Mostra de Cinema Soviético e Russo festeja o centenário do Estúdio Mosfilm na Cinemateca Brasileira
Foto: “Asas”, de Larisa Sheptiko
Por Maria do Rosário Caetano
A Cinemateca Brasileira sedia, por dois fins de semana, de 13 a 24 de novembro, a décima edição da Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo. Serão exibidos 20 longas-metragens, sendo oito inéditos no catálogo da CPC-UMES Filmes.
O festival, organizado pelo Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), acontece graças à parceria com a Cinemateca Brasileira, que empresta suas telas aos filmes e, também, seus amplos espaços e jardins para exposições e feira de livros-artesanato-e-culinária eslavos. E, também, pelo apoio e retaguarda da Embaixada da Rússia no Brasil.
O festival acontece justo nesse ano em que se comemora o centenário (1924-2024) da inauguração do Estúdio Mosfilm, onde trabalharam Sergei Eisenstein, Vsevolod Pudovkin, Lev Kuleshov, Mikhail Romm, Mikhail Kalatozov, Sergei Bondarchuk, Andrei Tarkovski, Larisa Sheptiko e Elem Klimov.
A celebração tem sua razão de ser, já que dos quatro estúdios mais atuantes na URSS, o sediado em Moscou foi (e é) o mais resistente e longevo. Quem leu o livro “Kino – A História do Cinema Russo e Soviético”, do estadunidense Jay Leyda, aluno de Eisenstein (publicado em 1960, inédito no Brasil) sabe da importância, também, do Lenfilms, de Leningrado (atual São Petersburgo), dos Estúdios Gorki, criados para homenagear o escritor e roteirista Maxim Gorki (1868-1936), e um de nome de difícil memorização – Mezhabpomfilm – mantido pelos trabalhadores e dinamizado com fundos doados por centrais operárias da Alemanha e de outros países da Europa. Aquelas que eram solidárias com a Revolução dos Bolcheviques.
A fundação do Estúdio Mosfilm, projeto da breve gestão de Vladimir Lênin (1870-1924), só seria concretizada nos dias que se seguiriam à morte do líder bolchevique. Mas, espantosamente, o estúdio sobreviveu a todos os traumas da história soviética, inclusive à Segunda Guerra Mundial, quando seus equipamentos foram transferidos para locais distantes (temia-se que os nazistas ocupassem Moscou).
O maior estúdio da história soviético-russa (e um dos maiores do mundo), o Mosfilm tem em seu acervo 2.500 longas-metragens. Incluindo “Encouraçado Potenkin” e outros títulos de Eisenstein, “A Mãe”, de Pudovkin, e dezenas de títulos do Construtivismo Russo, força renovadora do cinema mundial.
A CPC-UMES Filmes cuida do licenciamento e lançamento (em DVD e no festival que chega à sua décima edição) das produções do Mosfilm. O faz há mais de 10 anos, e já soma quase uma centena de títulos.
A programação da Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo deste ano compõe-se com 20 longas-metragens, sendo oito nunca exibidos no evento. Portanto, nas telas e com a qualidade de projeção da Cinemateca Brasileira. “Os outros 12” – explicam Bernardo Torres e Igor Oliveira, da CPC-UMES Filmes – “foram os que julgamos os mais marcantes exibidos nas nove edições anteriores do festival”.
Entre as novidades, a dupla Torres e Oliveira enumera “Asas”, de Larisa Sheptiko (1938-1979), “Os Sinos da Noite” (1973), de Vassily Shukshin, que pretende compor “verdadeiro retrato da alma russa”, “Minin e Pozharsky”, de Vsevolod Pudovkin e Mikhail Doller, “raridade sobre a invasão da Polônia ao território russo, ocorrida em 1911”, “A Greve” (1924), de Serguei Eisenstein, “Velas Escarlates” (1961), “do mago dos efeitos especiais Aleksandr Ptushko”, a comédia “Romance de Escritório” (1977), de Eldar Ryazanov, “Noites Brancas” (1959), adaptação de Ivan Pyriev para o romance de Dostoievski (que antes dera origem a um belo filme de Visconti, com Marcello Mastroianni e Maria Schell), e “Não Pode Ser!” (1975), do campeão de bilheterias Leonid Gayday.
