Canal Curta! e CurtaOn promovem maratona dedicada ao “8 de Março” e à criação feminina
Foto: “Um Filme para Beatrice”, de Helena Solberg
Por Maria do Rosário Caetano
O “Oito de Março”, Dia Internacional da Mulher, será lembrado com maratona composta de dezenas de filmes e séries pelo canal Curta! e por sua extensão no streaming, o CurtaOn. Serão exibidos, ao longo desse mês de março, documentários dirigidos por mulheres ou produções que tenham artistas (atenção ao feminino!) como protagonistas.
O propósito da emissora é canalizar atenções para produtos audiovisuais que “estimulem o espectador a refletir sobre o espaço das mulheres na sociedade”, dando “visibilidade às suas histórias, lutas e conquistas”.
Duas novidades, inéditas e especialíssimas, merecem o foco central da maratona – os documentários “Um Filme para Beatrice”, da veterana Helena Solberg, e “O Nascimento de H. Teixeira”, da jovem Roberta Canuto. Duas gerações empenhadas em revelar histórias e trajetórias de mulheres notáveis e muito de nosso cinema no feminino.
“Um Filme para Beatrice” foi o convidado inaugural do Festival É Tudo Verdade, no Rio de Janeiro, ano passado. Escolha acertadíssima, pois Helena Solberg, de 86 anos, é um dos esteios do cinema feminino no Brasil. Única mulher a integrar o “verdadeiro Clube do Bolinha” cinemanovista, ela – apesar de todas as adversidades – conseguiu realizar “A Entrevista” (1966), curta-metragem seminal. E de perene atualidade.
Helena viveu algumas décadas nos EUA, aprofundou suas ligações com o movimento feminista e dirigiu documentários de grande importância. E sempre em fina sintonia com as lutas das mulheres. Em solo estadunidense e em países da América Hispânica dirigiu “La Double Jornada”, “A Nova Mulher”, “Simplesmente Jenny”, “Nicarágua Hoje”, “A Conexão Brasileira”, “Berço de Bravos”, “A Terra Proibida”, entre outros.
Na década de 1990, tendo seu companheiro David Meyer como produtor, Helena deu início a seu projeto mais arrojado e difícil – o documentário “Carmen Miranda: Bananas is my Business”. O filme foi lançado em 1995 e teve ótima recepção.
Dez anos depois, a cineasta faria sua estreia na ficção, com uma pequena joia – “Vida de Menina”, adaptação dos fascinantes (e muito bem-escritos) diários de Helena Morley (1880-1970). O filme ganhou o prêmio principal do Festival de Gramado.
Três documentários depois – “Palavra (En)Cantada” (sobre os versos lavrados por nossos grandes compositores populares), “A Alma da Gente” e “Meu Corpo minha Vida” –, a cineasta carioca, cuja obra fora estudada no livro “Helena Solberg – Do Cinema Novo ao Documentário Contemporâneo” (Mariana Tavares, 2014), recebeu instigante cobrança. Que se empenhasse na realização de um filme sobre o feminismo no Brasil.
Motivada a aceitar o desafio, ela se pôs a pensar. Que caminhos deveria adotar?
Foi aí que algo inesperado – uma carta vinda da Itália – lhe forneceu mote e direção. Uma pesquisadora, a Beatrice do título, contava à brasileira que fora encontrada, numa escola primária, nas proximidades de Pádua, uma lata contendo “A Entrevista”, seu primeiro filme.
“Mais de 50 anos haviam se passado” – lembra a cineasta. “Aquela carta me permitiu reatar velhas amizades e encontrar novos interlocutores, motivando uma viagem ao passado e uma reflexão sobre o futuro”. O resultado dura fascinantes 78 minutos e permite a Helena rever sua própria carreira, com trechos essenciais de alguns de seus filmes, e responder à pergunta que lhe encaminhara a jornalista italiana (na carta peninsular): “Como vão as mulheres no Brasil?”
A pergunta, de resposta complexa, levará Helena a manter conversas com sua xará Helena Vieira, com Rita van Hunty e com Heloisa Teixeira. O resultado é delicado, inteligente, afetivo, inquieto e motivador.

E aí chegamos à segunda grande atração da Maratona do Mês da Mulher, organizada pelo Curta!, “O Nascimento de H. Teixeira”, de Roberta Canuto, mineira pós-graduada em cinema, com importantes estudos sobre o cineasta Alberto Cavalcanti (“O Canto do Mar”).
