Noite do Troféu Grande Otelo homenageia Vladimir Carvalho e premia o melhor do cinema brasileiro

Foto: Vladimir Carvalho será homenageado no 22º GP do Cinema Brasileiro © Walter Carvalho

Por Maria do Rosário Caetano

Nem bem terminou a badalada festa do cinema em Gramado e já é hora de conferir quem fará jus ao Troféu Grande Otelo, láurea máxima do Grande Prêmio (o GP) do Cinema Brasileiro. A cerimônia, que acontecerá na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (nessa quarta-feira, 23 de agosto), terá condução da atriz Cláudia Abreu e do ator (e agora diretor) Silvio Guindane.

Por tratar-se de promoção da Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais, a escolha dos laureados com o “Otelo” é feita pelos associados, todos oriundos do meio audiovisual. Que não se espere, pois, atenção prioritária a filmes de arte, ensaio ou “cabeçudos”, como gosta de chamá-los o ator e cineasta Wagner Moura. Ele mesmo, o grande vencedor do ano passado, com o épico “Marighella”.

Cinco longas concorrem à mais nobre das categorias (melhor ficção em longa-metragem). O franco favorito é “Marte Um”, do mineiro Gabriel Martins, que a própria Academia indicou ao Oscar de melhor produção internacional, este ano, e que “passou o rodo” em vários festivais nacionais, acumulando dezenas de troféus.

Junto com “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos, também finalista, o filme de Martins compõe a linha de frente do “cinema preto brasileiro”. E, por falar em cinema preto, há que se lembrar que dois grandes artistas afro-brasileiros disputarão, com maiores chances, o “Otelo” de melhor ator. A balança pende mais para o octogenário Antônio Pitanga, protagonista absoluto do “cabeçudo” filme de João Paulo Miranda Maria, “Casa de Antiguidades”. Mas não se pode menosprezar as chances do sexagenário Carlos Francisco, o bem-humorado e esperançoso zelador, pai de família e torcedor do Cruzeiro de “Marte Um”. Este filme e o de Lázaro Ramos são os recordistas de indicações da “Noite dos Otelo”.

Completam a lista de melhor ficção outros três longas, também com indicações recorrentes em categorias artísticas e técnicas: “A Viagem de Pedro”, único dirigido por um nome feminino nessa categoria (Laís Bodanzky), “Paloma”, do pernambucano Marcelo Gomes, e “Eduardo e Mônica”, do brasiliense-carioca René Sampaio.

Para acalmar os comediantes, que se sentem discriminados em todas as competições, sejam festivais ou no GP Brasil – a atriz Ingrid Guimarães bateu nessa tecla, sem descanso, em Gramado –, a Academia providenciou, há poucos anos, a categoria melhor comédia. Mas o colegiado de associados não dará o veredito final. O prêmio será outorgado por voto popular. Entre os concorrentes, vale torcer por “O Clube dos Anjos”, de Ângelo Defanti, baseado em livro de Luis Fernando Verissimo. Trata-se de comédia que aposta em seu ótimo elenco e faz humor com refinamento e ironia.

Na categoria longa documental, o vencedor deve ficar entre “Amigo Secreto”, de Guta Ramos (sobre os desmandos da Lava-Jato revelados pela Vaza-Jato) e o belo “A Jangada de Welles”, que chega do Ceará. Sem esquecer o auto-retrato de Kobra, artista de mil cores, pintor de empenas de prédios e muros do Brasil (e de países longínquos). Mas o pernambucano “Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo” pode surpreender, pois a ucraniana-pernambucana-carioca conta com legião de admiradores. O quinto documentário da competição é “O Presidente Improvável”, de Belisário Franca.

A categoria filme infanto-juvenil, esse ano, vem quente. O franco-favorito é “Pluft, o Fantasminha”, obra encantadora de Rosane Svartman, baseada no clássico teatral de Maria Clara Machado. Houve ano em que a categoria apresentou grave déficit de candidatos, tão minúsculo parece ser o interesse de nossos realizadores por filmes para a garotada. Mas, dessa vez, até o Ceará produziu um simpático e inteligente filme infanto-juvenil, “Pequenos Guerreiros”, de Bárbara Cariry. Outro título instigante vem da Bahia (Vitória da Conquista), “Alice dos Anjos”, de Daniel Leite Almeida. A sorte está lançada.