A seleção do melhor das mostras anteriores traz, pelo menos, três títulos arrebatadores. Caso de “Vá e Veja” (1985), de Elem Klimov (1933-2003), um dos mais influentes e inovadores filmes de guerra da história do cinema, “Dersu Uzala” (1975), o filme soviético de Akira Kurosawa, Oscar de melhor longa estrangeiro e sucesso planetário, e “O Espelho” (1975), de Tarkovski.
A eles se juntam títulos importantes como “Quando Voam as Cegonhas” (1957), de Mikhail Kalatozov (Palma de Ouro em Cannes), “Moscou Não Acredita em Lágrimas” (1979), de Vladimir Menshov (Oscar de filme estrangeiro e imenso sucesso de público), o vanguardista e irreverente “As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques” (1924), de Lev Kuleshov, o surpreendente “Circus” (1936), de Grigori Aleksandrov, colaborador de Eisenstein em muitos projetos, “A Balada do Soldado” (1959), de Grigori Chukhray, “O Destino de um Homem” (1959), do ator-diretor Serguei Bondarchuk, o impressionante documentário “O Fascismo de Todos os Dias” (1956), de Mikhail Romm, “O Comunista” (1957), de Yuli Raizman, e o épico de tintas fantásticas, “Tigre Branco”, de Karen Shakhnazarov (2012).
A noite inaugural da Mostra, na quinta-feira, 13 de novembro, apresentará “Asas” (1966), da diretora Larisa Shepitko. O filme, que foi restaurado esse ano pelo Mosfilm, conta a história de Nadezhda Petrukhina, ex-piloto de caça na Segunda Guerra Mundial. Ela luta para adaptar-se à nova vida em tempos de paz. E o faz na função de diretora da Escola Técnica Petrukhina. Seu novo ofício a obriga a lidar com questões comportamentais dos jovens estudantes e, ao mesmo tempo, com a desconexão em suas relações com a filha. Além do mais, ela sente imensa vontade de voltar a voar.
Raros brasileiros sabiam da existência de Larisa Sheptiko. Quem a conheceu (e conviveu com ela, no Festival de Berlim) foi a cineasta Ana Carolina (“Mar de Rosas”, “Das Tripas Coração” e “Sonho de Valsa”). Evaldo Mocarzel relata a convivência das duas realizadoras em livro da Coleção Aplauso, dedicado à trajetória de Ana Carolina. Mesmo nos estudos mais substantivos sobre cinema da era soviética, Larisa ganhou pouco destaque.
Hoje, com atenções voltadas aos grandes nomes femininos apagados pela história (masculina) do cinema, tudo mudou. E, no caso de Larisa Sheptiko, por total merecimento. Seus filmes tornaram-se conhecidos, especialmente o ousado e arrebatador “A Ascensão” (vencedor do Festival de Berlim, em 1977) .
Para ampliar o interesse pela realizadora soviética, há ainda sua trágica história pessoal. Ela morreu aos 41 anos, num acidente de carro, quando buscava locações para um novo filme. Isto aconteceu dois anos depois da conquista do Urso de Ouro, em Berlim. Larissa deixou viúvo o cineasta Elem Klimov, que a homenagearia com um tocante curta-metragem (“Larisa”, 1980). E filmaria o projeto não-realizado por ela (“A Despedida”). Aquele para o qual ela buscava locações.
“Asas” foi o primeiro longa-metragem de Shepitko, realizado logo após sua graduação no Instituto Estatal de Cinema (VGIK). O filme alcançou grande sucesso de crítica e público. Os espectadores ficaram impressionados com a atuação de Maya Bulgakova, intérprete da aviadora-protagonista. Mas este filme não tem a profundidade e trágica beleza de “A Ascensão”. Este, sim, configura-se como a obra-prima da realizadora.
