“Oito Montanhas” ganha o Donatello de melhor filme, Bellocchio de diretor e “Os Fabelmans” de longa estrangeiro
Por Maria do Rosário Caetano
“As Oito Montanhas” (foto), de Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersh (14 indicações), derrotou o grande favorito “Noite Exterior”, de Marco Bellocchio, que disputava 18 categorias do Prêmio David di Donatello, o “Oscar italiano”. Mas Bellocchio e seu épico político sobre o assassinato de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, ficaram com o Donatello de melhor direção, ator protagonista (Fabrizio Giunfini, o Aldo Moro), montagem e trucagem.
Trata-se, vale registrar, do sétimo David di Donatello conquistado pelo diretor de “Vincere” e “O Traidor” só na categoria metteur-en-scène. Ele agradeceu a láurea e disse que “não esperava” o reconhecimento. O maior nome do cinema italiano contemporâneo já está de partida para o Festival de Cannes, no qual disputará, mais uma vez, a Palma de Ouro, agora com “Rapito” (Sequestro).
No computo geral, foram quatro David di Donatello para “As Oito Montanhas” e quatro para “Noite Exterior”. O que mais chamou atenção, na “Noite do Oscar” peninsular, foi a atribuição do prêmio principal a dois diretores belgas, embora o filme tenha sido realizado na Itália, com atores italianos e a partir de romance peninsular (de Paolo Cognetti).
O filme vitorioso narra a história de dois rapazes, amigos desde os onze anos. Tal amizade nasce quando Pietro (Luca Marinelli, de “Martin Eden”) vai passar férias numa aldeia do Vale de Aosta, onde vive Bruno (Cristiano Sasella). O local é de imensa beleza, cercado de montanhas, florestas e trilhas perigosas. Num determinado momento de suas vidas, os dois amigos se afastam.
Ao perder o pai, montanhista apaixonado, Pietro decide regressar à aldeia alpina, para apossar-se de casa abandonada à beira de um lago, herança paterna. E, quem sabe, reatar amizade com o campesino Bruno, a única e profunda que vivenciou ao longo de sua vida. Se “Noite Exterior” dura quase quatro horas (foi exibido também como minissérie na TV), “As Oito Montanhas”, Prêmio do Júri em Cannes, também foge da métrica comercial, pois dura 2h30. O filme ítalo-belga foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Na categoria melhor filme estrangeiro, o eleito foi “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg. E o ator estadunidense Matt Dillon causou frisson ao entregar um “Donatello Especial – trajetória” à atriz Isabella Rosselini, filha de Ingrid Bergman e Roberto Rosselini. Aos 70 anos, a estrela de “Veludo Azul” e ex-mulher de Martin Scorsese ostenta longa folha de serviços prestados ao cinema internacional. Como a mãe, ela dividiu-se entre filmes norte-americanos e europeus. Além dela, outro ator, Enrico Vanzina, de 74 anos, recebeu o mesmo trofeu por sua trajetória.
Enrico é um astro em sua Itália natal. Filho de Steno (1917-1988), o grande diretor e roteirista da era de ouro da comédia italiana, e irmão do cineasta Carlo Vanzina (1951-2018), ele é festejado como um dos grandes comediantes peninsulares. Já protagonizou dezenas de filmes e, maduro, passou também a dirigir. Com seu troféu na mão, Enrico evocou, além do pai, outros dois grandes nomes da comédia italiana – Mario Monicelli e Dino Risi.
No terreno da produção, o Donatello Especial coube a Marina Cigogna, de 88 anos, produtora de “Investigação de um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita”, de Elio Petri, vencedor da Palma de Ouro e do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1970/71. A condessa romana, companheira da atriz brasileira Florinda Bolkan (ou Bulcão), é também fotógrafa e autora de livros como “La Mia Libia”, “Ancora Spero” e “Una Storia di Vita e do Cinema”. Amiga de Luchino Visconti, ela tem seu nome nos créditos de grandes e premiados filmes, entre eles “A Bela da Tarde”, de Luis Buñuel (Leão de Ouro em Veneza, 1967).
Confira os vencedores:
. “As Oito Montanhas”, de Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersh – Melhor filme, fotografia (Ruben Impens), roteiro adaptado (dos diretores Felix e Charlotte), som (Alessandro Palmerini, Alessandro Feletti, Mix Marco Falloni)
. “Noite Exterior”, de Marco Bellochio – Melhor diretor, melhor ator (Fabrizio Giunfini), montagem (Francesca Calvelli e Claudio Missantoni) e trucagem (Enrico Iacaponi)
. “Settembre”, de Giulia Steigerwalt – Melhor diretora estreante, melhor atriz (Barbara Ronchi)
. “Il Cerchio”, de Sophie Chiarello – Melhor documentário
. “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg (EUA) – Melhor filme estrangeiro
. “L’Ombra di Carvaggio”, de Michele Placido – Prêmio do Público Jovem (Estudantes Universitários), melhores penteados (Desirée Corridoni)
. “A Estranha Comédia da Vida” (La Stranezza) – Melhor roteiro original (Roberto Andò, Ugo Chiti, Massimo Gaudioso), cenografia e figurinos (Giada Calabria, Loredana Raffi, Maria Rita Barbera) e Produção (Angelo Barbagallo, Attilio De Razza, Medusa Film, Tramp Limites, RAI Cinema e BiBi Film)
. “Siccità”, de Paolo Virzi – Melhor atriz coaduvante (Emanuela Fanelli), melhores efeitos visuais (Marco Geracitano)
. “Il Pataffio”, de Francesco Lagi – Melhor trilha sonora (Stefano Bollani)
. “Nostalgia”, de Mario Martone – Melhor ator coadjuvante (Francesco Di Leva)
. “Ti Mangio il Cuore” – Melhor canção – “Proiettili”, de Elodie, Joan Thiele, Elisa Toffi, Emanuele Triglia e Joan Thiel
. Prêmio de Carreira (Donatello Especial) para a atriz Isabella Rossellini, de 70 anos, para o ator e cineasta Enrico Vanzina, de 74 anos, e para a produtora Marina Cigogna, de 88 anos