Novo site-livro de Carlos Alberto Mattos investiga a relação entre cinema e trabalho
A cena fundadora do cinema está fazendo 130 anos. Foi em 19 de março de 1895 que Louis Lumière filmou a primeiríssima versão de “La Sortie de l’Usine Lumière à Lyon” (foto). Um remake foi feito em maio e finalmente exibido ao público em dezembro do mesmo ano. Na imagem inaugural do cinematógrafo, as portas da Usina Lumière se abriam, e os operários e operárias se dispersavam na rua em frente. A vida, enfim, podia ser reproduzida em movimento e exibida para uma plateia coletiva.
Desde então, o cinema nunca deixou de cultivar a imagem de pessoas deixando o seu local de trabalho. Primeiro, como variações do filme dos Lumière em várias partes do mundo. Em seguida, como indício das condições de trabalho nos primeiros grandes dramas sociais. “A Greve”, de Serguei Eisenstein, “Metrópolis”, de Fritz Lang, “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, e o documentário “Coal Face”, de Alberto Cavalcanti, são exemplos clássicos.
Em textos e cenas selecionadas de filmes (em movimento), “Fim de Turno: Saídas de Fábrica no Cinema – de Lumière a Loach” aborda as relações entre cinema e trabalho a partir das saídas de fábrica, de minas e de outros locais laborais em 13 décadas de cinema, chegando até as novas configurações do trabalho online. Os títulos de alguns capítulos indicam o escopo da pesquisa: “Fábrica e vida privada”, “A fábrica como algoz”, “Fábrica e prisão: afinidades”, “Portões da convivialidade”, “Saída para a luta”, “Máquinas paradas”, “Palco de transformações sociais e políticas”, “Reinvenções e experimentações”.
Sempre através das cenas de saída dos trabalhadores, o site-livro, de Carlos Alberto Mattos, analisa aspectos do cinema industrial (propaganda, institucionais etc.), do cinema dramático narrativo, do cinema militante e do cinema experimental. Sem deixar de lado o fetiche alimentado pelo Instituo Lumière, em Lyon, com suas “saídas de fábrica” encenadas a cada ano.
O amplo espectro de filmes abrangidos inclui obras de Ken Loach, Lars von Trier, Carlos Reichenbach, Harun Farocki, Michael Moore, Jean-Marie Straub, Helena Solberg, Luís Sérgio Person, Jia Zhang-ke, Humberto Mauro, René Clair, Andrzej Wajda, Peter Tcherkassky, Leon Hirszman, Michelangelo Antonioni, Renato Tapajós, Silvino Santos e muitos outros.
A obra tem acesso livre e gratuito no endereço www.fimdeturno.com.
O autor Carlos Alberto Mattos vai conversar online sobre esse trabalho com a jornalista Regina Zappa, na TV 247, no dia 19 de março, às 14h. A entrevista pode ser acompanhada em https://shorturl.at/1Rd3q.