O CPC-UMES estabeleceu, mais uma vez, em seu festival anual, amplo calendário de atividades ligadas à cultura eslava. A principal delas se comporá com sessão com trilha sonora ao vivo para acompanhar o satírico “As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques”. Afinal, muitos podem ter perdido a segunda edição da Mostra, oito anos atrás, e, portanto, não puderam desfrutar do trabalho da pianista Dudah Lopes. Ela compôs trilha sonora especialmente para acompanhar as imagens do filme de Kuleshov. Anotem a data em suas agendas: sábado, 23 de novembro, às 16h45.
Em comemoração aos 10 anos da Mostra Mosfilm, Nadejda Ramirez Starikoff apresentará a exposição “Maya Malenkaya”, concebida para “oferecer experiência sensorial, que entrelaça memórias da infância e nostalgia”. As famosas bonecas russas (matryoshkas) “trarão camadas de lembranças e identidade, com a intenção de motivar os visitantes a refletir sobre suas próprias histórias”. Tal exposição será disponibilizada durante toda a Mostra, no foyer da Sala Grande Otelo. Nos dois sábados do festival (16 e 23 de novembro, às 15h30), Nadia Starikoff conduzirá oficinas de pinturas de matryoshkas (para adultos e crianças).
Durante toda a Mostra, também serão expostos, no foyer da Sala Grande Otelo, Pôsteres do Cinema Soviético e Russo. Torres e Oliveira lembram que “os cartazes de filmes da cinematografia soviética e russa são verdadeiras obras de arte”. E que, “na década de 1920, além de revelar diretores que viriam a ser alguns dos mais importantes de todos os tempos, como Eisenstein, a URSS apresentou ao mundo uma poderosa, inovadora e influente geração de artistas gráficos”.
O idioma russo será tema de oficina ministrada pela professora Cinthia Lopes, do Instituto Soyuz, organizadora do projeto Molotok, responsável por traduções de vídeos, letras de músicas e cartazes soviéticos (aulas nos sábados, 16 e 23, às 15h30). Haverá, também, Workshop de Danças Folclóricas Russas, ministrado pela Associação Cultural Grupo Volga de Folclore Russo (sábados, 16 e 23, também às 15h30). Por fim, haverá barracas com comidas, bebidas e artesanato típicos do Leste Europeu.
10ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo
100 anos do Estúdio Mosfilm
Nos terceiro e quarto finais de semana de novembro (de 13 a 17 de novembro e de 16 a 24)
Exibição de 20 filmes, exposições, oficinas e feira de artesanato, livros e culinária
Entrada franca
Confira os filmes programados:
. “As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques” (1924, pxb, 55′, comédia) – De Lev Kuleshov. Roteiro: Pudovkin e Nikolai Aseev. Elenco: Porfiri Podobed, Boris Barnet, Aleksandra Khokhlova e Vsevolod Pudovkin – Querendo viajar à União Soviética, Mr. West é advertido pelas revistas americanas, os grandes meios de comunicação da época, dos terríveis perigos existentes naquele bárbaro país. Para proteger-se, ele leva consigo o caubói Jeddy, seu fiel guarda-costas, mas acaba caindo nas malhas de um grupo de ladrões disfarçados de contra-revolucionários. 12 anos – Kuleshov foi o precursor da teoria soviética da montagem. No experimento “Efeito Kuleshov”, ele intercalou o plano de um rosto inexpressivo com imagens que tinham significado para o espectador. Embora o fosse sempre o mesmo, a plateia “via” expressões diferentes.
