Wisnik e o futebol

O compositor, pianista e professor universitário, José Miguel Wisnik, escreveu uma crônica (“Sinalizadores”, O Globo, 01-10-11) que mais parece um roteiro cinematográfico. Afinal, ao somar três fatos importantes de nossa história recente, ele produziu trama que soma futebol, acidente aéreo e violência urbana. Tudo ligado a um jogo das eliminatórias da Copa do Mundo (Brasil x Chile), ocorrido no Maracanã, em 1989. Nossas primeiras lembranças da partida resgatam uma moça, a “fogueteira” que lançou sinalizador aceso em direção do goleiro Rojas. O atleta (depois banido pela Fifa) simulou, com um pequeno estilete, ferimento que quase desclassificou o Brasil. Enquanto o jogo acontecia, com seus problemas, um avião brasileiro errava a rota e caía na Amazônia. Morreram 12 pessoas. Tudo indica que os comandantes estavam assistindo ao jogo. Naquele fatídico dia que quase deixou o Brasil fora da Copa, algo que teria consequências bem mais graves acontecia: uma jovem defensora pública discutiu, no mesmo Maracanã, com um policial militar (e entrou na Justiça contra ele). Passaram-se 22 anos e a jovem, a juíza Patrícia Accioly, foi assassinada. Tudo indica que a mando do tenente-coronel Claudio Luiz Silva Oliveira, com quem se desentendera naquele fatídico jogo. Wisnik mostra, em sua belíssima crônica-roteiro, que o futebol está presente organicamente na vida brasileira. Nas mãos de Bráulio Mantovani (quem sabe com Fernando Meirelles na direção) “Sinalizadores” tem tudo para gerar um filmaço, com ingredientes de ação, desaster movie e problemas sociais.

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