Na direção do CTAv, Daniela Pfeiffer afirma que capacitação será prioridade
Dez dias depois do produtor Christian de Castro ser confirmado como o novo diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Daniela Pfeiffer assumiu a diretoria do Centro Técnico Audiovisual (CTAv), confirmando mais uma recente mudança no comando das instituições audiovisuais subordinadas ao Ministério da Cultura. Assim como Castro, Daniela é próxima do ministro Sérgio Sá Leitão. Juntos, eles foram responsáveis pela gestão do Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, mais conhecido como o tradicional Cine Odeon, no Rio de Janeiro. Além dessa experiência com a exibição, Daniela atuou na área da distribuição pela Elo Company, em São Paulo. Em seguida, assumiu a gerência de projetos da BRAVI, quando esta ainda se chamava Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV). Mais recentemente, a nova gestora esteve envolvida na produção de projetos culturais, além de ter se tornado professora de cinema.
Nesta entrevista para a Revista de CINEMA, realizada por e-mail, Daniela conta quais são as suas principais metas para os próximos meses e já adianta que a capacitação dos profissionais será a “bandeira principal do CTAv”. Confira:
Revista de CINEMA – Como surgiu o convite do ministro Sérgio Sá Leitão para a diretoria do CTAv?
Daniela Pfeiffer – O convite para assumir o CTAv levou em consideração a longa trajetória que eu já possuía, tanto na gestão pública, quanto na formação audiovisual. Já fui analista de projetos na Ancine, conselheira do audiovisual na Cnic [Comissão Nacional de Incentivo à Cultura], gerente de projetos na BRAVI, além de ter criado a primeira pós-graduação Lato Sensu do Brasil com foco em cadeias produtivas do audiovisual. Como a nova vocação do CTAv é capacitar produtores independentes em técnica e gestão de projetos, essa experiência mostrou-se válida e adequada para o atual momento do setor.
Revista de CINEMA – Você está assumindo esse cargo logo após um período de certa tensão entre o Ministério da Cultura e a Ancine, e na sequência da confirmação de Christian de Castro como o novo diretor-presidente da agência. Como você vê essas mudanças e de que forma o trabalho entre as três instâncias será alinhado?
Daniela Pfeiffer – Ao se posicionar como o ponto central de capacitação audiovisual, o CTAv estará alinhado com as políticas tanto do Ministério da Cultura quanto da Ancine. Todos os anos, são investidos milhões de reais, principalmente, na produção audiovisual. Ao atuar na capacitação, o CTAv tem como objetivo uma melhor preparação, tanto dos técnicos, quanto dos gestores desses recursos. Possuímos uma estrutura que há 33 anos atende o mercado, por meio do empréstimo de equipamentos e da utilização dos estúdios de som e de mixagem (nosso estúdio de mixagem é um dos maiores da América Latina). Agora, o foco será atuar também na preparação para o uso desses equipamentos, além de apresentar caminhos para viabilizar a produção independente. Uma das demandas atuais e urgentes, por exemplo, é a capacitação de roteiristas e desenvolvedores de projetos. Se considerarmos que 84% das empresas que acessaram recursos das linhas de desenvolvimento do Fundo Setorial do Audiovisual são iniciantes, temos aí um dado interessante e um terreno fértil para trabalhar. A maior parte das empresas que acessam recursos, hoje, nas linhas do Fundo Setorial ou nas leis de incentivo demandam algum tipo de capacitação.
Revista de CINEMA – Nas últimas semanas, você já teve um contato mais próximo com as atividades e a realidade atual do CTAv. Poderia fazer um rápido diagnóstico do que encontrou e o que pretende mudar a partir deste ano?
Daniela Pfeiffer – O CTAv é um polo de audiovisual que nos últimos anos não recebeu a devida atenção. O espaço oferece apoio à preservação, produção e difusão, por meio de empréstimo de equipamentos, cessão de prêmios, apoio com envio de cópias para festivais internacionais e guarda de acervo. O prédio da Reserva Técnica, inaugurado em 2014, está preparado para armazenar uma boa parte das riquezas audiovisuais do Brasil. Atualmente, o CTAv conta com 20 mil rolos de película e 4.500 arquivos digitais, que demandam cuidados de armazenamento e manipulação. Vamos continuar assistindo o realizador independente no uso dessa estrutura, mas acrescentaremos atividades mais voltadas para a capacitação audiovisual, que passa a ser a bandeira principal do CTAv.
Revista de CINEMA – Como será o diálogo com a Cinemateca Brasileira e a Cinemateca do MAM? Já existe alguma articulação nesse sentido?
Daniela Pfeiffer – A Cinemateca Brasileira e a Cinemateca do MAM exercem um trabalho fundamental de preservação audiovisual. O CTAv também atua nessa área, de forma que pretendemos estar em diálogo permanente com essas instituições. Uma das atividades que oferecemos em difusão é o apoio a mostras e festivais, iniciantes ou consolidadas, com curadoria e sugestão de títulos de nosso acervo. Esse serviço é fundamental, não só enquanto meio de difundir conteúdo, mas também para mostrar o que o Brasil tem de melhor em seu acervo cinematográfico.
Revista de CINEMA – Além da sua atuação no setor de distribuição e exibição, você também tem um histórico ligado à capacitação e formação audiovisual. Isso vai se traduzir em algum projeto que aproxime o CTAv das escolas de cinema?
Daniela Pfeiffer – Sim. Como a nova bandeira do CTAv é a capacitação audiovisual, todas as nossas atividades, este ano, serão transversais e irão dialogar com essa diretriz. A cerimônia de posse que ocorreu na última sexta feira, dia 12 de janeiro, no Rio de Janeiro, contou com a presença de diversos representantes de escolas e universidades, tais como Universidade Federal Fluminense, Escola Darcy Ribeiro, Forcine, entre outras. Já conversei com algumas delas e pretendemos fortalecer esse diálogo ao longo de 2018. O projeto pedagógico e a metodologia a serem adotadas no CTAv estarão em sintonia com as iniciativas de formação que já acontecem pelo país.
Por Belisa Figueiró
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