. “A Greve” (1924 /pxb, 81′) – De Serguei Eisenstein, roteiro: Grigori Aleksandrov, S Eisenstein, Ilya Kravchunovsky e Valerian Pletnyov. Elenco: Maksim Shtraukh, Grigori Aleksandrov, Mikhail Gomorov e Ivan Klyukvin – O suicídio de um operário injustamente acusado de roubo é o estopim para o início de uma greve numa fábrica na Rússia czarista pré-revolução. Reivindicando melhores condições de trabalho, os operários da fábrica enfrentam dura e violenta repressão. 12 anos – Longa de estreia de Eisenstein, o filme começa com a clássica citação de Lenin: “A força da classe trabalhadora é a organização. Sem organização das massas, o proletariado não é nada; organizado é tudo. Ser organizado significa unidade da ação, unidade da atividade prática.”
. “Circus” (1936, p&b, 94′, comédia) – Argumento, roteiro e direção de Grigori Aleksandrov. Música de Isaak Dunayevsky. Elenco: Lyubov Orlova, Evgenia Melnikova, Vladimir Volodin e Serguei Stolyarov – Enquanto a Grande Depressão arrasava a economia dos EUA, os planos quinquenais produziam um intenso desenvolvimento na União Soviética. É para lá que acaba indo parar artista de circo americana, depois de fugir de multidão enfurecida pelo fato delater dado à luz um bebê negro. Marion Dixon busca abrigo num trem, onde encontra o agente teatral alemão Franz von Kneishitz, que a recruta para turnê circense pela URSS. Ele a manterá como escrava sob a ameaça de revelar seu segredo. Livre. O nome da protagonista, Marion Dixon, é uma homenagem à atriz Marlene Dietrich. O filme foi pioneiro ao abordar o tema do racismo, e combatê-lo, no cinema soviético, num tempo em que, nos principais países capitalistas, a segregação racial florescia.
. “Minin e Pozrarsky” (1939, pxb, 110′, drama) – Direção de Vsevolod Pudovkin e Mikhail Doller. Roteiro: Viktor Shklovsky. Música: Yury Shaporin. Com Aleksandr Khanov, Boris Livanov, Boris Chirkov e Lev Sverdlin – No período conhecido como “Tempo de Dificuldades” (1598-1613), o príncipe Dmitry Pozharsky e o comerciante Kuzma Minin lideram a luta dos russos por sua independência, contra a invasão polonesa em 1611-12. Livre. São raros os filmes sobre a invasão polonesa à Rússia, sendo “Minin e Pozharsky” o mais importante deles. Para dar mais autenticidade às cenas de batalhas, Pudovkin entrou, de câmera na mão, no meio dos “combates”.
. “Quando Voam as Cegonhas” (1957, p&b, 96′, drama) – Direção: Mikhail Kalatozov. Argumento e Roteiro: Viktor Rozov. Música: Moisey Vaynberg. Com Tatyana Samoylova, Aleksei Batalov, Vassily Merkurev e Aleksandr Shvorin – Veronika e Boris, um jovem casal de namorados, é separado pela convocação do rapaz para se juntar ao Exército Vermelho, na 2ª Guerra Mundial. Ansiosa por notícias do front, a moça é acolhida pela família de Boris quando sua casa é destruída por um bombardeio e acaba forçada a se envolver com o primo do rapaz, com quem resignadamente se casa, mas continua a esperar por Boris – Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2017, 14 anos. Palma de Ouro de “melhor filme” no Festival de Cannes (1958). Destaque para o trabalho do diretor de fotografia Serguei Urusevsky, com o uso pioneiro da câmera na mão para as filmagens.
. “O Comunista” (1957, cor, 110′, drama) – Direção: Yuli Raizman. Roteiro: Evgeny Gabrilovich. Música: Rodion Schedrin. Com Evgeny Urbansky, Sofya Pavlova, Evgeny Shutov e Boris Smirnov – O filme mostra a curta, mas brilhante, vida de Vassily Gubanov, seu trabalho honesto e consciencioso na construção de uma grande central elétrica em Zagora, durante a Guerra Civil. Sem perceber, ele vai realizando os feitos que o tornarão um herói postumamente. 12 anos. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2024. O longa foi realizado para marcar o 40º aniversário da Revolução de Outubro. Selecionado para as programações especiais dos festivais de Veneza (1958) e Locarno (1967).
