CineBH transforma capital mineira em vitrine do melhor cinema jovem da América Latina

Foto: “Dois Sertões”, de Caio Resende e Fabiana Leite

Por Maria do Rosário Caetano

A CineBH (Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte) – maior festival do país dedicado ao cinema latino-americano – dá início à sua décima-oitava edição nessa terça-feira, 24 de setembro, e entrega troféus aos premiados seis dias depois.

Até 29 de setembro, a capital mineira vai falar espanhol, português e portuñol, assistir a 110 filmes, sendo 60 longas-metragens, vindos – para somar-se à produção brasileira – da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Panamá, República Dominicana e Uruguai.

Serão homenageados, com seus melhores títulos, a brasileira Anna Muylaert, convidada da noite inaugural (com o provocador e desconcertante “O Clube das Mulheres de Negócios”) e o multiartista chileno-mexicano-cidadão-do-mundo Alejandro Jodorowsky, quase centenário. Dele serão exibidos os filmes “Fando e Lis”, “El Topo” e “A Montanha Sagrada”.

Cinquenta curtas-metragens vão complementar a programação. Alguns deles (entre os brasileiros) foram premiados em outros festivais, caso do pernambucano “Hoje Eu Só Volto Amanhã”, delirante animação ambientada no carnaval de Olinda (Cine PE), “Samuel Foi Trabalhar”, dos alagoanos Jander Felipe e Lucas Litrento (Fest Vitória-ES) e de “Eu Fui Assistente de Eduardo Coutinho”, do carioca Allan Ribeiro (Mostra Tiradentes).

Há, também, filme (”A Última Valsa”) de série que vem sendo realizada pelo quase nonagenário Jean-Claude Bernardet, em parceria com Fábio Rogério, animações encantadoras como “Pororoca”, de dupla vinda de Juiz de Fora, e o antenado “Quinze Quase Dezesseis”, da paulistana Thais Fujinaga.

A recém-criada Mostra Vertente permitirá aos belo-horizontinos e aos convidados do festival assistir à pré-estreia de “O Dia que te Conheci”, do mineiro (de Contagem) André Novais Oliveira, cuja estreia nacional acontece nessa quinta-feira, 26 de setembro. A ele somar-se-ão três produções apresentadas na midiática vitrine do Festival de Gramado – o vigoroso, às vezes melancólico, “Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi (Troféu Kikito de melhor filme, conquista histórica do cinema goiano), “Pasárgada”, estreia da atriz Dira Paes na direção, e “Barba Ensopada de Sangue”, do baiano-paranaense Aly Muritiba. Uma parceria com o escritor Daniel Galera, cuja obra vem seduzindo muitos cineastas.

A CineBH se constrói como maratona vocacionada a enlouquecer cinéfilos. Em seis compactos dias – e com entrada franca – apresenta 75 sessões, espalhadas por uma dezena de salas e distribuídas em diversas mostras temáticas. As principais são a Continente (para jovens diretores) e a Território, ambas compostas com filmes brasileiros e hispano-americanos, e a de Curtas-Metragens.

Sete são as mostras complementares (ou informativas) – Homenagem (Anna Muylaert), Diálogos Históricos, A Cidade em Movimento, Vertentes, Cinema na Praça, CineMundi, Mostrinha e Cine Escola (para o público Infanto-Juvenil) e IC Play (o streaming do Itaú Cultural, que exibirá, para todo território brasileiro, diversos filmes).

Filme chileno “Sariri”, de Laura Donoso

Os mineiros têm imensa estima por todas as salas escaladas para apresentar os filmes da competição e das mostras informativas – o histórico Cine Theatro Brasil (Grande Teatro e Teatro de Câmara), a Fundação Clóvis Salgado (Cine Humberto Mauro, Sala João Ceschiatti, Sala Juvenal Dias, Jardim Interno e Jardim do Parque), o Centro Cultural Minas Tênis Clube, o Una Cine Belas Artes, o Cine Santa Tereza, o Teatro Sesiminas, o Cine Cardume Rodoviária e a Casa da Mostra.

Deixamos o décimo espaço para o final, embora ele merecesse ser o primeiro, por ser o mais belo e atraente – o Cine Praça. É lá, com o Palácio da Liberdade ao fundo, que imenso telão serve de vitrine a filmes de apelo popular.

Ano passado, a sessão de “Lô Borges – Toda essa Água”, de Rodrigo Oliveira e Vânia Catani, resultou inesquecível. Todas as cadeiras estavam lotadas. E depois da exibição, houve debate com o mais jovem integrante do mineiríssimo Clube da Esquina, Salomão Borges, hilário e distraído belo-horizontino, que nem se lembra do nome registrado em sua carteira de identidade. Salomão transmutou-se, de tal forma, em Lô, que ele, aos 72 anos, segue pela vida, como se fosse um menino. Um menino-comédia e de bem com seu existir.

