CineBH celebra o cinema latino-americano e promete trazer Ricardo Darín
Foto: Raquel Hallak © Leo Lara/Universo Produção
Por Maria do Rosário Caetano, de Belo Horizonte (MG)
A CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte vai apostar, cada vez mais, no cinema latino-americano. E em sua difusão junto ao público brasileiro, já que os dados revelam situação das mais preocupantes. Em 2023, apenas seis longas-metragens da América Hispânica e Caribe chegaram ao circuito comercial brasileiro.
Raquel Hallak, diretora do festival mineiro, promete não medir esforços para ajustar o foco do público brasileiro com a produção de nossos vizinhos. Promete, inclusive, mover montanhas para trazer Ricardo Darín, o Exocet do cinema argentino e hispano-americano, à capital mineira.
A CineBH, que anos atrás trouxe a cineasta Lucrécia Martel a Belo Horizonte, já iniciou entendimentos com representantes do ator-protagonista de “Nove Rainhas” e “O Segredo dos seus Olhos”. Em entrevista à imprensa, no Palácio das Artes, Raquel ponderou que trazer o astro platino para participação no festival mineiro não constitui operação simples. “A agenda dele é das mais complexas, mas não desistiremos. Queremos que ele participe dos esforços que estamos empreendendo para divulgar e aproximar o cinema de nossos países”. Ou seja, as cinematografias que, abaixo do Rio Grande, falam espanhol e português.
O prestígio de Darín é tão grande que um filme que o tem no elenco (“Relatos Selvagens”, de Damián Szifrón, 2014) será relançado no circuito comercial brasileiro. Os outros títulos escolhidos são blockbusters de super-heróis, todos made in USA. O último filme de ator argentino lançado no Brasil foi “Argentina, 1985” (Santiago Mitre, 2022), finalista ao Oscar.
Raquel Hallak lembrou que, há três anos, o comando da CineBH e seus curadores resolveram ajustar o foco do festival no cinema da América Latina. “Somos um evento internacional, mas com recorte específico: a produção de nossos vizinhos na América do Sul, América Central e México somada à brasileira. Não queremos disputar filmes com o Festival do Rio e com a Mostra de São Paulo”.
Ano passado, a CineBH criou a mostra Território, dedicada à competição de filmes de jovens realizadores latino-americanos (até segundo longa-metragem). E ampliou, ainda mais, o alcance do segmento dedicado aos negócios — o Brasil CineMundi.
Raquel apresentou, à imprensa, estatísticas do Encontro Internacional de Coprodução (Brasil CineMundi), criado para facilitar conexões entre novas produções e o mercado internacional por meio de parcerias, troca de informações e ações.
“Mobilizamos mais de 60 convidados vindos de 20 países latino-americanos e europeus. A eles foram apresentados projetos de filmes brasileiros de longa-metragem”. Todos em busca de conexões com o mercado internacional.
Catorze estados da federação brasileira enviaram 34 representantes aos diversos eventos do encontro mercadológico. Minas Gerais liderou o número de participantes (9), seguido pelo Rio de Janeiro (5), Bahia (4), São Paulo (3), Paraíba, Paraná e Pernambuco (2 cada), Acre, Alagoas, Ceará, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e DF (um representante cada).
Os 38 projetos selecionados pelo CineMundi participaram, além da rodada de negócios, de diversos seminários e receberam tutoramento de produtores de diversos países. Estes tutores analisaram minuciosamente as viabilidades de cada produção. Os selecionados se dividiram nas categorias Horizonte (10 projetos em desenvolvimento), DocBrasil Meeting (6), Foco Minas (7) e Paradiso Multiplica (10), além da categoria WIP Primeiro Corte (5), este com longas-metragens já em fase de montagem.
Raquel Hallak lembra que, ao longo da decima-oitava edição da CineBH, “foram realizados 376 encontros de coprodução, cinco consultorias especializadas, 28 laboratórios de desenvolvimento e 10 mentorias de roteiro”. E mais: “no Programa de Formação Audiovisual promovemos seis modalidades de cursos, incluindo três laboratórios de roteiro, duas oficinas e um workshop internacional que atendeu a 200 alunos”.