. “A Balada do Soldado” (1959, p&b, 88′, guerra) – Direção: Grigori Chukhray. Argumento original: Grigori Chukhray e Valentin Ezhov. Música: Mikhail Ziv. Com Vladimir Ivashov, Zhanna Prokhorenko, Nikolai Kryuchkov e Evgeny Urbansky – Durante a 2ª Guerra Mundial, o soldado Alyosha destrói dois tanques alemães. Ao invés de uma medalha, pede uma licença para visitar a mãe. Na jornada, o jovem compartilha com o povo os sacrifícios da vida na retaguarda. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2012. 12 anos. Premiado nos festivais de Cannes, San Francisco, Londres e Milão. Indicado ao Oscar de melhor roteiro original (1962).
. “Noites Brancas” (1959, cor, 96′, romance) – Direção: Ivan Pyriev. Baseado na obra de Fyodor Dostoievski. Música: Arnold Roytman. Com Lyudmila Marchenko, Oleg Strizhenov, AnatolyFedorinov, Svetlana Kharitonova e Vera Popova – São Petersburgo, década de 40 do século XIX. Nas noites brancas de verão, às margens do Rio Neva, Nastenka conhece o Sonhador. Durante cinco noites, caminhando pela cidade, os dois jovens falam sobre si mesmos, suas desilusões e desejos, e se apaixonam. Livre. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2023 – Ivan Pyryev foi convidado a participar do júri do Festival de Veneza em que o Leão de Prata foi concedido ao “Noites Brancas” de Luchino Visconti, daí decidiu filmar sua versão. A atriz Lyudmila Marchenko disse, anos depois das filmagens, que o papel de Nastenka foi o preferido de sua trajetória.
. “O Destino de um Homem” (1959, p&p, 101′, drama) – Direção: Serguei Bondarchuk. Música original: Venyamin Basner. Com Serguei Bondarchuk, Pavlik Boriskin, Zinaida Kirienko e Pavel Volkov – Convocado pelo Exército Vermelho para atuar como motorista, Andrei é capturado pelos alemães e, quando retorna, não encontra sua mulher e filhos, todos mortos na Guerra. O fantasma de uma vida sem propósito o atormenta. 14 anos. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2020 – Adaptação do romance homônimo de Mikhail Sholokhov, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1965. Filme de estreia de Serguei Bondarchuk na direção.
. “Velas Escarlates” (1961, cor, 87′, fantasia) – Direção: Aleksandr Ptushko. Argumento original: Aleksandr Grin. Música: Igor Morozov – Com Anastasia Vertinskaya, Vassily Lanovoy, Ivan Pereverzev e Serguei Martinson – A pequena Assol encontra um velho mago. Ele promete a ella: um dia um príncipe virá num navio com velas escarlates levá-la do vilarejo onde mora. Arthur Grey, filho de um nobre cruel, que se separa do pai para viver no mar, aporta com seu navio mercante na aldeia da agora jovem Assol, avista a moça dormindo na floresta e logo se apaixona por ela. Livre. O filme foi rodado em várias localidades, entre ellas Koktebel e Yalta, na Crimeia, Baku, no Azerbaijão, e Pitsunda, na costa do Mar Negro. Para atender as exigências de Ptushko por autenticidade, a equipe de produção providenciou 2.500 metros de seda vermelha para as velas do navio de Arthur Grey.
. “O Fascismo de Todos os Dias (1965, p&b, 136′, documentário) – Direção e argumento original: Mikhail Romm. Música Original: Alemdar Karamanov – Intercalando imagens do presente (1965) e material capturado do arquivo do Ministério de Propaganda do III Reich (coleção pessoal de Hitler) e fotografias apreendidas de soldados alemães da SS, Romm, diretor e também narrador do filme, desenvolve aguda reflexão sobre a natureza do fascismo, enquanto reconstrói a trajetória de sua ascensão e queda. 14 anos. Reconhecido como “um dos mais profundos, criativos e impactantes documentários realizado sobre o tema”. Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Documentário e Animação de Leipzig (1965).
