No Mês Internacional da Mulher, o CCBB RJ apresenta mostra de filmes de horror dirigidos por elas
Por muitas décadas, o cinema de horror foi considerado restrito aos homens, mas hoje sabemos que as mulheres têm uma relação profunda com o gênero. As produções dirigidas por elas, na sua grande maioria, não receberam o merecido destaque e são pouco conhecidas no Brasil. A mostra Mestras do Macabro – As Cineastas do Horror ao Redor do Mundo, que tem curadoria da pesquisadora, curadora e crítica de cinema Beatriz Saldanha, vem cobrir esta lacuna apresentando 28 longas-metragens de diversos estilos, produzidos em vários países, no mês dedicado às mulheres. Além dos filmes, o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro também receberá debates e um curso sobre o tema, de 7 de março a 14 de abril.
A mostra oferece um panorama inédito de diretoras com perfis muito diferentes, que realizaram filmes em contextos particulares. Serão exibidos desde produções de pioneiras, que atuaram no cinema comercial dos anos 1970 e 1980, até títulos mais recentes, incluindo filmes de diretoras brasileiras, que dialogam diretamente com o público de hoje. O filme de abertura será o clássico “Quando Chega a Escuridão” (foto, Near Dark, 1987), de Kathryn Bigelow, uma das cineastas mais importantes em atividade.
Entre as pioneiras do gênero de horror, a mostra destaca as cineastas americanas Stephanie Rothman, Amy Jones e Jackie Kong. Em “O Doce Vampiro” (The Velvet Vampire, 1971), Rothman incorpora ao filme uma influência do cinema surrealista que o torna especialmente bonito. “O Massacre” (The Slumber Party Massacre, 1982), dirigido por Amy Jones, é o primeiro filme da única saga que foi concebida como “feminina” nos slashers, um dos subgêneros mais populares do horror. E “Um Jantar Sangrento” (Blood Diner, 1987), de Jackie Kong, é uma obra bem particular que lembra os filmes da celebrada produtora Troma.
As cineastas dos “novos clássicos” do horror, que marcam o início de uma nova geração de diretoras deste gênero, estão representadas pelos filmes “Psicopata Americano” (American Psycho, 2000), de Mary Harron, “Garota Infernal” (Jennifer’s Body, 2009), de Karyn Kusama, “Grave” (2016), de Julia Ducournau, e “O Babadook” (The Babadook, 2014), de Jennifer Kent.
Estarão presentes na mostra, também, filmes mais intimistas de grandes autoras, como “O Chalé do Lobo” (Vlčí Bouda, 1987), da checa Vera Chytlová, “Desejo e Obsessão” (Trouble Every Day, 2001), da francesa Claire Denis, e o pouco conhecido “A Jaula de Mafu” (The Mafu Cage, 1978), da americana Karen Arthur, que traz uma das atuações mais impressionantes de Carol Kane.
Mestras do Macabro será ainda uma ótima oportunidade para assistir filmes que, apesar de serem cultuados fora do Brasil, seguem inéditos nos cinemas daqui, como “O Pesadelo de Celia” (Celia, 1989), de Ann Turner, e “Segredos Evidentes” (Youling Renjian, 2001), de Ann Hui, além de títulos que estrearam diretamente no streaming e poderão, pela primeira vez, ser vistos em uma sala de cinema, como “Santa Maud” (2020), de Rose Glass, diretora de “Loves Lies Bleeding: O Amor Sangra”, lançado no ano passado.
A produção nacional estará presente com alguns dos melhores filmes brasileiros do gênero de horror lançados nos últimos anos – “Medusa” (2023), de Anita Rocha da Silveira, “Sinfonia da Necrópole” (2016), de Juliana Rojas, “Sem seu Sangue” (2020), de Alice Furtado, “A Sombra do Pai” (2019), de Gabriela Amaral Almeida, e “Terminal Praia Grande” (2019), de Mavi Simão.
A mostra terá um catálogo com textos de 35 autoras, entre críticas brasileiras e pesquisadoras estrangeiras convidadas. Pela primeira vez, um livro exclusivo sobre esse tema será publicado no Brasil. A distribuição será gratuita. A publicação estará disponível também para download no site do CCBB.
Mestras do Macabro será realizada em todas as unidades do Centro Cultural Banco do Brasil, com patrocínio do Banco do Brasil. Além do Rio de Janeiro, a mostra também será apresentada no CCBB Belo Horizonte (12 a 24 de março), CCBB São Paulo (20 de março a 20 de abril) e CCBB Brasília (14 de outubro a 2 de novembro).
A cineasta Gabriela Amaral Almeida fará, no dia 15 de março (sábado), às 15h, uma sessão comentada do grande clássico “Cemitério Maldito” (Pet Sematary, 1989), de Mary Lambert. Ele é, até hoje, o maior filme de horror dirigido por uma mulher em termos de sucesso comercial, além de ser uma obra marcante sobre a família e o luto. A sessão será inclusiva, com legenda descritiva, e o debate com tradução em Libras.
A mostra também promove um curso gratuito sobre as cineastas do horror, ministrado pela curadora Beatriz Saldanha, de 19 a 21 de março (quarta a sexta), às 17h30, com carga horária de 6h (duas horas por dia), no Cinema 2 do CCBB RJ. Os ingressos para o curso estarão disponíveis a partir das 9h, de cada dia, no site e na bilheteria do CCBB. A proposta do curso é lançar um olhar para a filmografia de horror realizada por mulheres através de um panorama histórico e internacional. A ideia é mostrar como o horror feito por mulheres se transformou de acordo com os avanços femininos no cinema e na sociedade como um todo.
Serão realizados ainda dois debates. No dia 28 de março, Beatriz Saldanha e Bianca Mattos, uma das autoras do catálogo e curadora do Cineclube Grande Otelo, conversam com o público sobre “A Lenda de Candyman” (Candyman, 2021), de Nia DaCosta, logo após a sessão das 16h30. Uma das principais cineastas negras da atualidade, DaCosta colocou o racismo em pauta na refilmagem deste clássico dos anos 1990. E, no dia 7 de abril, o filme “O Doce Vampiro” é o tema do debate com Raphaela Ximenes, crítica de cinema especializada em filmes de horror, e Beatriz Saldanha, após a sessão do filme, que começa às 16h30. Os dois debates terão tradução em Libras.
O filme “Sem seu Sangue”, de Alice Furtado, terá uma sessão inclusiva, com legenda descritiva e interpretação em Libras, no dia 13 de março, às 18h.
A programação detalhada da mostra está disponível em www.bb.com.br/cultura.
Mestras do Macabro – As Cineastas do Horror ao Redor do Mundo
Data: 7 de março a 14 de abril
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro – Rua Primeiro de Março 66, Centro – (21) 3808-2020 – Sala de Cinema 1 (102 lugares, sendo 4 para cadeirantes)
Entrada franca – Ingressos disponibilizados às 9h do dia da sessão na bilheteria física ou em bb.com.br/cultura.