberão o Troféu Sesc atribuído por júris da Crítica e do Público, em solenidade comanda pelo ator Christian Malheiros, de “Sócrates” e “7 Prisioneiros”. Depois será realizada a pré-estreia paulistana do longa “Tinnitus” (foto), de Gregório Graziosi, que estará presente à sessão na companhia dos atores Antônio Pitanga, Sabrina Greve, André Guerreiro Lopes, Indira Nascimento, Mawusi Tulani, entre outros.

Foram avaliados 372 filmes, dos quais 143 são brasileiros e 229 estrangeiros. Pela internet, chegaram 125 mil votos do público encaminhados a diversas categorias (melhor filme, diretor, atriz, ator etc). Já os críticos (algumas dezenas deles) receberam, em casa, catálogo impresso, com todas as informações dos filmes lançados ao longo do ano, para que fundamentassem suas escolhas.

Tudo leva a crer que o grande vencedor brasileiro será (pelo menos na avaliação dos Críticos) “Marte Um”, do mineiro Gabriel Martins, mas ninguém, a não ser a equipe de organizadores do festival, conhece o resultado. Na categoria melhor documentário, “Segredo do Putumayo”, de Aurélio Michiles”, tem chances mais significativas.

O grande vencedor internacional é  “Drive my Car”, obra-prima de Ryûsuke Hamaguchi. Não há o mesmo segredo nesse segmento. O longa-metragem japonês sagrou-se o vencedor do Oscar na categoria melhor filme estrangeiro em 2022. E no festival paulistano derrotou, com toda justeza, títulos de imensas qualidades como o romeno “Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental”, de Radu Jude, os franceses “O Acontecimento”, de Audrey Diwan, “Onoda – 10 Mil Noites na Selva”, de Arthur Harari, e “Ilusões Perdidas”, de Xavier Giannoli, o estadunidense “Licorice Pizza”, de P.T. Anderson, o espanhol “Mães Paralelas”, de Almodóvar, o norueguês “A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachin Trier, o iraniano “O Perdão”, de Maryan Moghadan, o português “Vitalina Varela”, de Pedro Costa, o colombiano-tailandês “Memória”, de Apichatpong Weerasethakul, o italiano “O Traidor”, de Bellocchio, o mexicano “Bardo”, de Iñarritu, entre outros.

Os títulos mais votados pelos críticos e pelos espectadores serão apresentados no CineSesc até o dia 26 de abril. A lista será divulgada pela internet, tão logo seja concluída a cerimônia de premiação na noite dessa quarta-feira.

Para enriquecer as reprises desse festival instituído dois anos antes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, criada por Leon Cakoff e hoje dirigida por Renata Almeida, a equipe do Sesc organiza debates (este ano haverá dois, um deles sobre Crítica Cinematográfica) e um núcleo histórico. Ou seja, filmes do passado em diálogo com o cinema do presente.

Para a edição desse ano, haverá – além de sessão que lembrará os dez anos de “O Som ao Redor”, o mais perturbador dos quatro longas-metragens de Kleber Mendonça (cópia em 35 milímetros) – criou-se a faixa Amor ao Cinema, composta com, entre outros filmes, o “Adeus, Dragon Inn”, de Tsai Ming Liang, e “Um Filme de Cinema”, de Walter Carvalho.

O taiwnês “Adeus, Dragon Inn” foi lançado 20 anos atrás, como uma elegia ao cinema. Na China insular, numa noite chuvosa, um cinema promove sua derradeira sessão. Poucos espectadores aparecem. E aqueles gatos-pingados parecem mais interessados em abrigar-se da forte chuva, que nas imagens que batem na tela. A sala é imensa. Os poucos espectadores sentam-se próximos para assistir a um clássico wushia-pian (filme de artes marciais com luta de espadas), chamado “Dragon Inn”, realizado em 1966. Para seu elenco, o malaio Tsai Ming Liang, hoje com 65 anos, convocou Lee Kang-sheng, Tien Miao e Shi-Zheng Chen. O filme será exibido no domingo, 23 de abril, às 18h.

