As novas faces do cinema

A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).

Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.

O horror por Marco Dutra e Juliana Rojas

Esta história começa na USP. Marco Dutra e Juliana Rojas cursavam o primeiro ano da faculdade de cinema quando se conheceram. Ele vinha da zona norte de São Paulo, ela, de Campinas. Gostavam das mesmas coisas. Iam ao cinema depois das aulas. E faziam juntos os exercícios do curso, ainda em VHS. Com “O Lençol Branco” (2004), um curta sobre uma mulher que precisa lidar com a morte de seu bebê, Marco e Juliana concluíram a universidade. O filme foi selecionado para a mostra Cinéfoundation do Festival de Cannes, dedicada a filmes de escola, e marcou o início de uma parceria vigorosa.

Não que Marco e Juliana não tenham vida própria. Ele desenvolveu trabalhos como roteirista em filmes como “No meu lugar” (2009), de Eduardo Valente, e para a série de TV “Alice” (2009), de Karim Aïnouz e Sérgio Machado; enquanto ela assinou sozinha alguns curtas (“Pra Eu Dormir Tranquilo”, “Vestida”) e vem trilhando uma carreira como montadora, no documentário “Pulsações” (2011), de Manoela Ziggiatti, e no telefilme “Corpo Presente” (2009), de Marcelo Toledo e Paolo Gregori. Juntos, contudo, eles voltariam a Cannes outras duas vezes. Primeiro com o curta “Um Ramo” (2007), sobre uma mulher que descobre uma folha nascendo em sua pele, e, depois, com o longa “Trabalhar Cansa” (2011).

Trabalhar Cansa

Aos poucos, a dupla criou um universo particular e reconhecível, sempre protagonizado por mulheres flagradas em situações extraordinárias. Este extraordinário, no entanto, é tratado da maneira mais seca e naturalista possível, como se o que estivesse em jogo fosse, na verdade, uma espécie de crise de percepção dos personagens para com o mundo. Um cinema do horror, mas sem abrir mão do drama, da comédia e da ironia. Um horror talvez mais no sentido da ambiência, da maneira como os dois filmam os espaços, gerando tensão, angústia e uma sensação de enclausuramento. “Trabalhar Cansa”, por exemplo, tem as relações humanas como centro. É basicamente um filme sobre como os personagens lidam com uma mudança radical nas relações de trabalho.

“Somente com o tempo percebemos que nosso universo temático girava em torno de algumas questões que se repetiam”, diz Marco. “Sentimos que isso tem muito a ver com o universo em que fomos criados, que é o da classe média urbana, e da percepção de que há algo constantemente estranho no funcionamento da classe média (e dos conflitos de classe em geral) sobre o qual pouco se fala”, continua, citando influências variadas que vão de John Carpenter aos filmes de Walt Disney, de Bresson a M. Night Shyamalan.

Juliana (31 anos) esteve em Cannes este ano com um curta solo, “O Duplo” (2012), e vive hoje em Paris, dentro do programa de Residência do Festival de Cannes. De lá, ela e Marco (32 anos) escrevem o segundo longa da dupla, “As Boas Maneiras”, sobre uma mulher, grávida e solteira, que contrata uma babá para seu futuro filho. “É uma fábula de horror que se passa no centro e na periferia de São Paulo”, adianta.

 

Por Julio Bezerra

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