Travessuras juvenis
O curta-metragem “Menino do Cinco”, da dupla Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira, de Salvador, recebeu seis prêmios em sua estreia no Festival de Gramado, incluindo os de melhor filme e melhor ator dividido entre os meninos Thomas Oliveira e Emanuel de Sena. O simpático filme tem uma trama politicamente incorreta, e relata as reviravoltas de um garoto solitário, da classe média baiana, que vive com o pai em um apartamento e só encontra companhia com um cachorrinho, que ele rouba de um garoto de rua. Através desse núcleo, em que o menino de rua tenta recuperar seu cãozinho, o filme mergulha no universo psicológico do protagonista, retratando suas angústias, rotina e solidão. O fim surpreendente não se pode contar. Encontrar o garoto certo para fazer o papel do menino que rouba o cachorro e o morador de rua levou tempo. Foram feitos mais de 60 testes sem encontrar ninguém que se encaixasse nos papéis, até que os dois foram achados na rua, por acaso, pela preparadora de elenco Maryvonne Coutrot.
O filme nasceu da experiência de Marcelo como educador de rua em Salvador, onde observava as relações entre as crianças de rua e os meninos de classe média, e a prática de crítico de cinema. Ele fez a primeira versão do roteiro e convidou Wallace para dividir o roteiro e a direção.
A parceria entre os dois diretores nasceu na universidade (numa mesa de sinuca), onde Wallace fazia filosofia e Marcelo, psicologia. O primeiro trabalho juntos foi o DocTV “Álbum de Família”, que Wallace dirigiu e Marcelo produziu. Os próximos projetos já estão a caminho. “Concretamente, estamos trabalhando em outro curta-metragem de ficção chamado “Carranca”, que foi aprovado no Fundo de Cultura do Estado da Bahia, e será filmado no início do ano que vem. Também estamos trabalhando em um roteiro de longa-metragem baseado nos diários de campo que eu escrevi quando trabalhava com as crianças de rua de Salvador e que Wallace acompanhou de perto. Temos também dois roteiros de curta-metragem já prontos e que estão rodando aí na roleta russa dos editais para financiamento. Mas o nosso xodó mesmo é um projeto de ficção científica em história em quadrinho, porque além de fotógrafo Wallace é um exímio desenhista”, conclui Marcelo.
Por Hermes Leal