Gal Costa deixa sua imagem em muitos filmes e sua trajetória em longa biográfico

Por Maria do Rosário Caetano

A inesperada morte da cantora Gal Costa, aos 77 anos, deixa milhões de fãs espalhados pela Bahia, pelo Brasil e por diversos países do mundo. A musa tropicalista, Doce Bárbara, Gal Tropical, Gal Fatal, Vaca Profana continuará presente na vida de seus admiradores graças aos muitos discos que gravou e shows que registrou em DVD. E também ao cinema, que imprimiu sua imagem tímida, sensual e e arrebatadora nas bitolas em 16 e 35 milímetros.

Quem sintonizar, nos próximos dias, o Canal Brasil e o Canal Curta!, emissoras a cabo (ambas mantêm serviço de streaming) poderá ver programas especiais com a cantora (“MPBambas”, de Tárik de Souza, “Som do Vinil”, de Charles Gavin, e “Espelho”, de Lázaro Ramos, por exemplo) e filmes de curta e longa-metragem, como “Meu Nome é Gal”, de Antônio Carlos da Fontoura, e “Os Doces Bárbaros”, de Jom Tob Azulay (ver programação abaixo).

Ano que vem, no dia 9 de março, as cineastas Lô Politi e Dandara Ferreira lançarão a cinebiografia de Gal, sintético apelido de Maria da Graça Penna Burgos Costa, soteropolitana nascida em 26 de setembro de 1945, que tornou-se famosa, uma verdadeira diva de nosso cancioneiro popular, ao lado dos baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia.

A cantora de imensos sucessos como “Baby”, “Divino Maravilhoso”, “Balancê”, “Índia”, “Vapor Barato” e, claro, de “Meu Nome é Gal” (nome de filme ficcional, ainda inédito, protagonizado pela atriz Sophie Charlotte) não poderá mais, por sua morte inesperada, assistir à sua cinebiografia ao lado de seus admiradores. Mas, gentilmente, ajudou a jovem atriz de tantas novelas e filmes (como o recente “O Rio do Desejo”, do baiano Sergio Machado) a compor seu papel.

No Instagram, Sophie Charlotte divulgou fotos dela ao lado de uma luminosa Gal Costa e agradeceu a generosidade da cantora ao colaborar com sua preparação. No filme de Politi e Dandara estarão também Dan Ferreira (Gilberto Gil), Rodrigo Lélis (Caetano Veloso), Luis Lobianco (o empresário Guilherme Araújo), George Sauma (Wally Salomão), Camila Márdila (Dedé Gadelha), Caio Scott (Rogério Duarte), Chica Carelli (Dona Mariah, mãe de Gal), Cláudio Leal (Torquato Neto), Pedro Meirelles (Tom Zé), Caroline Andrade (Rita Lee), Fábio Assunção (papel não detalhado) e a própria Dandara como Maria Bethânia.

Gal com a atriz Sophie Charlotte

No campo do documentário de longa-metragem, um filme se destaca na carreira de Gal – “Bahia de Todos os Sambas”, de Leon Hirszman e Paulo Cezar Saraceni. No começo dos anos 1980, o estado nordestino mandou à Roma (ao Circo Massimo, nas Thermas de Caracala), seu primeiro time musical: Dorival Caymmi, João Gilberto (sim, João!!), Batatinha, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, o Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar. E, claro, Gal Costa.

Três fotógrafos, comandados por Dib Lutfi, registraram todos os shows. Isto aconteceu de 23 a 31 de agosto de 1983. A produção somava esforços italianos e brasileiros e foi captada em 16 milímetros, em cores. Mas longos 13 anos seriam necessários para que o filme fosse concluído. Em 1996, Saraceni (Leon Hirszman morrera em 1987) levou o filme ao Festival de Havana, em Cuba, à Itália e aos festivais brasileiros. Causou frisson.

Claro que, ao ver “Bahia de Todos os Sambas”, todo mundo ficou encantado com as participações de artistas do calibre de Caymmi, com o show de banquinho-e-violão de João Gilberto, com o veterano e sereno Batatinha, com Caetano & Gil, com os frevos de Moraes Moreira, etc. Mas quem roubou a festa foi Gal Costa.

Fofocas de bastidores garantem que Leon Hirszman estava apaixonado por Gal (sempre identificada por sua opção homoafetiva), então no auge de sua beleza (tinha 37 anos e cultivava corpo escultural). Segundo esta versão, Leon teria pedido a Dib Lutfi, um dos maiores fotógrafos do cinema brasileiro, que sua câmara namorasse o corpo de Gal, descendo de seus longos cabelos cacheados, passando por sua boca sensual e chegando às suas envolventes e insinuantes curvas. Foi o que o grande fotógrafo e câmara fez.

Em “Os Doces Bárbaros” (1977), que seria sequenciado com “Outros Bárbaros”, quem rouba a festa, involuntariamente, é Gilberto Gil. Seus parceiros Gal, Caetano e Bethânia têm, claro, presença luminosa no filme. Mas foi a polícia de Santa Catarina que entornou o caldo ao prender Gilberto Gil por porte de maconha. Um vexame nacional, que interrompeu a turnê do quarteto e submeteu Gil às garras da justiça.

Dos “Doces Bárbaros”, dois nomes são recordistas em número de filmes – Maria Bethânia e Gilberto Gil. Cineastas e câmaras os perseguem. Eles são tema de muitos (e ótimos) documentários realizados por nomes de prestígio (Andrucha Waddington, Lula Buarque, Marcelo Machado e o imperdível “Tropicália”) e grifes poderosas (como a carioca Conspiração). Bethânia, além de ter sido filmada por Eduardo Escorel e Júlio Bressane, Carlos Diegues (“Quando o Carnaval Chegar”), Andrucha Waddington (“Pedrinha de Aruanda”), Márcio Debellian (“Fevereiros”) tornou-se personagem até de realizadores europeus – Pierre Barouh (“Saravah”) e Georges Gachot (“Música é Perfume).

Já Gal Costa, famosa por sua timidez, nunca foi de fazer muitos filmes, nem contar suas histórias a este ou aquele documentarista. Em 1970, Antônio Carlos da Fontoura, que vinha de dois sucessos (o curta “Ver Ouvir”) e o longa “Copacabana me Engana”, dirigiu, em parceria com Antônio Calmon, o curta “Meu Nome é Gal”.

Mas a grande cantora não fez confidências aos cineastas. Apenas deixou-se filmar fazendo o que sempre gostou de fazer – cantar. No curta fontouriano vemos o registra de dois números de grande importância nos momentos iniciais da carreira da intérprete baiana  (“Saudosismo” e “Não Identificado”, ambas de Caetano Veloso). E, claro, a canção que virou sua carteira de identidade (e dá nome, além do documentário de Fontoura, à ficção de Politi e Dandara): “Meu Nome é Gal”. Uma composição, registre-se, de Roberto e Erasmo Carlos.

Programação:

NO CANAL BRASIL

Dia 10/11 – 20h30 – “Os Doces Bárbaros” de Jom Tob Azulay (100 minutos)

NO CANAL CURTA!

“Meu Nome é Gal”, de Antonio Carlos da Fontoura. Documentário de 12 minutos, que registra performance de Gal Costa em três canções que marcaram sua carreira no final dos anos 1960, início dos 70: “Saudosismo”, “Não Identificado” e “Meu Nome é Gal”. Sexta-feira, 11/11, às 17h15; no sábado, 12/11, às 22h; e no domingo, 13/11, às 13h.

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