Gramado premia “Remendo”, curta queer, e “Deixa”, protagonizado por Zezé Motta e Dan Ferreira

Foto: Premiados na categoria curta-metragem brasileiro © Edison Vara/Agência Pressphoto

Por 
Maria do Rosário Caetano, de Gramado-RS

O Festival de Cinema de Gramado, em sua quinquagésima-primeira edição, resolveu potencializar sua badalada festa de premiação, que será transmitida ao vivo pelo Canal Brasil. E o faz concentrando-se na distribuição de troféus Kikito somente aos longas-metragens (gaúchos, documentais e ficcionais). A cerimônia de premiação acontece nesse sábado, 19 de agosto, a partir das 20h45.

Os curtas-metragens contaram, na noite de ontem, com sua própria festa de premiação (transmitida pela internet). O que poderia resultar em cerimônia sintética e bem-humorada com 30 minutos de duração (entrega de apenas dez prêmios) transformou-se em maratona marcada pela prolixidade.

O agradecimento da baiano-rondoniense Agrael de Jesus (eleita a melhor atriz) durou uns oito minutos. Como o filme por ela protagonizado – o rondoniense “Ela Mora Logo Ali”, apelidado de “Dom Caixote” – conta com dupla de diretores, os dois também resolveram fazer discursos longos e cansativos. Agraciados, primeiro com o Kikito de melhor roteiro, falaram bastante. Ao regressar ao palco para empalmar o troféu do Júri Popular, Fabiano e Rogante somaram-se a um terceiro integrante da equipe e falaram (os três) como se a plateia dispusesse de todo o tempo do mundo para ouvi-los.

Imagine se o Canal Brasil estivesse transmitindo a cerimônia de premiação dos curta-metragens! O controle remoto do espectador seria, decerto, acionado. Quem dirige longa-metragem deve ter capacidade de síntese pelo bem geral de todos os espectadores. Imagine quem realiza curtas! Cabe a estes saberem dizer muito no menor tempo possível. Mas, infelizmente, não foi o que se viu-ouviu.

O júri da categoria (composto com Gabriela Bervian, Janaína Oliveira, o ator Castanha, Juliana Costa e Vânia Matos) apostou, convicto, no identitarismo. Os primeiros prêmios distribuíram-se entre curtas que, aparentemente, tinham temáticas mais abertas.

A disputa até parecia centrada em “Ela Mora Logo Ali”, “Sabão Líquido”, “Camaco” e “Fim da Noite”. Mas a virada veio com o Prêmio Especial do Júri (somado ao de melhor fotografia) para o Morzaniel Iramari, por “Mãri Hi – A Árvore do Sonho”, representante da comunidade Yanomani. Trata-se de documentário evocativo-mágico, oriundo da Floresta Amazônica (de Roraima) com produção assinada por Eryk Rocha e Juliana Carneiro da Cunha (ele cineasta, ela atriz).

A surpresa maior viria com a atribuição dos dois prêmios principais: melhor filme para o capixaba “Remendo”, de Roger Ghil, e melhor direção para Mariana Jaspe, por “Deixa”. Curiosamente, eles não apareciam em nenhuma categoria artística ou técnica anteriormente premiada.

“Remendo” é um filme queer. Na temática, na proposta estética e na composição de sua equipe técnico-artística. O diretor-diretora Roger Ghil define-se como praticante vocacionado à “desobediência de gênero”. E mais, como “macumbeira, mão de feitiço, bacharela e mestranda em Comunicação e Territorialidades”. E, também, realizador(a) interessado(a) pelos estudos anticoloniais e por religiosidades diaspóricas.

O filme tem humor e personagens que realmente praticam a “desobediência de gêneros”. Sejam eles estético-cinematográficos ou LGBTQIAPN+.

“Deixa”, da realizadora baiano-carioca Mariana Jaspe – que se fez representar por sua distribuidora, Camila de Morais (da Borboletas Filmes & Pombagens) – conta ardente história de amor e sexo entre uma mulher sexagenária (Zezé Motta) e um jovem (Dan Ferreira), que a visita para um último encontro. É que o marido dela (Wilson Rabelo), sentenciado, está para regressar ao lar, depois de cumprir sua pena. O filme traz a assinatura do ator Marco Pigossi na produção.

Abaixo a lista completa dos curtas-metragens premiados na categoria Mostra Brasileira:

. “Remendo”, de Roger Ghil (Espírito Santo): melhor filme

. “Deixa”, de Mariana Jaspe (Rio): melhor direção

. “Ela Mora Logo Ali” (Dom Caixote), de Rondônia – Júri Popular, melhor atriz (Agrael de Jesus), roteiro (dos diretores Fabiano Barros e Rafael Rogante)

. “Sabão Líquido”, de Fernanda Reis e Gabriel Faccini (Rio Grande do Sul): melhor ator (Phillipe Coutinho), melhor desenho de som (Kiko Ferraz)

. “Yãmî-Pá – Fim da Noite”, de Vladimir Seixas (Rio): melhor trilha sonora (Mano Teko e Aquahertz)

. “Casa de Bonecas” (Maranhão): melhor direção de arte (Felipe Spooka e Jacksciene Guedes)

. “Camaco”, de Breno Alvarenga (Minas Gerais) – Prêmio da Crítica (ACCIRS-Abraccine): melhor montagem (Luiza Garcia)

. “Mãri-Hi – A Árvore do Sonho” (Roraima): Prêmio Especial do Júri e melhor fotografia (do diretor Morzaniel Iramari)

. “Cama Vazia”, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet (RS-São Paulo): menção honrosa

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