Brasil terá poderosa representação no Festival de Havana
Por Maria do Rosário Caetano
O Brasil chega à quadragésima-segunda edição do Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, que acontece em dezembro (de 3 a 13), na capital cubana, com representação de significativo peso. Foram selecionados 16 longas brasileiros para as três principais competições do festival caribenho, o maior entre os dedicados ao cinema latino-americano. E um filme 100% inédito – o documentário “Alvorada”, de Anna Muylaert e Lô Politi – registra os últimos dias de Dilma Roussef na presidência da República. Foi selecionado para a Mostra “Em Sociedade”.
Na competição de longas ficcionais, a mais concorrida, o Brasil disputa o grande Coral Negro com “Meu Nome é Bagdá”, de Caru Alves de Souza, “Ana, sem Título”, de Lúcia Murat, “Todos os Mortos”, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, “Breve Miragem de Sol”, de Eryk Rocha, e “Pacificado”, de Paxton Winters.
Na competição de longas documentais, mais cinco brasileiros – “Antena da Raça”, de Paloma Rocha e Luis Abramo (sobre as intervenções de Glauber Rocha no programa “Abertura”, da TV Tupi), “Fé e Fúria”, de Marcos Pimentel, “Narciso em Férias”, de Renato Terra e Ricardo Calil (sobre a prisão de Caetano Veloso, em 1968), “Por Onde Anda Makunaíma?”, de Rodrigo Sellós, e “Vil e Má”, de Gustavo Vinagre.
Na categoria “Opera Prima” (filme de diretor estreante), o Brasil emplacou seis produções: “Casa de Antiguidades”, de João Paulo Miranda, “Mirador”, de Bruno Costa, “A Morte Habita a Noite”, de Eduardo Morotó, “Irmã”, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes, “Rodantes”, de Leandro Lara (um atmosférico road-movie ambientado nas entranhas de um Brasil Central prostituído e violento), e “Cidade Pássaro”, ótima ficção (de base documental) de Matias Mariani. A se estranhar apenas o fato deste diretor figurar na categoria “estreante”. Afinal, ele é quase um veterano. Além de muitos filmes como produtor (destaque para “Elevado 3.5”, grande vencedor do Festival É Tudo Verdade em 2007), ele assina, como diretor, os documentários “Ela Sonhou que Eu Morri” e “A Vida Privada dos Hipopótamos”. O critério de Havana, tudo indica, considera como estreia a realização de um primeiro filme ficcional.
O Brasil tem representação forte, também, nas categorias curta ficcional e curta documental. O mesmo se dá na categoria Cartazes (artes gráficas). Dos 30 selecionados, seis são brasileiros: “Algoritmo”, de Willian Jungmann, “Amanhã”, de Bruno Autran, “O Reflexo do Lago”, de Renata Mello Segtowick, “Aurora”, de Ricardo Carvalho, “Beco”, de David Alfonso, e “You Tubers”, de Thiago Lacaz.
A participação brasileira é das mais significativas, também, em mostras não-competitivas. E elas são muitas no Festival de Havana. “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos, “Aos Nossos Pais”, de Maria de Medeiros, “Fim de Festa”, de Hilton Lacerda, “Pureza”, de Renato Barbieri, e “A Cisterna”, de Cristiano Vieira, estão na Mostra Perspectiva.
Além de “Alvorada”, o novo filme de Anna Muylaert e Lô Politi, selecionado para a Mostra Em Sociedade, mais três produções brasileiras estão nesse segmento: o ótimo “Dentro da Minha Pele”, de Toni Venturi e Val Gomes, “De Olhos Abertos”, de Charlotte Dafol, e, com nome intrigante, “A Fábrica de Golpes”, de Victor Fraga e Valnei Nunes (coprodução com a Grã-Bretanha – o título em inglês é “The Coup d’État Factory).
Dois títulos brasileiros estão na Mostra Povos e Culturas Originários. Ambos referentes, claro, a nações indígenas. Caso de “O Índio Cor-de-Rosa Contra a Fera Invisível – A Peleja de Noel Nutels”, de Tiago Carvalho (do coletivo Vídeo nas Aldeias), e “Nheeengatu”, de José Barahona, cineasta português, que vem trabalhando com imenso interesse por temas brasileiros (vide “Alma Clandestina”, sobre o trágico destino de Dodora Lara Barcelos, presa política banida de nosso território, e “Estive em Lisboa e Lembrei de Você”, baseado em romance do mineiro Luiz Ruffato).
