Festival do Rio “passa o rodo” nos festivais do segundo semestre com dezenas de filmes 100% inéditos

Foto: “Baby”, de Marcelo Caetano

Por Maria do Rosário Caetano

Mais uma vez, o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro – programado para o mês que vem (de três a treze de outubro) – “passa o rodo” nos festivais e mostras que ocupam o calendário do segundo semestre. Fora Gramado, o evento que, anualmente, inaugura a temporada festeivaleira de julho a dezembro, todos os outros terão que conformar-se com a perda de dezenas de longas-metragens 100% inéditos. Sejam ficções, documentários ou filmes de pesquisa de linguagem (títulos reunidos sob o rótulo Novos Rumos). Para que o cerco seja ainda mais vistoso, o festival carioca conta com a mostra O Estado das Coisas, um alegre balaio audiovisual no qual cabem muitos títulos inéditos.

Dos onze filmes selecionados para a mais badalada das competições do Festival do Rio (a de longas ficcionais), só um título já foi exibido em solo brasileiro – “Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes. Mas fora de competição.

O novo (e ótimo) filme do realizador pernambucano, baseado em livro homônimo de Milton Hatoum, causou frisson em Curitiba, na noite inaugural do Olhar de Cinema (na descoladíssima Ópera de Arame) e rendeu um dos melhores debates a que assisti (nesses tempos obscurantistas que vivemos). Uma troca de ideias sobre criação cinematográfica e, consequentemente, transcriação literária. E protagonizada por dois craques – Marcelo e Hatoum.

Os outros títulos escolhidos são inéditos em qualquer tela, seja brasileira ou internacional. Outros passaram por festivais da Europa e de outros continentes.

Entre os anunciados com a grandiloquente expressão “première mundial” está “Lispectorando”, da pernambucana Renata Pinheiro, com Marcélia Cartaxo, a eterna Macabéia, à frente do elenco. Pelo título, sabemos de antemão, que o filme tem a ver com o universo criativo e existencial de Clarice Lispector.

O Festival do Rio, nessa primeira e anunciada leva – resultado de sua vasta “pesca” do melhor da produção nacional – só não divulgou sessão de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, filme que causa sensação no Festival de Veneza. Ainda não se conhece a trajetória do filme, fortíssimo candidato brasileiro a uma vaga no Oscar de produção estrangeira, em março do ano que vem.

Já “Apocalipse nos Trópicos”, documentário de Petra Costa, está agregado à competição não-ficcional. Mesmo caso de “Manas”, da pernambucana Mariana Brennand, com Dira Paes, presente na representação ficcional. Os dois também tiveram Veneza como primeira vitrine.

Se não bastasse tanto filme inédito, o Festival do Rio, para humilhar a concorrência, abre espaço a sessões especiais. Este ano, um dos programados é “Malês”, de Antônio Pitanga, filme que o ator-cineasta acalanta há décadas. E que saiu do papel graças à produção do craque Flavio Tambellini.

No terreno dos documentários, há filmes, espalhados em vários segmentos do festival, que devem atrair aficcionados da MPB, ou seja, devotos. Quem há de resistir a “Os Afro-Sambas, o Brasil de Baden e Vinícius”, direcão de Emílio Domingos? Ou a um longa sobre o “coisa nossa” Noel Rosa? O poeta da Vila é tema de longa-metragem de Joana Nin (“Noel Rosa, um Espírito Circulante”).

No campo da política, há “Brizola, Anotações para uma História”, de Silvio Tendler, retrato do ex-governador gaúcho que governou também o Rio de Janeiro. E por duas vezes. Um riograndense-do-sul, que, como o conterrâneo Getulio Vargas, amarrou seu cavalo num obelisco carioca.

Até a cineasta paraguaia Paz Encina, diretora de filmes de experimentação de linguagem (como “Hamaca Paraguaya”), está presente na seleção carioca, com “Carta a un Viejo Master”. Uma produção brasileiro-fluminense.