No terreno da animação, outra área que nem sempre preenche as cinco vagas disponíveis, a safra chega bem fornida. O franco favorito é “Tarsilinha”, sobre os sonhos infantis da pintora modernista, mãe do “Abaporu”. A dupla Célia Catunda e Kiko Mistrorigo caprichou. O desenho é lindíssimo, o roteiro engenhoso.

Outro título bem cotado é “Meu Tio José”, de Ducca Rios. Mas ele corre em linha própria, pois usou a animação para contar história adulta, ligada ao passado guerrilheiro de José Sebastião Rio de Moura, militante da Dissidência Guanabara.

A lista de candidatos a melhor filme ibero-americano mostra o acerto do diálogo da Academia Brasileira com suas co-irmãs espalhadas pela Península Ibérica e pela America Hispânica. Argentina, Chile, Colômbia, Espanha e Portugal indicaram ótimos filmes.

O melhor de todos, o mais ousado e inventivo, é o espanhol “As Bestas”, de Rodrigo Sorogoyen. Até Catherine Deneuve apaixonou-se por essa obra magna, grande vencedora do Goya, falada em galego e francês e com elenco de cobras-criadas. Os atores são tão bons, que a Academia castelhana premiou o francês Denis Menochet com o “cabeçudo” de melhor interpretação masculina. “Cabeçudo”, aqui, não tem o mesmo significado wagneriano. Trata-se do apelido carinhoso dado ao Troféu Goya, pois o gênio da pintura e da escultura foi representado, em bronze, por volumosa cabeça.

Tudo, porém, leva a crer que os acadêmicos brasileiros vão votar em “Argentina, 1985”, de Santiago Mitre. Por aqui, como em todos os países ibero-americanos, ninguém resiste a um “Darín movie”. O astro argentino é um dos maiores pé-quente da história do cinema realizado nessas bandas do sul.

Se acertou em cheio na categoria ibero-americana, a Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais pisou na bola ao entregar “o ouro ao bandido” na categoria filme internacional.

Só evocando Étienne de La Boétié (o da “Servidão Voluntária”) para entender o que se passou. Dos sete concorrentes, seis são anglo-saxões (cinco dos EUA). Só um pequeno país do Oriente Médio conseguiu mísera vaga: o Líbano, com “1982”, de Oualid Mouaness. A Inglaterra emplacou “Boa Sorte, Léo Grande”, filme mediano. Os EUA, força hegemônica avassaladora em nosso mercado, emplacou “Avatar 2”, “Pantera Negra 2”, “A Mulher Rei”, “Top Gun 6” (ou 7) e “Elvis”.

Resumo da ópera : a Academia Brasileira (?) de Cinema e Artes Visuais – justo no momento em que se luta pela volta da Cota de Tela (reserva de algumas semanas para o filme nacional) – avisa, fogosa e fagueira, às majors que elas estão livres para ocupar nosso único mercado (o interno). E mais: qualificadas a disputar um prêmio chamado Grande Otelo. Isto é que é gostar de dormir com o inimigo. Que a França, a pátria dos Irmãos Lumière, Alemanha, Itália, Japão, China, Coreia do Sul, Grécia, Romênia, Índia, Turquia, Egito e Rússia se conformem com sua insignificância cinematográfica!

BRICS, Comunidade Europeia, Ásia? Estes territórios políticos ou geográficos não estão na mira dos acadêmicos brasileiros.

A vigésima-segunda edição dos Prêmios Grande Otelo vai homenagear o cineasta Vladimir Carvalho e o crítico Amir Labaki, também organizador do Festival É Tudo Verdade. A festa será transmitida, ao vivo, pelo Canal Brasil (e para assinantes da Globoplay ) e pela internet (YouTube da Academia). A partir das 21h. Vale lembrar que a produção independente realizada para TV será lembrada em algumas categorias do “Otelo” desenhado por Ziraldo (séries ficcionais ou documentais, em especial).