. “Asas” (1966, p&b, 85′, drama) – Direção: Larisa Shepitko. Roteiro: Valentin Ezhov e Natalya Ryazantseva. Música: Roman Ledenyov. Com Maya Bulgakova, Serguei Nikonenko, ZhannaBolotova e Pantelejmon Krymov. Livre. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2024
. “Os Sinos da Noite” (1973, cor, 107′, drama) – Direção e roteiro: Vassily Shukshin. Música: Pavel Chekalov. Com Vassily Shukshin, Lidiya Fedoseeva, Ivan Ryzhov e Marya Skvortsova – Yegor Prokudin acaba de cumprir pena e deixa a prisão. Homem simples e gentil, ele deseja a qualquer custo uma vida nova, e viaja para a aldeia onde mora Lyuba, com quem trocava cartas enquanto estava preso. Decidido a romper para sempre com seu passado, Prokudin descobre que as coisas não serão tão simples assim. 14 anos. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2019 – Vassily Shukshin e Lidiya Fedoseeva eram casados na realidade, e uma das canções que inspirou o filme está intimamente liga à situação em que se conheceram. No ano do lançamento, o filme foi assistido por 63 milhões de espectadores na URSS. Os leitores da revista “A Tela Soviética” o consideraram o filme do ano, e Vassily Shukshino ator do ano.
. “Não Pode Ser!” (1975, cor, 92′, comédia) – Direção: Leonid Gayday. Música: Aleksandr Zatsepin. Com Mikhail Pugovkin, Nina Grebeshkova, Vyacheslav Nevinny, Oleg Dahl – Três histórias curtas sobre casamento, baseadas em obras do humorista e escritor russo Mikhail Zoshchenko: “Crime e Castigo”, “Uma Aventura Divertida” e “Incidente de Casamento”. Livre – O papel do pai na história “Casamento” seria de Yury Nikulin, um dos atores prediletos do diretor, mas Nikulin estava muito ocupado na época com as atividades do seu circo. A obra de Mikhail Zoschenko está entre “os melhores conteúdos humorísticos produzidos na URSS”.
. “O Espelho” (1975, cor, 106′, drama) – Direção: Andrei Tarkovski. Argumento original: Aleksandr Misharin e Andrei Tarkovsky. Música: Eduard Artemev. Com Margarita Terekhova, Oleg Yankovsky, FilippYankovsky e Ignat Daniltsev – Aleksei, homem na casa dos 40 anos e à beira da morte, relembra seu passado, a infância, os horrores da Guerra e a relação com sua mãe e sua ex-esposa. As imagens se misturam com arquivos sobre a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2017. 12 anos. O filme ocupa lugar especial na filmografia de Tarkovski, e tem fortes traços autobiográficos, principalmente de sua infância. O diretor filmou a mãe, Maria Ivanovna Vishnyakova-Tarkovskaia, então idosa. E os poemas de seu pai, Arseny Tarkovski, permeiam a narrativa e foram recitados pelo próprio. Tarkovski fez 32 versões do filme antes de aprovar a 33ª e definitiva.
. “Dersu Uzala” (1975, cor, 136′, drama) – Direção: Akira Kurosawa. Argumento original: Vladimir Arsenyev. Música original: Isaak Shwarts. Com Maksim Munzuk, Yury Solomin, Svetlana Danilchenko e Dima Korshikov – Explorador e cartógrafo do exército russo mapeia a Sibéria no fim do século 19, com a ajuda de caçador nativo avesso aos padrões mercantis de conhecimento e relação com a natureza. Produzida pelo Mosfilm, a obra trouxe de volta às telas o mestre japonês, que tentara o suicídio em 1971. Livre. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1976. Prêmios de melhor diretor e da Crítica Internacional no Festival Internacional de Cinema de Moscou.
