O mais disputado festival de cinema brasileiro

Paulínia é soberana no 4º Paulínia Festival de Cinema. Dentro da competição de longas de ficção, dos seis filmes selecionados, quatro foram filmados dentro do Polo Cinematográfico da cidade: “Meu País”, de André Ristum, “Onde está a Felicidade?”, de Carlos Alberto Riccelli, “O Palhaço”, de Selton Mello,  e “Trabalhar Cansa”, de Juliana Rojas e Marco Dutra – além, claro, do filme de abertura, “Corações Sujos”, de Vicente Amorim, que preferiu não se inscrever na competição. Os filmes que completam a lista são o paulista “Os 3”, de Nando Olival”, e o pernambucano “A Febre de Rato”, de Cláudio Assis.

“Somos muito plurais em nossa seleção. Qualquer festival brasileiro queria ter ‘Meu País’, por exemplo. Muitos dos filmes que estão aqui, que privilegiamos pelo ineditismo, irão para outros festivais. Não houve preferência pelos filmes locais, acontece que muitos filmes brasileiros são produzidos aqui”, aponta o Secretário de Cultura Emerson Alves. Os filmes disputam o maior prêmio do cinema nacional, no valor total de R$ 800 mil, sendo que o prêmio de melhor filme teve significativo aumento de valores: ficção subiu de R$ 100 mil para R$ 250 mil, e documentário foi de R$ 50 mil para R$ 100 mil.

Novidade nesta edição, a ser mantida, é o aumento no número de curtas nacionais selecionados (de seis para 12) e a diminuição dos regionais (de seis para três) – totalizando 15 curtas (confira o box com todos os selecionados). O festival recebeu inscrições de 36 longas de ficção, 58 de documentários, 302 curtas nacionais e 34 regionais, totalizando 394 títulos.

Filmes em competição

A seleção dos filmes, feita pela nova diretora do festival, Fernanda Viacava, e pelos funcionários da Secretaria de Cultura – Rodrigo Pereira, Elisama Silva, Adriana de Almeida Machado, Bruno Vitelo, Cíntia Miranda, Ana Paula Silva e Paula Leite –, é bem pluralista em suas temáticas e estilos, ainda que tenha privilegiado as produções feitas pelo Polo. Com exceção de “Trabalhar Cansa”, todos os filmes são inéditos.

“Meu País”, estreia na direção de longas de André Ristum (responsável por curtas como “Homem Voa?”), e com produção da Gullane Filmes, narra um encontro de irmãos após a morte do pai. Rodado na Itália e no Brasil, “Meu País” conta com Marco Dutra, diretor de “Trabalhar Cansa”, no roteiro. No elenco, Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella e Anita Caprioli. O filme já tem distribuição garantida pela Imovision.

“Onde Está a Felicidade?” é o terceiro longa de Carlos Alberto Riccelli, mais famoso como ator. Com roteiro de sua esposa, Bruna Lombardi, que também estrela o filme, o longa conta a história de uma chef de cozinha que passa por crises e resolve embarcar numa jornada com rumos um tanto esotéricos. Abordando o mesmo universo temático, o longa difere do anterior, “O Signo da Cidade”, especialmente no gênero: desta vez, é comédia. Coproduzida pela Globo Filmes, já tem estreia garantida pela Fox e previsão para agosto.

“O Palhaço” é o segundo longa dirigido pelo também ator Selton Mello, que protagoniza a película. Nela, dois palhaços ganham as estradas do país em busca de algo mais em suas vidas. Produzido por Vânia Catani, da Bananeira Filmes, o longa traz ainda Paulo José no elenco. Em 2008, na primeira edição do festival, Mello saiu com o prêmio de direção por “Feliz Natal”. O filme deve chegar em outubro nos cinemas pela Imagem.