Já o brasileiro “Um Filme de Cinema”, do paraibano-carioca Walter Carvalho, é um documentário mais recente. Foi lançado há seis anos. Mas foi feito com calma e paixão, ao longo de quase duas décadas. Em suas andanças pelo mundo e pelo Brasil, o diretor de fotografia e cineasta lançou a muitos cineastas – entre eles Jia Zhangke, Ken Loach, Béla Tarr, Gus Van Sant, Ruy Guerra, Julio Bressane, Andrew Wajda, Hector Babenco (e ao diretor de fotografia húngaro Vilmos Zsigmond) — duas perguntas: “por que você faz cinema e pra que serve o cinema?”

Recebeu respostas as mais diversas. E montou um filme que é uma verdadeira declaração de amor ao seu ofício. E, como ele gosta de dizer, fez do “plano cinematográfico o seu protagonista”. “O plano está para o cinema como a palavra está para a poesia, como o espaço está para a arquitetura, como o volume está para a escultura, como a nota está para a partitura musical. É a unidade mínima. Preciso falar sobre ele porque hoje, neste tempo no qual as tecnologias digitais facilitaram tanto o trabalho e as condições de filmagens, as pessoas constroem planos sem pensar sobre eles. Falta uma reflexão sobre o por quê de um plano.”

“Um Filme de Cinema” será exibido dia 26 de abril, às 20h30, em sessão gratuita, apresentada por Walter Carvalho. Preparem seus ouvidos para uma aula marcada pela empolgação, pois o paraibano adora falar sobre sua paixão maior, a arte cinematográfica.

“Tinnitus”, o convidado da noite de abertura”, é o segundo longa-metragem de Gregório Graziosi. Ele integrou a mostra competitiva, ano passado, do Festival de Cinema de Gramado. O filme narra a história de Marina Lenk, experiente atleta de Saltos Ornamentais. Aterrorizada por uma súbita crise de tinnitus, um zumbido insuportável, ela despenca da plataforma mergulhando nas profundezas de seu próprio corpo. Afastada do esporte, sua maior paixão, ela troca a perigosa e desafiadora plataforma de saltos por uma pacata vida no aquário, onde trabalha fantasiada de sereia. O filme, cujo roteiro foi escrito por Graziosi, em parceria com Marco Dutra e Andres Julian Vera, se coloca então a seguinte questão: é possível escapar da loucura, quando o medo se esconde dentro de seus próprios ouvidos?

Às vésperas de suas edição de número 50, que será realizada ano que vem, vale recorrer ao que diz Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, sobre festivais de cinema, e o do Sesc, em particular: “Festivais são momentos de concentrar e recuperar cartografias e afetos, a partir da mobilização e da interação entre públicos diversos – incluindo especialistas e aficionados”.

O Festival Sesc Melhores Filmes, “um dos mais longevos de São Paulo, insere-se nesse contexto, ao reunir e premiar as obras e profissionais favoritos, tanto da crítica quanto do público em geral, enfatizando o direito à liberdade de opinião”.

Ano que vem, o evento deve organizar edição especialíssima, para comemorar seu cinquentenário. Desde 2010, o Festival Sesc, disponibiliza sua programação com recursos de acessibilidade, como audiodescrição e legendagem open caption. A sala da Rua Augusta conta, ainda, com serviço de bar interno, que permite ao espectador assistir ao filme enquanto toma um lanche ou sorve um café ou taça de vinho. E dispõe de projeção e som de altíssima qualidade.

 

49º Festival Sesc Melhores Filmes
Data: de 5 a 26 de abril
Sessão inaugural: nessa quarta-feira, 5, às 20h – premiação, seguida de sessão de “Tinnitus”. Para convidados (parte dos ingressos será distribuída gratuitamente ao público com uma hora de antecedência)
A partir de quinta-feira, dia 6, ingressos nas bilheterias. Debates e sessões especiais (como as dos filmes de Kleber Mendonça, dia 10, às 20h30, e Walter Carvalho, dia 26, às 20h30) serão gratuitos.
Local: CineSesc – Rua Augusta, 2075, São Paulo/SP
Ingressos: R$24,00 (inteira), R$12,00 (meia) e R$8,00 (comerciário)
Atividades paralelas: Conversas com a Crítica (dia 6, às 19h30) – Entrada franca, no Auditório do Sesc

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