. “Romance de Escritório” (1977, cor, 157′, comédia romântica) – Direção: Eldar Ryazanov. Argumento original: Emil Braginsky e Eldar Ryazanov. Música: Emin Khachaturyan e Raisa Lukina. Com Alisa Freyndlikh, Andrei Myagkov, Lia Akhedzhakova e Oleg Basilashvili – O dia a dia de um escritório de estatística de Moscou vira de pernas para o ar com o romance entre o tímido funcionário Anatoly Novoseltsev e sua chefe, a severa “Bruxa”. Livre. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2012. Participou do Festival Internacional de Cinema de Chicago (1978). Uma das maiores bilheterias de 1978 na URSS, e uma das comédias russas mais populares de todos os tempos.
. “Moscou Não Acredita em Lágrimas” (1979, cor, 148′, drama) – Direção: Vladimir Menshov – Roteiro: Valentin Chernykh. Música: Serguei Nikitin. Com Vera Alentova, Raisa Ryazanova, Irina Muravyova e Aleksei Batalov – As jovens Katya, Antonina e Lyudmila chegam a Moscou vindas do interior, em 1958. Elas sonham encontrar um bom trabalho e um amor para toda a vida. Ao longo de duas décadas, desde a juventude até a maturidade, acompanhamos suas vitórias e fracassos, seus amores, desejos e desilusões. As três passarão por situações que testarão suas forças, mantendo, no entanto, sua amizade inabalada. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2010. Livre. Oscar de melhor filme estrangeiro (1981). Concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim (1980).
. “Vá e Veja” (1985, cor, 143′, guerra) – Direção: Elem Klimov. Argumento e roteiro: Ales Adamovich. Música: Oleg Yanchenko. Com Aleksei Kravchenko, Olga Mironova, Vladas Bagdonas e Lyubomiras Lautsyavichyus – Em 1943, o adolescente Floria, de uma aldeia bielorrussa, encontra um fuzil e se junta ao movimento guerrilheiro de resistência contra os nazistas. A ocupação da Bielorrússia foi de selvageria sem precedentes. Das 9.200 localidades destruídas na URSS, durante a 2ª Guerra Mundial, 5.295 estavam situadas n região. Mais de 600 vilas, como Khatyn, foram aniquiladas, junto com toda sua população. 2.230.000 soviéticos, um terço dos habitantes da Bielorrússia, foram mortos durante os anos da invasão alemã. Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2017. 16 anos. Vencedor dos prêmios de melhor filme e da Crítica Internacional no Festival Internacional de Cinema de Moscou (1985). Prêmio de melhor restauração no 74º Festival de Veneza (2017). Frequentemente citado nas listas de melhores filmes de guerra da história do cinema.
. “Tigre Branco” (2012, cor, 109′, guerra) – Direção: Karen Shakhnazarov. Argumento original: Ilya Boyashov. Música Original: Yury Poteenko e Konstantin Shevelyov. Com Aleksei Vertkov, Valery Grishko, Vitaly Kischenko e Karl Krantskovski – Encontrado quase morto entre destroços fumegantes no campo de batalha, o tanquista Ivan Naidionov tem uma recuperação surpreendente, capaz de desafiar a compreensão dos médicos. Mais misteriosa fica a história quando ele revela que foi atingido pelo Tigre Branco, indestrutível tanque alemão, que surge e desaparece por encanto, deixando rastro de destruição e morte. Ligados por elo sobrenatural, homem e máquina se empenham numa batalha que se projeta para além daqueles tempos. 14 anos. Representante da Rússia na disputa pela indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Dedicado ao pai do diretor, Gueorgy Shakhnazarov, que foi para o front aos 18 anos, e a todos os veteranos da Grande Guerra Patriótica (nome que os soviéticos e russos dão à Segunda Guerra Mundial).
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