O crescimento das finishing houses

Chegou o momento da proliferação das finishing houses, as casas de pós-produção. Só em 2011, três grandes empresas surgiram, com a promessa de lutar por uma fatia larga do mercado: a Quanta Post, braço dos Estúdios Quanta, empresa especializada em locações de equipamento e outros serviços; a O2, cuja pós funciona desde 2008, quando fez “Ensaio sobre a Cegueira”, e só agora está incrementada o suficiente para brigar pelo mercado – ainda que este seja ele mesmo –; e a Mistika Post, nova empresa de Marcelo Siqueira, responsável pela pós-produção da Teleimage/Casablanca, a maior e mais experiente empresa do ramo no Brasil, que permanece normalmente com suas atividades. As empresas Cinema e a Cinecolor do Brasil se uniram e também prometem uma grande surpresa ainda este ano nesta área, com a criação de uma nova empresa de pós-produção para o cinema e televisão.

O crescimento não é à toa. Com o aumento da produção audiovisual brasileira – seja em cinema, televisão, publicidade ou web – e a facilidade de acessos, o recurso se tornou imprescindível como forma de dar mais qualidade aos produtos gastando menos. “Os orçamentos estão cada vez mais enxutos e as grandes produções estão tendo que encontrar formas de viabilizar seus filmes. A pós-produção ajuda muito nesse sentido. Por outro lado, existe uma procura crescente dos diretores e do público por histórias cada vez mais fantásticas, experiências sensoriais, universos inexistentes, que só com a ajuda da pós é possível alcançar”, opina Tamis Lustre, coordenador de pós-produção da O2 Filmes, que atualmente tem uma capacidade para finalizar de 5 a 6 longas por ano, além de 300 comerciais, entre outros.

Para Marcelo Siqueira, ex-Teleimage, a área cresce apostando cada vez mais na experiência dos profissionais (ao invés das máquinas) e, principalmente, na especialização de cada parte do processo. “Existem, fora do Brasil, empresas que só fazem a intermediação digital, ou seja, finalizam o filme, outras voltadas para os efeitos, outras para a computação gráfica, outras para masterização e entregas. Dessa forma, cada um se especializa no que sabe fazer de melhor e cresce no seu mercado. Acho que o mercado está mudando. É necessário dar um bom atendimento e um atenção diferenciada, trabalho a trabalho”, pontua.

Diferentemente das outras empresas do ramo, a Quanta Post não está interessada no mercado publicitário – responsável, quase sempre, pelo grande volume de trabalho das finishing houses. Focado em “todo produto audiovisual de entretenimento”, a Quanta Post, desde a abertura em janeiro, já está trabalhando em seis longas metragens e vários curtas, entre eles, o longa “Reis e Ratos”, de Mauro Lima. “Achamos fundamental que o mercado audiovisual possa ter várias opções de empresas de finalização. Os preços estão caindo, pois acompanham os custos das novas tecnologias. Caso neste ano seja aprovada a PLC116, isso deverá provocar um aumento da produção local e, com certeza, haverá trabalho para todos os perfis de empresas”, aponta Paulo Barcellos, diretor de novos negócios da Quanta Post.

Pós-produção X criação artesanal

“O grande trunfo de uma grande pós-produção hoje não é mostrar um efeito extraordinário, mas sim ser o elemento invisível que transforma o mundo sem que você consiga diferenciar o real do virtual”, explica Tamis Lustre. Ou seja, a grande vantagem da pós, hoje em dia, num país como o Brasil, que não tem grandes tradições no gênero fantástico ou em filmes que demandam muitos efeitos especiais não realistas, é aproximar-se do mundo palpável. Isso a começar por efeitos mais simples, por assim dizer, como intervenções diretas em cenários, direção de arte e fotografia.

“São muitas as formas como a pós pode colaborar com a cenografia e a fotografia de um filme. É possível datar uma cena, filmar em uma locação atual e transformá-la em uma cidade de 50 anos atrás, como fizemos com “Chico Xavier” e em “Vips”, tirar ou adicionar elementos, recriar cenários, aumentar uma locação, estender uma prédio, apagar um defeito, modificar uma placa, e por aí vai. Com a luz, além de coisas mais diretas como a noite americana, aplicação de pôr-do-sol, algumas sombras e reflexos que podem ser adicionados, o colorista é um grande parceiro do fotógrafo. É na correção de cor que o fotógrafo consegue transformar em imagem real a cor que estava em sua cabeça na hora da filmagem”, enumera Tamis.

