TV Brasil estreia filme sobre a educação de mulheres invisibilizadas
O cotidiano de uma mãe encarcerada, uma empregada doméstica e uma jovem trans que estudam em centros de alfabetização para adultos na Bahia serve de mote para o documentário inédito “Diários de Classe”, produção que a TV Brasil estreia nesta sexta (8/12), às 21h. O filme acompanha os desafios dessas três mulheres negras na periferia de Salvador em busca da educação. A obra está no app TV Brasil Play.
Apesar de percorrerem caminhos distintos, as trajetórias dessas estudantes coincidem nos preconceitos e injustiças que sofrem na rotina. O doc tem um olhar jornalístico e observacional sobre o contexto de vida das personagens. A película amplia o recorte espacial da sala de aula para aprofundar o dia a dia dessas mulheres a fim de revelar as tentativas de contornar o apagamento recorrente de suas existências.
O filme “Diários de Classe” destaca mulheres que têm em comum o desejo de melhorar de vida por meio do estudo. Vânia Lúcia assiste às aulas no presídio feminino, enquanto segue o lento desenrolar de seu confuso processo criminal. A empregada doméstica Maria José frequenta as aulas todas as noites na companhia da filha pequena. A adolescente transexual Tifany busca se adaptar à dinâmica em um abrigo e ser tratada pelo nome que escolheu, não pelo que está em seus documentos.
As falas e as histórias das três mulheres retratadas no documentário têm diferentes nuances, mas se aproximam quando o documentário estabelece o elo que conecta a experiência de cada uma delas na esperança de um futuro melhor. A mãe encarcerada tenta aprender legislação para se defender, a trabalhadora doméstica se esforça para conciliar trabalho e estudos, enquanto a jovem vive descobertas.
A falta de oportunidades e a discriminação marcada pelas relações de poder e opressão se fazem presentes na produção cinematográfica nacional que mostra a disposição feminina para pensar e reagir diante das posições sociais impostas a pessoas negras, mas obstinadas pelo saber.
A montagem ressalta como desigualdade social, preconceito, machismo e precariedade da educação influenciam no processo da formação da sociedade brasileira e prejudicam jovens e adultos periféricos em um sistema que os ignora historicamente.
Durante seis meses, a equipe da produção acompanhou o dia a dia dessas mulheres para fazer o documentário. O longa de estreia dos diretores Maria Carolina da Silva e Igor Souza foi reconhecido com premiações.
“Diários de Classe” conquistou os prêmios do Júri Popular e do Júri Jovem no IV Festival Pirenópolis DOC, evento em que ainda ganhou a láurea de Melhor Filme, categoria também vencedora na 2º Mostra de Cinema Contemporâneo do Nordeste. Nesta seleção, a obra ganhou também o Prêmio de Melhor Direção.