Na Mostra Los Colores de la Diversidad, dedicada a filmes de temática LGBTQ+, o Brasil marca presença com o ótimo “Para Onde Voam as Feiticeiras”, das irmãs Eliane e Carla Caffé e de Beto Amaral, com “Desconexo”, de Lui Avallos, e com o curta “Perifericu”, premiado no Festival Kinoforum, de São Paulo, e dirigido por quarteto de jovens da periferia (May Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira). O longa documental baiano “Dorivando Saravá, o Preto que Virou Mar”, exercício poético sobre o lado afro-sincrético-religioso de Dorival Caymmi, escrito e dirigido por Henrique Dantas, integra a Mostra Cultura, ao lado de seis títulos da América Hispânica.
No segmento dedicado à memória do cinema (Secção Cinemateca Latino-Americana), o Brasil colocou um entre os sete títulos selecionados: “Walter Tournier”, do mineiro Sávio Leite. Na Mostra Vanguarda, cravou dois títulos: “Vaga Carne”, de Ricardo Alves Jr e Grace Passô, e “A Cor Branca”, de Afonso Nunes. Na Exodos, um só título nacional: “Nós”, de Letícia Simões. Mesmo caso da secção Para Todas as Idades, na qual Fabiano Pandolfo marcará presença com “Boy in the Woods”.
O documentário “O Amor Dentro da Câmera”, das baianas Jamile Fortunato e Lara Beck Belov, sobre o casal Conceição e Orlando Senna, terá exibição especial, categoria em que figuram mais sete títulos hispano-americanos.
Ano passado, o Brasil tinha pesos-pesados na competição. Caso de “Bacurau”, de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, e “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, na ficção, que chegavam recomendados por Cannes, além de “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, finalista ao Oscar. E mesmo de “Cine Marrocos”, de Ricardo Calil, grande vencedor do festival É Tudo Verdade.
Este ano, não há produções brasileiras tão carimbadas. Quem chega com franco favorito é o México, com o ousado e perturbador “Nova Ordem”, de Michel Franco, laureado em Veneza com o Grande Prêmio do Júri.
Entre os 16 concorrentes, não há diretores com o prestígio, por exemplo, de Lucrécia Martel, Pablo Trapero, Ciro Guerra, Pablo Larraín, Sebastin Lelio, Carlos Reygadas ou Alonso Ruipalacios.
Daí que, fora Michel Franco e sua “Nova Ordem”, os diretores-concorrentes dos cinco longas brasileiros são pouco conhecidos: Matías Piñeiro, com “Isabella”, Eduardo Crespo, com “Nosotros Nunca Moriremos”, Clarisa Navas, com “Las Mil y Una”, e Natalia Meta, com “El Prófugo”.
O México vem forte. Além de Franco, o país emplacou “Fauna”, de Nicolás Pereda, e “Selva Trágica”, de Yulene Olaiola. O Chile teve duas produções selecionadas: “La Verónica”, de Leonardo Medel, e “Tengo Miedo Torero”, de Rodrigo Sepúlveda. A Venezuela, apenas uma: “La Fortaleza”, de Jorge Thielen Armand. Mesmo caso da República Dominica: “Dossiê de Ausências”, de Rolando Diáz Rodríguez. O pequeno Haiti (em parceria com França e Inglaterra), marcará presença com “The Living and the Dead Ensemble”.
Cinematografias fortes no subcontinente como a colombiana, a uruguaia e a peruana não emplacaram nenhum concorrente (na mostra principal). A sorte está lançada e os ventos sopram para aztecas, brasileiros e argentinos.
Olá!
Ótima matéria com divulgação dos filmes brasileiros em Havana.
Só gostaria, se possível, que corrigissem o nome de um dos filmes e do diretor. O longa doc se chama “Por onde anda Makunaíma?” e o sobrenome do diretor é Séllos.
Obrigado.