Um paulista paraibano
W. J. Solha é o nome artístico do sorocabano Waldemar José Solha, homem de muitos ofícios e que, agora sexagenário, conhece a fama. Afinal, está no elenco de dois dos mais badalados filmes pernambucanos de nossos dias: “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça, e “Era uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes. Depois de viver a infância e juventude em território paulista, mudou-se para a Paraíba, no ano de 1962, quando exercia o ofício de bancário. Hoje, é o mais paraibano dos paulistas. Até porque foi na aprazível cidade de João Pessoa que desenvolveu, nos últimos 40 anos, seus muitos dons artísticos: o de romancista (“A Canga”), poeta (“Trigal dos Corvos”, “História Universal da Angústia”), dramaturgo (“A Batalha de Oliveiros Contra o Gigante Ferrabrás”), pintor (dos painéis “Homenagem a Shakespeare” e “A Ceia”) e ator (do curta “A Canga” e de vários longas, entre eles, “Fogo Morto”, “Soledade” e “Lua Cambará”). Há, porém, um filme que marcou a história de Solha: “O Salário da Morte”, único longa ficcional de Linduarte Noronha (1930-2002). Marcou no bom e no mau sentido. No bom, porque “Salário da Morte” possibilitou sua estreia como ator, interpretando um pistoleiro. Marcou também a estreia de sua sobrinha, também sorocabana, a grande atriz de tantas peças de teatro e novelas, Eliane Giardini. No mau sentido, porque “Salário da Morte” deixou muitas dívidas. O filme teve produção tumultuadíssima, com muitas brigas homéricas entre o realizador e os produtores, fracassou no mercado e não conseguiu romper as fronteiras paraibanas. Solha e o sócio José Bezerra Filho passaram anos atormentados pelos credores. A história desta “tragédia cinematográfica nordestina” está contada no ótimo documentário “Lição de Fogo”, de Larissa Claro.