CineBH premia “Las Almas”, da Argentina, e “Rio das Lágrimas”, projeto juvenil de Alagoas

Foto: Premiados da mostra © Leo Lara/Universo Produção

Por Maria do Rosário Caetano, de Belo Horizonte (MG)

“Las Almas”, longa-metragem de estreia da argentina Laura Basombrío, foi o grande vencedor da competição latino-americana da CineBH (Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte). O filme foi o escolhido do júri oficial e também do júri da Crítica.

Mais dois dos oito filmes da competição internacional foram premiados — o uruguaio “Mala Reputación”, de Sol Infante e Marta García, ganhou o Troféu Horizonte pela “melhor presença”, no caso, a de sua protagonista, a esfuziante prostituta (ou melhor “trabalhadora do sexo”) Karina Nuñez, de 45 anos. Ao colombiano “Carropasajero”, de Juan Pablo Polanco e Cesar Alejandro Jaimes, coube prêmio destaque por sua fotografia “exuberante e poética”.

Na outra competição do festival mineiro — a Brasil CineMundi —, dedicada a filmes em processo de formatação, produção ou finalização, o grande vencedor foi o alagoano “O Rio de Lágrimas Corre no Vale do Amor”, do jovem Ulisses Arthur. A escolha rendeu ao projeto os prêmios Mistika, NayMovie, O2 Pós, Paraty Films e DOT. Ou seja, vários serviços capazes de garantir etapas essenciais de sua finalização.

Se, na competição de ficções e documentários latino-americanos, há rigorosa economia de troféus (apenas quatro para oito longas-metragens), no Brasil CineMundi, quinze dos 38 filmes em processo de criação e produção foram laureados. Alguns deles terão, agora, o direito de participar de laboratórios de aperfeiçoamento de roteiro na Espanha, Canadá, Argentina, Cuba, Colômbia e Alemanha.

Entre os premiados do segmento CineMundi estão muitos estreantes no longa-metragem. Estão, também, profissionais já reconhecidos por seus primeiros filmes. Caso do acriano Sérgio de Carvalho, escolhido para aperfeiçoar “A Estirada”, seu segundo longa ficcional, na Espanha. Seu primeiro longa (“Noites Alienígenas”) venceu o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado.

“Zumbido”, da carioca Karen Akerman, recebeu dupla premiação — Nuevas Miradas, de Cuba, e World Cinema Fund, da Alemanha. Também duplamente premiado foram o baiano “Até o Amanhecer”, de Laura Carvalho (Prêmio Burning, da Colômbia, e Ventana Sur, da Argentina) e o carioca “O Rio Diante da Curva”, de Renan Barbosa Brandão. Este filme, que se propõe como documentário híbrido, pretende reviver tragédia de Volta Redonda, ocorrida em 1988, durante greve operária. O Exército invadiu o local e matou três metalúrgicos. A intenção do diretor é trazê-los, aos mortos, de volta à vida. Passados 35 anos, eles revisitarão a poluída cidade fluminense.

O ator paulistano Francisco Miguez, do elenco de “As Melhores Coisas do Mundo”(Laís Bodanzky, 2010), recebeu o Prêmio Fidba (Festival de Documentários de Buenos Aires-Argentina) para seu projeto de primeiro longa documental – “Na Passagem do Trópico”.

A experiente documentarista carioca Beth Formaggini foi premiada por “Lira”, que codirige com Maria Lira Marques, com o Prêmio O2 Pós. Já o mineiro João Dumans, codiretor do premiado “Arábia”, fez jus, por “Notas Sobre o Distrito de Miguel Burnier”, ao prêmio The End Pós (ver abaixo lista completa).

Foto: Premiados do Brasil CineMundi © Leo Lara/Universo Produção

O júri oficial da competição Território (América Latina), composto com a atriz Bárbara Colen, os cineastas Ariel Kuaray e Everlane Moraes, a produtora chilena Rebeca Gutierrez e o cubano Pedro Ortega, justificou a escolha do longa argentino “Las Almas”: “o filme promove escuta consciente do território retratado, respeita o ritmo do espaço filmado e oferece um ponto de vista claro de direção, em coerência com a fotografia e o design sonoro”.

Em sintéticos 78 minutos, Laura Basombrío registra o testemunho de sua protagonista, Estela Quipe, mulher de origem indígena que vive em povoado perdido no norte da Argentina (divisa com o Chile), entre a dura realidade e seus sonhos-desejos. E cultiva, religiosamente, o dia dedicado a Las Almas (correspondente ao nosso Dia de Finados).

