“Yõg Atak: meu Pai, Kaiová” mostra como ditadura separou famílias indígenas

Está em cartaz, nos cinemas brasileiros, o documentário “Yõg Atak: meu Pai, Kaiová”, filme indígena que retrata uma história de separação forçada durante a ditadura militar. Com direção assinada por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna, o filme mostra a busca da diretora Sueli e sua irmã Maiza pelo pai, Luiz Kaiowá, de quem foram separadas ainda na infância pelos efeitos das políticas do regime militar.

Luiz Kaiowá, indígena guarani kaiowá, foi removido à força de seu território, no sul do Mato Grosso do Sul, no início dos anos 1960, por agentes do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Após uma travessia que passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, foi levado ao Posto Indígena Mariano de Oliveira, em Minas Gerais, onde viveu por mais de 15 anos entre os Tikmũ’ũn (Maxakali). Casou-se, teve duas filhas e, pouco depois do nascimento de Sueli, sofreu um novo deslocamento forçado e foi obrigado, por agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a permanecer em seu território de origem, o que cortou seu vínculo com a família.

Sueli e Isael Maxakali, artistas do cinema indígena contemporâneo, vêm construindo uma linguagem própria, com filmes como “Yãmĩyhex: as Mulheres-Espírito” e “Nũhũ yãg mũ yõg hãm: essa Terra é Nossa!”. Em 2016, a dupla fez sua primeira incursão pelas memórias da violência vivida pelos povos indígenas durante a ditadura com o documentário “GRIN – Guarda Rural Indígena”,  dirigido por Isael Maxakali e Roney Freitas. No novo filme, eles dividem a direção com Luisa Lanna, montadora e professora experiente na formação audiovisual em territórios indígenas, e de Roberto Romero, antropólogo e documentarista.

As filmagens foram realizadas tanto na Aldeia-Escola-Floresta, retomada em 2021 por cem famílias maxakali, em Minas Gerais, quanto nas Terras Indígenas Panambi-Lagoa Rica, Panambizinho e Laranjeira Ñanderu, do povo Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul – dois territórios ainda hoje marcados pelas graves violações de direitos humanos que sofreram no período militar. Essas violências, que incluem o esbulho de terras e remoções forçadas, vieram à luz em 2014, quando foi publicado o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou os casos Maxakali e Guarani Kaiowá, entre outros povos.

Lançado em um momento em que as reivindicações indígenas por memória, verdade e justiça voltam a ganhar corpo, o documentário apresenta essas narrativas do passado por meio de longos planos fixos, gestos íntimos e câmeras que acompanham o movimento dos corpos e das falas.

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