Quando li, pela primeira vez, notícia sobre o filme de Roberta, pensei tratar-se de nova cinebiografia do compositor cearense Humberto Teixeira (1915-1979). Que risco! O que teria feito a jovem documentarista para superar o belíssimo “O Homem que Engarrafava Nuvens”, de Lírio Ferreira, produzido pela atriz (e filha do autor dos versos de “Asa Branca”) Denise Dumont?
Logo me informei da razão do título “enganador” proposto por Roberta Canuto. A personagem dela é Heloísa Teixeira, ex-Buarque de Hollanda, que, aliás, tem vibrante participação no filme de Helena Solberg e foi tema de outro documentário — “Helô” (2023), assinado pelo filho Lula Buarque de Hollanda.
O novo longa documental desvendará o pensamento crítico da ensaísta, escritora, cineasta, editora, professora universitária, integrante da Academia Brasileira de Letras, agitadora cultural e festeira. Uma mulher que não perde a verve, nem a beleza, nem o entusiasmo, mesmo que já entrada nos anos (completará 86 em junho próximo).
Um verdadeiro azougue, Heloísa trocou o Buarque de Hollanda, sobrenome de seus dois filhos – os cineastas Lula e Pedro – fruto de seu primeiro casamento, com Luiz Buarque de Hollanda – pelo Teixeira da mãe. Viu nesse ato uma libertação. Uma forma de afirmar-se como mulher, sem carregar os sobrenomes do marido, “um casamento que durou uns 10 anos”. Duradouro mesmo foi o segundo matrimônio, com o diretor de fotografia e cineasta João Carlos Horta (1946-2020), que somou “uns 50 anos” de parceria.
Roberta Canuto traça instigante retrato da mulher sem papas na língua, capaz de confissões inesperadas. Que colocam em questão até sua vibrante formação intelectual. “Sempre que eu ganhava um prêmio, João dizia que não fora por mérito, mas por causa da minha simpatia”. Ri, provocadora, e confessa acreditar que o marido “estava certo!”.
Décima mulher a ocupar uma cadeira na ABL, Heloísa segue firme em seus estudos sobre literatura e, principalmente, o feminismo brasileiro. Sempre disposta a desconsertar-destoar o coro dos contentes. E o faz devidamente maquiada, com os cabelos volumosos, roupas de cores vibrantes e emoldurada por ampla casa com varanda, daquelas que colocariam o Gilberto Freyre (1900-1987) de “Novo Mundo nos Trópicos” em estado de epifania.
Uma mulher teimosa e cheia de vida, que reclama dos excessivos cuidados dos filhos. “Eles não queriam que eu gravasse com você por longas horas. Querem me poupar”. Ela, porém, não quer ser poupada. Quer espalhar suas ideias ao vento e tatuar no corpo os desenhos dos netos.
Além de Helena e Beatrice e de Roberta e Heloísa, os espectadores que embarcarem na maratona do Curta! e do CurtaOn poderão desfrutar de outras finas iguarias. Uma delas, dedicada à “A Casa Azul de Frida Kahlo”. Outras a Clementina de Jesus, Dolores Duran, Marisa Monte, Carolina Maria de Jesus, Cássia Eller, Adriana Varejão, Clarice Niskier… a lista é enorme.
No campo das séries, “Instantes Cruzados”, de Sérgio Bloch, promove (re)visitação às mais emblemáticas fotografias do passado do Brasil pelo olhar de fotógrafas contemporâneas como Paula Trope, Mariana Mayara e Betina Polaroid. Já “Cinéticas”, de Caroline Margoni, apresenta perfis e processo criativo de nove cineastas brasileiras e sul-americanas – Renata Pinheiro, Graci Guarani, Inés Barrionuevo, Glenda Nicácio, Dominga Sotomayor, Everlane Moraes, Carol Markowicz, Lucía Garibaldi e Jorane Castro.
No CurtaOn, 80 produções documentais se destacam nessa maratona feminina. Entre elas, na pasta “Mulheres que nos Inspiram”, serão disponibilizadas séries como “Grandes Cenas”, com episódio sobre “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert; “Nós, Documentaristas”, cuja convidada é a documentarista Petra Costa; “Artistas Plásticos Brasileiros”, com foco nas obras de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; e “Onde Nascem as Ideias”, explorando a criatividade da diretora Bia Lessa.