Confira os finalistas:

MELHOR LONGA (FICÇÃO)

. “Marte Um”, de Gabriel Martins
Produção: Filmes de Plástico-MG

. “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky
Produção: Biônica Filmes, Buriti Filmes, O Som e a Fúria, Cauã Reymond e Mario Canivello (SP-RJ-Portugal)

. “Eduardo e Mônica”, de René Sampaio
Produção: Bianca De Felippes (Gávea Filmes) e René Sampaio (Fogo Cerrado) – RJ

. “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos
Produção: Lereby Produções, Lata Filmes e Aldri Anunciação (RJ)

. “Paloma”, de Marcelo Gomes
Produção: Carnaval Filmes (PE)

MELHOR LONGA (DOCUMENTÁRIO)

. “A Jangada de Welles”, de Petrus Cariry e Firmino Holanda
Produção: Iluminura Cinema e Multimídia (CE)

. “Amigo Secreto”, de Maria Augusta Ramos
Produção: Nofoco Filmes e Vitrine Filmes (RJ)

. “Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo”, de Taciana Oliveira
Produção: Zest Artes e Comunicação (PE)

“Kobra Auto Retrato”, de Lina Chamie
Produção: Girafa Filmes (SP)

. “O Presidente Improvável”, de Belisario Franca
Produção: Giros (RJ)

MELHOR LONGA (COMÉDIA)

. “ O Clube dos Anjos”, de Ângelo Defanti
Produção: Sobretudo e Dezenove (RJ-SP)

. “Bem-Vinda a Quixeramobim”, de Halder Gomes
Produção: Glaz Entretenimento (SP-CE)

. “Jesus Kid”, de Aly Muritiba
Produção: Grafo Audiovisual e Sergio Morrone (PR)

. “Papai é Pop”, de Caito Ortiz
Produção: Pródigo Films (RJ)

. “Vale Night”, de Luís Pinheiro
Produção: Querosene (SP)

(*) Observação: de acordo com regulamento da Academia, a categoria (melhor longa comédia) só será avaliada pelo voto popular.

MELHOR LONGA (INFANTIL)

. “Pequenos Guerreiros”, de Bárbara Cariry
Produção: Iluminuras (CE)

. Pluft, o Fantasminha”, de Rosane Svartman
Produção: Raccord (RJ)

. “Alice dos Anjos”, de Daniel Leite Almeida
Produção: Ato 3 Produções (BA)

. “DPA – Uma Aventura no Fim do Mundo”, de Mauro Ribeiro de Lima
Produção: Paris Filmes (SP-RJ)

. “Alice no Mundo da Internet”, de Fabrício Bittar
Produção: Clube Filmes (RJ)

MELHOR LONGA (ANIMAÇÃO)

. “Tarsilinha”, de Célia Katunda e Kiko Mistrorigo
Produção: Pinguim Content (SP)

. “Meu Tio José”, de Ducca Rios
Produção: Origem

. “Além da Lenda – O Filme”, de Marília Mafé e Marcos França
Produção: Viu Cine

. “Meu Amigãozão – O Filme”, de Andrés Lieban
Produção: 2DLab (SÓ)

. “Tromba Trem – O Filme”, de Zé Brandão
Produção: Copa Studio

MELHOR DIREÇÃO

. Gabriel Martins (Marte Um)
. Laís Bodanzky (A Viagem de Pedro)
. Rosane Svartman (Pluft)
. Marcelo Gomes (Paloma)
. René Sampaio (Eduardo e Mônica)

MELHOR DIREÇÃO (estreantes)

. Ângelo Defanti (O Clube dos Anjos)
. Bruno Torres (A Espera de Liz)
. Caio Blat (O Debate)
. Carolina Marcowicz (Carvão)
. Lázaro Ramos (Medida Provisória)

MELHOR ATRIZ

. Marcélia Cartaxo (A Mãe)
. Alice Braga (Eduardo e Mônica)
. Andrea Beltrão (Ela e Eu)
. Dira Paes (Pureza)
. Kika Sena (Paloma)

MELHOR ATOR

. Antônio Pitanga (Casa de Antiguidades)
. Carlos Francisco (Marte Um)
. Alfred Enoch (Medida Provisória)
. Cauã Reymond (A Viagem de Pedro)
. Gabriel Leone (Eduardo e Mônica)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