Outra iniciativa realizada durante o evento, o ciclo de debates “Transformações e Oportunidades no Audiovisual Brasileiro: Inovação, Inclusão e Conexões Globais” — abordou a evolução pela qual o setor audiovisual tem passado nos últimos anos. Em muitos dos encontros, falou-se da produção, que cresceu de forma significativa desde a revolução digital, mas enfrenta gargalhos na distribuição. 60 profissionais estiveram no centro de 15 atividades (rodas de conversa, painéis e workshop internacional).
O programa Cine-Expressão – A Escola Vai ao Cinema reuniu 2.307 crianças e adolescentes de 22 escolas de Belo Horizonte e Região Metropolitana. A iniciativa aproximou o universo cinematográfico de alunos e educadores da rede pública, e se destacou por sua curadoria elaborada para atender a estudantes de diferentes faixas etárias.
Raquel Hallak lembrou que “o cineasta Gabriel Martins (do festejado ‘Marte 1’, indicado pela Academia Brasileira de Cinema ao Oscar, dois anos atrás) iniciou sua trajetória no audiovisual ainda criança. Aos nove anos, ele começou a frequentar oficinas na Mostra de Cinema de Tiradentes”.
Para mostrar que não está brincando em serviço, a diretora da CineBH recorreu a novos e significativos dados: “nossos debates, sessões em salas convencionais e exibições na Praça da Liberdade registraram público de mais de 15 mil pessoas, alcançamos mais de 1,8 milhão de pessoas nas redes sociais e nossa plataforma foi acessada por mais de 75 mil pessoas oriundas de 49 países”.
“A cobertura jornalística” — agregou — “foi feita presencialmente por 42 veículos de imprensa de todo o Brasil, representados por 62 jornalistas, incluindo a revista uruguaia Latam Cinema. Mais de 250 veículos de comunicação fizeram a cobertura do evento”.
A Mostra Internacional de Cinema de BH se espalhou por 10 espaços da capital mineira e pela plataforma online da Universo Produção. Foram exibidos 110 filmes oriundos da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Panamá, República Dominicana, Uruguai e Brasil.
As projeções foram distribuídas em 75 sessões, a maioria em cinemas de rua e centros culturais. Raquel lembrou que Belo Horizonte contava, poucas décadas atrás, com 120 cinemas espalhados pelos mais diversos bairros (os chamados “cinemas de rua”). Hoje são apenas nove, a maioria localizada na região central, que se somam a menos de 30 salas instaladas em shopping centers.
No final do encontro com a imprensa, Raquel Hallak avisou que a Mostra de Cinema de Tiradentes realizará sua edição de número 28 (de 24 de janeiro a primeiro de fevereiro) sob novas coordenadas.
Por entender que as mostras Aurora e Olhos Livres estavam com perfil muito semelhante — dedicadas ambas a filmes de novos realizadores (até terceiro longa) e 100% inéditos — adotou-se nova configuração. Dessa edição em diante, a Aurora selecionará apenas primeiros filmes (seis no total). Ou seja, obras de diretor estreante. Já a Olhos Livres, cujo nome evoca a obra do cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012), escolherá sete títulos de realizadores com mais de dois longas no currículo. E haverá uma terceira mostra destinada à produção oriunda de cursos de cinema (técnicos ou universitários). A mostra Foco só selecionará curtas inéditos. As inscrições estão abertas até 23 de outubro.
Um novo prêmio virá se somar ao Troféu Helena Ignez (dedicado a destaque feminino): o Alma no Olho, nome do mais famoso curta do ator e cineasta Zózimo Bulbul (1937-2013). Ele será atribuído a filme (de qualquer segmento da Mostra tiradentina) que “traga olhares dissidentes de realizadores negros, indígenas ou periféricos”.