“Trabalhar Cansa”, estreia em longas da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra, foi exibido na Quinzena de Realizadores, em Cannes, neste ano, onde disputou o troféu Câmera d’Or. Produzido por Sara Silveira e Maria Ionescu, da Dezenove Som e Imagens, o filme traz Helena Albergaria, Marat Descartes e Naloana Lima no elenco. O título “Trabalhar Cansa” vem de um poema do italiano Cesare Pavese (“Lavorare Stanca”), uma das fontes de inspiração para o tom do filme, que versa sobre uma dona de casa que resolve abrir seu próprio negócio, um minimercado, e vê as relações familiares mudarem com a perda do emprego do pai.

“Os 3” é o primeiro longa solo dirigido por Nando Olival, premiado diretor de publicidade da O2 que estreou em longas com “Domésticas” (2001), codirigido por Fernando Meirelles. “Os 3” é uma produção da Cinema Sport Club, produtora que Nando abriu com o diretor de fotografia Ricardo Della Rosa. Trata-se de um filme juvenil, centrado em três jovens, inseparáveis na faculdade, que, com seu término, têm que se distanciar. A distribuição é da Warner.

“A Febre de Rato” é o terceiro longa de Cláudio Assis, pernambucano muito premiado por “Amarelo Manga” e “Baixio das Bestas”, que volta com um filme em preto-e-branco um tanto autobiográfico, sobre Zizo, um poeta anarquista que publica seu próprio tabloide. No elenco, o pernambucano Irandhir Santos e Matheus Nachtergaele. Paulínia, neste ano, conseguiu tirar Assis de seu tradicional reduto, o Festival de Brasília, onde venceu com seus dois filmes anteriores.

Entre os documentários, o destaque prévio é para os veteranos Vladimir Carvalho (diretor de “Conterrâneos Velho de Guerra”), com “Rock Brasília – Era de Ouro”, sobre a geração anos 80 do rock brasiliense, e Lúcia Murat (“Quase Dois Irmãos”), com “Uma Longa Viagem”, que retrata a troca de cartas de irmãos. Ronaldo German (de “Preto no Branco”) chega com “A Cidade Imã”, sobre a atração que o Rio de Janeiro exerce sobre estrangeiros. “À Margem do Xingu”, dirigido por Damià Puig Auge, é uma produção local, de Paulínia. Ainda figuram na lista “Ela Sonhou que Eu Morri”, de Matias Bracher Mariani, e “Ibitipoca, Droba Pra Lá”, de Felipe de Barros Scaldini.
Polo Cinematográfico

No momento, em julho de 2011, cinco produções estão passando pelo Polo Cinematográfico de Paulínia como cumprimento dos editais em que foram contemplados. Do edital de 2009, ainda resta um, “Entre Vales e Montanhas”, segundo longa de Philippe Barcinski, que chegou no final de junho. Do de 2010, um já foi filmado lá, “A Cadeira do Pai”, de Luciano Moura, e os outros nove já estão previstos para serem filmados ainda em 2011. Quatro deles estarão agora em julho: “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio, baseado na música de Renato Russo, “Somos Tão Jovens”, de Antônio Carlos Fontoura, sobre Renato Russo, “Os Inocentes”, de Rodrigo Bittencourt, uma paródia dos filmes de favela, e “O que se move”, estreia em longas do premiado Caetano Gotardo. “Cores”, de Francisco Garcia, e “Procura-se”, de Michel Tikhomiroff, chegam à cidade em agosto; “Vai Dar Certo”, em setembro; “Acorda Brasil”, de Sérgio Machado, e “Trinta”, de Paulo Machline, em novembro.

No edital de 2010, estava previsto a seleção de 25 filmes, em três diferentes linhas. Duas delas (para filmagens de 12 a 18 meses após o resultado e para depois de 18 a 24 meses) ainda não tiveram seus resultados divulgados. “Teve muito projeto inabilitado no edital. Como não queremos perder os projetos, vamos reabrir os prazos para as outras linhas, para todo mundo mandar os projetos de novo e podermos avaliar melhor. Recebemos 292 projetos”, conta o Secretário da Cultura de Paulínia, Emerson Alves. Durante o festival, ainda devem ser anunciados os 20 curtas selecionados em edital (cinco nacionais, 5 da grande Campinas e dez de Paulínia). “Na questão de filmagem, chegamos no limite. Tentar mais do que isso é exagerar na dose”, pontua Alves.

