Homens e máquinas

Com maior ou menor intensidade, os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial nunca deixam de estar em evidência. O que é perfeitamente compreensível, dada à quantidade de histórias extraordinárias – verdadeiras ou ficcionais – que o conflito provocou e/ou inspirou. Depois de “Caçadores de Obras-Primas”, “Uma Grande Viagem” e “Invencível”, todos baseados em acontecimentos verídicos, chega agora aos cinemas mais um empolgante drama ambientado na Segunda Guerra: “Corações de Ferro”. Este, totalmente ficcional.

Trata-se de uma história de homens e máquinas. Mais que contrapor norte-americanos e alemães, o “bem” contra o “mal’, aliados e nazistas, o filme propõe uma batalha tecnológica entre os tanques americanos Sherman e os famosos Panzer alemães. Como sempre acontece neste tipo de drama-épico-heroico-militar-publicitário, os americanos estão sempre em desvantagem bélica e numérica, mas são mais heroicos, mais dedicados, mais patriotas, e tudo aquilo que você já se acostumou a ver em filmes feitos para alardear e avalizar o domínio ianque sobre o resto do mundo.

Porém, “Corações de Ferro”, felizmente, não se limita a esta leitura superficial da guerra como metáfora de uma suposta supremacia sóciopolítica. O roteirista e diretor David Ayer propõe também um envolvente conflito humano entre os componentes do solitário tanque americano, desenvolvendo seus personagens com precisão, criando boas tramas paralelas e, acima de tudo, demonstrando talento ao utilizar o tanque de guerra como elemento de cruel opressão não apenas ao inimigo como também a quem o comanda, devido à exasperante sensação de claustrofobia que proporciona. Não na mesma intensidade que Wolf-gang Petersen conseguiu fazer com seu submarino em “O Barco – Inferno no Mar”, mas também com muita eficiência.

Ayer já havia demonstrado habilidade cinematográfica em seus trabalhos anteriores, como “Tempos de Violência”, com Christian Bale, e “Marcados para Morrer”, com Jake Gylenhaal. Lembrando ainda que ele roteirizou o ótimo “Dia de Treinamento”, com Denzel Washington e Ethan Hawke. Agora, em “Corações de Ferro”, o roteirista/diretor opta por um grau maior de estilização visual, através de uma estética fotográfica, assinada pelo russo Roman Vasyanov, de cores e texturas que remontam aos filmes pós-apocalípticos estilo “Mad Max”. Tudo bem que os rastros luminosos deixados pelas balas ficaram um pouco “sabre de luz” demais, mas quem falou que o cinema tem a obrigação de ser realista? Vale pela dramaticidade obtida pelo efeito.

A trilha sonora do inglês Steven Price, o mesmo de “Gravidade”, utiliza alguns belos cantos de coral, proporcionando a determinadas cenas de “Corações de Ferro” um efeito assustador de filmes de terror. O que não deixa de ser coerente, em função do próprio horror contido em toda e qualquer guerra. Como resultado, o filme obtém grandes doses de dramaticidade e autenticidade nas cenas de ação, sem descuidar do desenvolvimento dos pequenos dramas pessoais necessários para a tão desejada empatia entre personagens e plateia. Empatia facilitada por um excelente trabalho de atores onde Brad Pitt desponta como protagonista, mas sem jamais eclipsar um ótimo time de coadjuvantes encabeçado por Shia La Beouf.

“Corações de Ferro” foi premiado com o troféu de Melhor Montagem no Hollywood Film Awards.

Corações de Ferro | Fury
EUA, Reino Unido, China, 2014
Direção: David Ayer
Distribuição: Sony Pictures
Estreia: 5 de fevereiro

 

Por Celso Sabadin

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