E o Cine Praça da Liberdade vai ter mais Lô em sua tela gigante, esse ano. Ele é uma das estrelas de “Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina”, de Ana Rieper. Vai, com certeza, arrancar novas risadas, como, prazerosamente, fez no próprio filme. Vai contar suas histórias com ingredientes meio nonsense.

E tem mais filmusical brasileiro na Praça – “Luiz Melodia – No Coração do Brasil”, de Alessandra Dorgan, muito bom, e o delicioso “Durval Discos”, longa de estreia de Anna Muylaert, em cópia restaurada. Que filme surpreendente este, realizado há mais de duas décadas! Quem há de resistir ao “Besta É Tu”, dos Novos Baianos, com o elenco principal embarcado em uma charrete que trafega por grande avenida paulistana?

Para completar, será exibida a animação “Teca e Tuti – Uma Noite na Biblioteca”, de Eduardo Perdido, Tiago MAL e Diego M. Doimo. Os festivais da Universo Produção (CineBH, Mostra Tiradentes e CineOP) mantêm fina sintonia com a produção animada brasileira. E Minas Gerais, graças à Escola de Belas Artes da UFMG, vem transformando-se em importante centro de produção no gênero.

A CineBH, além de construir-se como plataforma para exibição e discussão do cinema latino-americano, promove, há 15 anos, o Brasil CineMundi. Trata-se de evento dedicado ao fomento de novos projetos fílmicos dos países do subcontinente. Ou seja, um encontro de produtores, vindos de muitas geografias, para discutir a formatação de cada projeto selecionado e facilitar a conquista de aportes financeiros capazes de viabilizá-los.

O International Coproduction Meeting (Brasil CineMundi), além de cuidar de projetos em gestação, apresentará mostra de produções finalizadas nesses seus primeiros 15 anos de existência, exibidas em importantes festivais e (até) premiados.

Um detalhe une os escolhidos: todos, claro, passaram pelo ambiente de mercado da CineBH. O festival mineiro escolheu os filmes que mais repercutiram depois de analisados pelo “maior programa de coprodução do audiovisual brasileiro”. Alguns deles terão exibição em formato online, na plataforma do evento, e também presencialmente, em sala de cinema da capital mineira.

O título mais badalado, é claro, vem de Pernambuco – “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Coprodução Brasil-França, o filme foi visto por 900 mil espectadores e premiado em Cannes. Premiadíssimo, também, foi o baiano “Saudade Fez Morada Aqui Dentro”, de Haroldo Borges. A tocante história do menino Bruno, que perde a visão aos 15 anos, iniciou sua trajetória de papa-prêmios em Mar del Plata. Conquistou o cobiçado Troféu Astor (Piazzola) de melhor filme (antes atribuído a apenas dois brasileiros – “Macunaíma”, de Joaquim Pedro, e “Separações”, de Domingos de Oliveira). O “Piazzolão” se fez seguir de uma dezena de troféus em diversos festivais brasileiros.

Curta-metragem “Quinze Quase Dezesseis”, de Thais Fujinaga

A Universo Produção tem o mérito de ter sido o primeiro festival brasileiro a celebrar o coletivo gaúcho Mbyá Guarani, de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul. Teve, também, “A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega (em parceria com Ernesto de Carvalho) entre os projetos analisados no Brasil CineMundi. O filme triunfou na segunda mais importante mostra competitiva do IDFA, o poderoso Festival Internacional de Documentários de Amsterdã.

O paulistano “Levante”, de Lillah Halla, o carioca “Benzinho”, de Gustavo Pizzi, o mineiro “Elon Não Acredita na Morte”, de Ricardo Alves Jr, o gaúcho “Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, e o pernambucano “Amor, Plástico e Barulho”, de Renata Pinheiro, também foram festejados em festivais internacionais ou nacionais.

Veja abaixo os filmes da maratona que agitará a primavera belorizontina e (alguns deles) as plataformas da CineBH e do IC Play:

MOSTRA TERRITÓRIO

“Suraras”, de Barbara Marcel (Brasil/Alemanha)
“Ausente”, de Ana Carolina Soares (Brasil)
“Las Almas”, de Laura Basombrío (Argentina)
“Sariri”, de Laura Donoso (Chile)
“Posesión Suprema”, de Lucas Silva (Colômbia)
“Mala Reputación”, de Marta Garcia, Sol Infante Zamudio (Uruguai-Argentina)
“Carropasajero”, de Juan Pablo Polanco Carranza, Cesar Alejandro Jaimes Léo (Colômbia)
“Bila Burba”, de Duiren Wagua (Panamá)

MOSTRA CONTINENTE

“Nada”, de Adriano Guimarães (Brasil, inédito)
“Maestra”, de Bruna Piantino (Brasil, inédito)
“Maldita Eva”, de Pablo Spatola (Argentina, inédito)
“Pibas Superpoderosas”, de Leonora Kievsky (Argentina, inédito)
“Altamar”, de Ernesto Jara Vargas (Costa Rica, inédito)
“La Mujer Salvaje”, de Alán González (Cuba)
“Ramona”, de Victoria Linares Villegas (República Dominicana)
“Idade da Pedra”, de Renan Rovida (Brasil)
“Praia Formosa”, de Julia De Simone (Brasil e Portugal)
“Pepe”, de Nelson Carlos de los Santos Arias (República Dominicana/Namíbia/ Colômbia)
“Rio Vermelho”, de Guillermo Quintero (Colômbia)
“Dois Sertões”, de Caio Resende e Fabiana Leite (Brasil)

CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS

“Pororoca”, de Fernanda Roque e Francisco Franco (MG)
“Mar Pedra Rio”, de Mariah Benaglia (MG)
“À Noite Todos os Gatos São Pardos”, Matheus Rocha (MG)
“Soneca e Jupa”, de Rodrigo R. Mendes (MG)
“A Última Valsa”, Fábio Rogério e J.C. Bernardet (SP)
“Quinze Quase Dezesseis”, de Thais Fujinaga (SP)
“Roberto Baggio”, de Henrique Cartaxo (SP)
“Habitar”, de Antonio Fargoni (SP)
“Aquela Mulher”, de Mariana Erlanger e Cristina Lago (RJ)
“Eu Fui Assistente de Eduardo Coutinho”, Allan Ribeiro (RJ)
“Galega”, de Anna Lu Machado e Noan Arouche (PE-RJ)
“Hoje Eu Só Volto Amanhã”, de Diego Lacerda e trupe (PE)
“Segunda-Feira, Então”, de Júlio Pereira (PE)
“Junho de 2002”, de Tainá Lima (PB)
“Ri, Bola”, de Diego Bauer (AM)
“Sangria”, de Rudyeri Ribeiro (PA)
“Samuel Foi Trabalhar”, Jander Felipe e Lucas Litrento (AL)

MOSTRA VERTENTES

“O Dia que te Conheci”, de André Novais Oliveira (MG)
“Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi (GO).
“Pasárgada”, de Dira Paes (RJ-SP)
“Barba Ensopada de Sangue”, de Aly Muritiba (SP)

MOSTRA HOMENAGEM

“O Clube das Mulheres de Negócios” (2024) – filme inaugural
“Alvorada” (2022), parceria com Lô Politi
“Mãe Só Há Uma” (2016)
“Que Horas Ela Volta?” (2015)
“Durval Discos” (2002)

MOSTRA PRAÇA

“Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina”, de Ana Rieper
“Luiz Melodia – No Coração do Brasil”, de Alessandra Dorgan
“Durval Discos”, de Anna Muylaert (cópia restaurada)
“Teca e Tuti – Uma Noite na Biblioteca”, de Eduardo Perdido,Tiago MAL e Diego M. Doimo (animação)

MOSTRA CINEMUNDI

“A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho (2024, PE-SP-RS)
“Saudade Fez Morada Aqui Dentro”, de Haroldo Borges (2024, BA).
“Levante”, de Lillah Halla (2024, RJ-SP)
“Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (2019, Brasil-França)
“Benzinho”, de Gustavo Pizzi (2018, RJ)
“Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher (2018, RS)
“Elon Não Acredita na Morte”, de Ricardo Alves Jr. (2016, MG)
“Amor, Plástico e Barulho”, de Renata Pinheiro (2013, PE)

MOSTRA DIÁLOGOS HISTÓRICOS

“Fando e Lis” (1967)
“El Topo” (1970)
“A Montanha Sagrada” (1973)

MOSTRA A CIDADE EM MOVIMENTO

“Presença: Maternidade Solo e Políticas de Cuidado”, com Dera
“Corpo-território: Lugar de Memória e Resistência”, com Robert Frank
“Existências Trans e Não-Bináries: Amor, Deboche e Futurismo”, com Túlio Colombo
“Arte e Desejo: Corpos em Criação”, com Henrique Limadre
“Entre(laços) e Gerações”, com Cristina Tolentino

MOSTRINHA E CINE ESCOLA

“Teca e Tuti – Uma Noite na Biblioteca”, de Eduardo Perdido,Tiago MAL e Diego M. Doimo
“Brichos 3: Megavírus”, de Paulo Munhoz

Sessões Cine-Escola (para estudantes e educadores em dez sessões compostas com produções brasileiras de longas e curtas, programados por faixas etárias (5 a 7 anos, 8 a 10 anos, 11 a 13 anos e a partir de 14 anos). As sessões são destinadas às escolas inscritas previamente pelo site cinebh.com.br.

 

18ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte e 15º Brasil CineMundi
Data: 24 a 29 de setembro
Entrada franca em dez salas da capital mineira e programação on-line nas plataformas do evento cinebh.com.br e IC Play
Na plataforma da mostra: a seleção inclui títulos da Mostra CineMundi, da Mostra A Cidade em Movimento e Mostra Homenagem, com visualização simultânea à realização da programação presencial
Na plataforma IC Play: os filmes serão exibidos gratuitamente de 25 de setembro a 9 de outubro, no site: https://www.itauculturalplay.com.br

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