Infraestrutura – “Os investimentos acabaram. Colocamos todos os recursos que nos propusemos a aportar nesses últimos dois anos. Já estamos recebendo propostas, via Polo de Tecnologia e Sustentabilidade de Paulínia, para empresas interessadas em montar escritórios e incubadoras aqui no polo de cinema. O edital, que hoje é um dos mais importantes do país, se consolidou mesmo. Nossos cursos de formação estão recebendo cada vez mais gente. Nossa ideia é atrair mais pessoas para cá, produções e empresas. Aumentamos as oficinas, os cursos de dança e de outras áreas dentro do que precisamos desenvolver na área cultural”, avalia o Secretário da Cultura.

Paulínia tem apostado muito na formação técnica cultural de seus habitantes. Por não ter tradição no desenvolvimento cultural, a cidade petroleira tem promovido cursos diversos, de música e dança a cinema. Uma das áreas – talvez a mais promissora no Brasil em termos de audiovisual – é a animação: há uma escola apenas para isso. Neste ano, são 540 os inscritos para o curso, que tem poucas vagas. A grande vantagem para 2011 é que os alunos poderão usar diretamente a enorme estrutura construída para o Polo, o estúdio de animação, que por ora não terá nenhum filme do gênero. “Fizemos uma linha no edital de longas para animação, mas não conseguimos selecionar nenhum. A situação é muito parecida com a que aconteceu com os filmes de ficção sem técnicas de animação: primeiro vinham e ficavam dois, três dias; depois viram que podiam ficar mais e isso foi se consolidando. Com a animação é a mesma coisa. Ainda é uma decisão muito difícil para o produtor dizer: ‘vou transferir minha produção para Paulínia’. Isso considerando que o tempo de produção de animação é de dez a 12 meses. Por isso, estamos formando gente para o custo de produção em Paulínia ficar mais baixo. A nossa vantagem são os equipamentos, a mão de obra ainda tem que ser trazida para cá”, conclui Emerson Alves.

PROGRAMAÇÃO

Longas de ficção em competição

“A Febre de Rato”
(2011, 35mm)
Direção: Cláudio Assis
Elenco: Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele
Sinopse: “Febre do rato”, expressão popular típica do nordeste brasileiro, designa aquele que está fora de controle. É assim que Zizo, um poeta inconformado e anarquista, chama seu pequeno tabloide, publicado às próprias custas.

“Meu País”
(2011, 102 min, 35mm)
Direção: André Ristum
Elenco: Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella, Paulo José e Anita Caprioli
Sinopse: Após a morte repentina do pai, Marcos, que vive na Itália, volta ao Brasil e reencontra o irmão Tiago. Aqui, os dois descobrem que têm uma meia-irmã portadora de deficiência intelectual. Ao mesmo tempo em que têm de lidar com o luto, Marcos e Tiago precisam aprender a conviver com suas diferenças e a se acostumar com a nova irmã.

“Onde Está a Felicidade?”
(2011, 110 min, 35 mm)
Direção: Carlos Alberto Riccelli
Elenco: Bruna Lombardi, Bruno Garcia, Marcelo Airoldi, Marta Larralde e Maria Pujalte
Sinopse: A chef de cozinha Teodora está tendo crises no amor e na vida profissional que a levarão à Espanha para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela.

“O Palhaço”
(2011, 35 mm)
Direção: Selton Mello
Elenco: Selton Mello e Paulo José
Sinopse: Benjamim e Valdemar formam a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Benjamim é um palhaço sem identidade, CPF e comprovante de residência. Ele vive pelas estradas na companhia da trupe do Circo Esperança. Benjamim, no entanto, acha que aquela vida perdeu a graça e parte em uma aventura atrás de um sonho.

 

Por Gabriel Carneiro

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