. Adriana Esteves (Medida Provisória)
. Camila Márdila (Carvão)
. Camilla Damião (Marte Um)
. Drica Moraes (As Verdades)
. Helena Ignez (A Mãe)

MELHOR ATOR COADJUVANTE

. André Abujamra (O Clube dos Anjos)
. Cícero Lucas (Marte Um)
. Augusto Madeira (O Clube dos Anjos)
. Emicida (Medida Provisória)
. Flávio Bauraqui (Medida Provisória)

MELHOR FOTOGRAFIA

. Leonardo Feliciano (Marte Un)
. Adrian Teijido (Medida Provisória)
. Felipe Reinheimer (Pureza)
. Gustavo Hadba (Eduardo e Mônica)
. Pedro J. Marquez (A Viagem de Pedro)
. Pele Mendes (Carvão)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

. Gabriel Martins (Marte Um)
. Marcelo Gomes, Armando Praça e Gustavo Campos (Paloma)
. Bruno Torres e Simone Iliescu (Espera de Liz)
. Laís Bodanzky (A Viagem de Pedro)
. Carolina Markowicz (Carvão)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

. Aly Muritiba (“Jesus Kid”, de Lourenço Mutarelli)
. Ângelo Defanti (“O Clube dos Anjos”, de Luis Fernando Verissimo)
. Jorge Furtado e Guel Arraes (“O Debate”)

. Lusa Silvestre, Lázaro Ramos, Elisio Lopes Jr e Aldri Assunção (da peça”Namíbia, Não!”, de Aldri Anunciação) – por Medida Provisória

. Matheus Souza, Claudia Souto, Jessica Candal e Michele Frantz (inspirado na música “Eduardo e Mônica”, de Renato Russo)

MELHOR MONTAGEM

. Thiago Ricarte e Gabriel Martins (Marte Um)
. Diana Vasconcelos (Medida Provisória)
. Eduardo Gripa (A Viagem de Pedro)
. Lívia Arbex (O Clube dos Anjos)
. Lucas Gonzaga (Eduardo e Mônica)
. Marcelo Moraes (Pureza)

MELHOR TRILHA SONORA

. André Abujamra (O Clube dos Anjos)
. Daniel Simitan (Marte Um)
. Nelson Soares e Marcos Moreira (Paloma)
. Pedro Guedes, Fabiano Krieguer e Lucas Marcões (Eduardo e Mônica)
. Plínio Profeta, Rincon Paciência e Kiko de Sousa (Medida Provisória)

MELHOR FILME IBERO-AMERICANO

. “As Bestas” (Espanha), de Rodrigo Sorogoyen. Indicação da Academia de mas Artes y las Ciências Cinematograficas de España

. “1976 “(Chile e Argentina), de Manuela Martelli. Indicação: Academia de Cine de Chile

. “Argentina, 1985” (Argentina), de Santiago Mitre. Indicação: Academia de las Artes y Ciencias Cinematográficas de la Argentina

. “La Jauría” (Colômbia), de Andrés Ramírez Pulido. Indicação: Academia Colombiana de Artes y Ciencias Cinematográficas

. “Restos do Vento” (Portugal), de Tiago Guedes. Indicação Academia Portuguesa de Cinema

MELHOR FILME INTERNACIONAL

. “1982” (Líbano), de Oualid Mouaness
Distribuidor Brasileiro: Estúdio Escarlate

. “A Mulher Rei” (EUA), de Gina Prince-Bythewood
Distribuidor Brasileiro: Sony Pictures

. “Avatar, O Caminho da Água” (EUA), de James Cameron
Distribuidor Brasileiro: Disney

. “Boa Sorte, Léo Grande” (Reino Unido), de Sophie Hyde
Distribuidor Brasileiro: Paris Filmes

“Elvis” (EUA), de Baz Luhrmann
Distribuidor Brasileiro: Warner Bros Pictures

. “Pantera Negra: Wakanda para Sempre” (EUA), de Ryan Coogler
Distribuidor Brasileiro: Disney

. “Top Gun: Maverick” (EUA), de Joseph Kosinski
Distribuidor Brasileiro: Paramount

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