Por somar “o aspecto terreno ao onírico”, e abordar “a dor, a cura, os lutos, a violência de gênero e a resiliência”, a realização argentina sensibilizou aos dois júris. Que, porém, não se entusiasmaram com nenhum dos longas brasileiros presentes na competição — o ótimo “Ausência”, da mineira Ana Carolina Soares, e o confuso “Suraras”, realizado na Amazônia, por Bárbara Marcel. O documentário mineiro, fruto de mergulho observacional no dia-dia de escola pública belo-horizontina, merecia algum tipo de reconhecimento. Mas seus críticos o têm como longo demais (150 minutos). Seria realmente excessivo, se não tivesse muito a mostrar.

“O Rio de Lágrimas Corre no Vale do Amor”, vindo das Alagoas e escolhido pelo júri do Brasil CineMundi, é, por enquanto, apenas um roteiro que encantou o júri (composto pelo mineiro Thiago Macedo Corrêa e convidados internacionais). Se depender do alagoano Ulisses Arthur, seu roteirista e futuro diretor, o longa contribuirá com o propósito de cura da crônica falta de filmes brasileiros destinados a jovens plateias. “’Rio das Lágrimas…’ vai compor retratos vivos da juventude nordestina, esquecida nas pequenas cidades”, prometeu ele.

Ulisses somará pequenas vidas, representadas pelas personagens Antoniel, Liziane e Sâmara. Os três são estudantes do último ano do colegial e estão imersos nos preparativos para o vestibular. A melancolia desse momento de passagem se faz presente nas perdas anunciadas. Uma delas: terão que deixar a banda-fanfarra, na qual atuam como dançarinos. E, no plano afetivo, os três experimentam as aflições trazidas pelo primeiro amor. Antoniel urde estratégias para namorar Romário no banheiro da escola. Sâmara, rainha da banda, tem dificuldade de lidar com os ciúmes de Higuinho. Liziane quer tomar a coroa de Sâmara e tornar-se a nova rainha, mas precisa lidar com a crescente distância de seu namorado, Alcimar. Ele não vê mais sentido na vida escolar e prefere cair no mundo atrás de outras vivências e grana.

Confira os vencedores:

MOSTRA TERRITÓRIO

. “Las Almas”, de Laura Basombrío (Argentina) – melhor filme (Júri Oficial e Prêmio da Crítica-Abraccine)
. “Carropasajero”, de Juan Pablo Polanco e Cesar Alejandro Jaimes (Colômbia) – destaque do Júri por sua fotografia
. “Mala Reputación”, de Sol Infante e Marta García  (Uruguai) – melhor presença  (à personagem Karina Nuñes)

BRASIL CINEMUNDI

Projetos em desenvolvimento – Prêmio Horizonte

. “O Rio de Lágrimas Corre no Vale do Amor”, de Ulisses Arthur (Alagoas) – Prêmios Mistika, NayMovie, O2 Pós, Paraty Films e DOT
. “Enseada”, de Sara Pinheiro e Pablo Lamar (MG) – menção honrosa

DocBrasil Meeting

. “O Rio Diante da Curva”, de Renan Barbosa Brandão (RJ) – Prêmios DOT, NayMovie + Prêmio Conecta/Chile

Foco Minas

. “Desejo é o Nome do Homem que Eu Amo”, de Lea Monteiro (MG) – Prêmio Naymovie

Paradiso Multiplica

. “Vestígios”, de  Milena Times (Pernambuco) – Prêmio Anavilhana

Projetos Wip (Working in Progress) – Primeiro Corte

.  “Sangue do meu Sangue”, de Rafaela Camelo (DF) – Prêmio Mistika
. “Lira”, de Beth Formaggini e Maria Lira Marques (RJ) – Prêmio O2 Pós
. “Notas Sobre o Distrito de Miguel Burnier”, de João Dumans (MG) – Prêmio The End Pós

Cooperação e Intercâmbio

. “Até o Amanhecer”, de Laura Carvalho (Bahia) – Prêmio Burning – Colômbia + Prêmio Ventana Sur
. “Cartas para um Futuro Esquecido”, de Pablo Francischelli e Takumã Kuikuro (RJ) – Prêmio DOCSP/Brasil
. “Pretos Novos do Valongo”, de Laís Dantas e Mônica Sanchez – Prêmio Centro de Estudos DOCSP/Brasil
. “Na Passagem do Trópico”, de Francisco Miguez – Prêmio Fidba (Festival de Documentários de Buenos Aires- Argentina)
. “A Estirada”, de Sérgio de Carvalho (Acre) – Prêmio Maff (Festival de Cinema de Málaga) – Espanha
. “Zumbido”, de Karen Akerman (RJ) – Prêmio Nuevas Miradas/Cuba + Prêmio World Cinema Fund – Alemanha
. “O Lugar da Falta”, de Mariana de Melo (MG) — Prêmio RIDM – DocLab Montreal-Canadá

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