Confira os filmes selecionados:

Competição Longas de Ficção

“Lispectorante”, de Renata Pinheiro (PE) – estreia mundial
“Kasa Branca”, de Luciano Vidigal (RJ) – estreia mundial
“O Silêncio das Ostras”, de Marcos Pimentel (MG) – estreia mundial
“Serra das Almas”, de Lírio Ferreira (PE) – estreia mundial
“Betânia”, de Marcelo Botta (SP)
“Enterre seus Mortos”, de Marco Dutra (SP)
“Malu”, de Pedro Freire (RJ)
“Manas”, de Marianna Brennand (RJ)
“Os Enforcados”, de Fernando Coimbra (SP)
“Baby”, de Marcelo Caetano (SP)
“Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes (RJ)

Longas Documentais

“3 Obás de Xangô”, de Sergio Machado (RJ) – estreia mundial
“Alma Negra”, do Quilombo ao Baile, de Flavio Frederico (SP) – estreia mundial
“Mambembe”, de Fabio Meira (GO) – estreia mundial
“Quando Vira a Esquina”, de Chris Alcazar (RJ) – estreia mundial
“Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa (SP)
“A Queda do Céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha (SP)
“Salão de Baile”, de Juru e Vitã (RJ)

Novos Rumos Longas

“Ainda Não É Amanhã”, de Milena Times (PE) – estreia mundial
“A Procura de Martina”, de Márcia Faria (RJ) – estreia mundial
“Centro Ilusão”, de Pedro Diógenes (CE) – estreia mundial
“Incondicional: o Mito da Maternidade”, de Patrícia Fróes (RJ) – estreia mundial
“O Deserto de Akin”, de Bernard Lessa (ES) – estreia mundial
“Paradeiros”, de Rita Piffer (RJ) – estreia mundial
“Continente”, de Davi Pretto (RS)
“Avenida Beira-Mar”, de Maju de Paiva e Bernardo Florim (RJ)

Hors Concours

“Os Afro-Sambas, o Brasil de Baden e Vinícius”, de Emílio Domingos (RJ) – estreia mundial
“Malês”, de Antônio Pitanga (RJ) – estreia mundial
“A Vilã das Nove”, de Teodoro Poppovic (RJ) – estreia mundial
“Câncer com Ascendente em Virgem”, de Rosane Svartman (RJ) – estreia mundial
“Kopenawa”, de Marco Altberg (RJ) – estreia mundial
“Precisamos Falar”, de Pedro Waddington e Rebeca Diniz (RJ) – estreia mundial
“Virgínia e Adelaide”, de Jorge Furtado e Yasmin Thayná (RS)
“Filhos do Mangue”, de Eliane Caffé (SP)

Mostra Retratos

“Armando Costa: Televisão pra Mim Não É Bico”, de Victor Vasconcellos (RJ) – estreia mundial
“Brizola, Anotações Para uma História, de Silvio Tendler (RJ) – estreia mundial
“Carta a un Viejo Master”, de Paz Encina (RJ)
“Janis, Amores de Carnaval”, de Ana Isabel Cunha (SP) – estreia mundial
“Moacyr Luz, o Embaixador dessa Cidade”, de Tarsilla Alves (RJ)
“Noel Rosa, um Espírito Circulante”, de Joana Nin (PR) – estreia mundial
“O Nascimento de H. Teixeira”, de Roberta Canuto (RJ) – estreia mundial

O Estado das Coisas

“Alarme Silencioso”, de Ricardo Favilla (RJ) – estreia mundial
“Eu Sou Neta dos Antigos”, de Adriana Miranda (RJ) – estreia mundial
“Flavors and Borders”, de Claudia Calabi e Fernando Grostein (SP) – estreia mundial
“Insubmissas”, de Carol Benjamin, Tais Amordivino, Julia Katharine, Luh Maza e Ana do Carmo (RJ) – estreia mundial
“Pele de Vidro”, de Denise Zmekhol (SP) – estreia mundial
“No Céu da Pátria Nesse Instante”, de Sandra Kogut (RJ)

Midnight Movies

“Abraço de Mãe”, de Cristian Ponce (RJ) – estreia mundial
“A Herança”, de João Cândido Zacharias (RJ)

Première Latina

“Dormir de Olhos Abertos”, de Nele Wohlatz (Brasil/Alemanha/Taiwan/Argentina)

Panorama do Cinema Mundial

“Transamazonia”, Pia Marais (França/Alemanha/Suíça/Taiwan/Brasil)

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