Para o processo ser vantajoso de verdade – economizando tempo e dinheiro – é imprescindível que a equipe de pós-produção já esteja no planejamento desde a pré, trabalhando alinhadamente com o diretor, o diretor de fotografia, o diretor de arte e o diretor de produção, entre outros. “O trabalho começa desde o roteiro até a filmagem, ajudando a planejar a finalização do filme, indicando quais cenas serão feitas nela, quais precisarão ser filmadas, e assim por diante. Esse acompanhamento visa a reduzir os custos de filmagem e melhorar a qualidade visual da produção”, explica Paulo Barcellos. “Nós trabalhamos em conjunto com o diretor de fotografia e diretor de arte. Hoje em dia, podem-se construir cenários, personagens, remover itens indesejados (cabos, microfone, trilhos, equipamentos), reforçar efeitos filmados, como chuva, tiros, sangue, etc. Uma das técnicas mais usadas atualmente é a de ‘set enlargement’, em que partimos de um cenário real e o ampliamos virtualmente. Itens como remoção de fios e postes de rua podem ser mais baratos de serem removidos virtualmente do que fisicamente”, complementa.

“Outra facilidade da pós para a fotografia é o equilíbrio entre as cenas. De repente, o tempo virou e o sol, que era forte, já não existe mais e a produção não pode parar. Ou o diretor rodou num dialogo todos os planos com um ator e, na hora de fazer os contra planos, a luz não era mais a mesma. Em pós-produção, muitos problemas como esse podem ser facilmente resolvidos”, comenta Marcelo Siqueira, diretor técnico e supervisor de efeitos visuais e pós-produção da Mistika. Siqueira conta que já teve caso em que trabalhou com um diretor de fotografia que, por uma questão de orçamento, abriu mão de um jogo de lentes que era fantástico, por um jogo ótimo, que custaria metade do preço, mas na condição de poder finalizar o filme em 2k, o que lhe daria uma série de recursos que o ajudariam muito.

Ainda assim, aponta-se que a pós-produção, apesar de ajudar muito e de ter diversas vantagens, não vale ser feita sem motivos. Se for melhor construir fisicamente cenários e afins, esta é a solução a ser tomada. “Depende muito do cenário: se você tem que criar o interior de uma casa, acho que é mais barato levantá-lo fisicamente; por outro lado, criar uma cidade de época. ou mesmo grandes prédios, certamente é mais barato fazê-lo em pós”, pontua Siqueira.

Quem tem usado o serviço

Todo mundo passa por um processo de pós-produção. Fato batido, afinal, edição, créditos, inserção de trilha musical, etc., tudo isso faz parte da pós-produção. “Todo filme tem pós, mas antigamente era somente com processos ópticos, e agora se faz digitalmente. Durante um tempo, entre 2003 e 2009, elas conviviam bem – metade dos filmes era pós-produzida oticamente e a outra digitalmente. Pela qualidade e com a facilidade que o digital proporciona, ele tomou conta do mercado e hoje não se faz mais finalização ótica, a não ser um ou outro filme muito particular”, explica Marcelo Siqueira.

As finishing houses, hoje, porém, não oferecem apenas os serviços básicos, muito menos são procuradas apenas por isso. Toda a gama de serviços citados anteriormente, como forma de melhorar um trabalho audiovisual, está no cardápio. “Para trabalhos de publicidade mais complexos, cada vez mais as casas de pós-produção são procuradas para composição de imagens, correções de cor e computação gráfica. Já os trabalhos mais simples, ou ‘varejo’, são realizados nas próprias produtoras, por conta da facilidade de operação e baixo custo. Para o entretenimento, principalmente para cinema, as dificuldades são maiores e as necessidades também. Problemas como arquivos com maior resolução, sequências de arquivos grandes, que não só ocupam muito espaço nos servidores como ficam mais complicadas de serem manipuladas, são comuns nesse processo. Assim, procurar uma finalizadora dá uma segurança para o produtor de que o trabalho correrá sem problemas e será entregue no tempo combinado”, aponta e justifica Siqueira. Ele estima que o preço médio para longa, trabalhado em 2k, com scanner, correção de cor, transfer, etc., é de R$ 150 mil a R$ 200 mil, por filme finalizado, dependendo dos equipamentos utilizados. Mas conclui, “os efeitos são outra parte do processo, que pode custar mais do que a própria finalização”.

 

Por Gabriel Carneiro

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