Destaque, ainda, para os documentários “Maya Angelou – Ainda me Levanto”, de Rita Coburn Whack e Bob Hercules; “Libertem Angela Davissta Petra Costa; “Artistas Plásticos Brasileiros”, com foco nas obras de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; e “Onde Nascem as Ideias”, de Shola Linch; “Maria Callas: Vida e Obrasta Petra Costa; “Artistas Plásticos Brasileiros”, com foco nas obras de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; e “Onde Nascem as Ideias”, com direção de Alan Lewens e Alastair Mitchell; “Incompatível com a Vidasta Petra Costa; “Artistas Plásticos Brasileiros”, com foco nas obras de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; e “Onde Nascem as Ideias”, de Eliza Capai; e “Lobby do Batomsta Petra Costa; “Artistas Plásticos Brasileiros”, com foco nas obras de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; e “Onde Nascem as Ideias”, dirigido por Gabriela Gastal.
Maratona do Mês da Mulher
Onde: Canal Curta! e no CurtaOn (Clube de Documentários), streaming do Curta!, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro tv+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br). Novos assinantes do site oficial e do Prime Video Channels têm direito a sete dias de degustação gratuita.
PROGRAMAÇÃO
Sexta-feira, 7 de março:
- 22h20– “Um Filme para Beatrice” (doc. inédito e exclusivo) – De Helena Solberg (78 min., 12 anos)
Sábado (8 de Março) – Maratona Dia Internacional da Mulher, com:
- Meia noite – “Mulheres Radicais”
- 1h30 – “Um Dia Pina Perguntou”
- 2h30 – “Clementina”
- 4h00 – “Maria – Não Esqueça que Eu Venho dos Trópicos”
- 5h30 – “Marisa Monte – Infinito ao Meu Redor”
- 7h00 – “Movimentos Invisível”8h30 – “Cássia Eller”
- 10h30 – “Libertárias: Mulheres Inspiradoras na História do Brasil: Dandara”
- 11h30 – “Maria Montessori, a Educadora Visionária”
- 13h00 – “Clarice Niskier: Teatro dos Pés Cabeça”
- 14h30 – “Carolina Maria de Jesus”
- 15h30 – “A Casa Azul de Frida Kahlo”
- 16h30 – “Leopoldina – A Imperatriz do Brasil”
- 18h00 – “Damas do Samba”19h30 – “Incompatível com a vida”
- 21h15 – “Dolores Duran – O Coração da Noite”
- 22h30 – “Adriana Varejão – Entre Carnes e Mares”
Domingo, 11 de março:
- 22h – “Instantes Cruzados” (Série, episódio: “Paula Trope – Imagem concreta” (inédito e exclusivo), de Sergio Bloch (27 min., 10 anos) – A artista Paula Trope explora as fronteiras entre arte, técnica e comunicação, investigando como a fotografia, cinema e vídeo podem transcender a realidade concreta e gerar novas realidades. Influenciada por pioneiros como José Oiticica Filho, ela questiona as fronteiras entre ética e estética, propondo uma reflexão sobre como a arte pode moldar e recriar a percepção do mundo.
Quarta-feira – 12 de março:
- 21h30 – “Cinéticas” (Série, episódio: “Everlane Moraes” – inédito e exclusivo), de Tila Chitunda, Caroline Margoni ( 26 min., 10 anos) – A série apresenta o perfil e processo criativo de nove cineastas mulheres, dentre brasileiras e profissionais sul-americanas.
Terça-feira, 18 de março:
- 22h – “Instantes Cruzados” (Série) – Episódio: “Mariana Mayara – Zumbi está vivo” (inédito e exclusivo), de Sergio Bloch (27 min., 10 anos ) – A fotógrafa e antropóloga Mariana Mayara homenageia a fotografia de Januário Garcia através da marcha Zumbi Está Vivo (1983) e reflete sobre o legado da luta negra no Brasil.
Quarta-feira, 19 de março:
- 21h30 – “Cinéticas” (Série) – Episódio: “Renata Pinheiro” (inédito e exclusivo) – A diretora Cynthia Falcão investiga o cinema de Renata Pinheiro, uma das cineastas mais premiadas de Pernambuco. Conhecida por filmes como “Superbarroco” e “Carro Rei”, Renata explora artes visuais e a construção de espaços não convencionais (85 min., livre)
Quinta-feira, 20 de março - 22h20 – “O Nascimento de H. Teixeira” (doc., inédito e exclusivo) – De Roberta Canuto (82 min., 12 anos).
- 22h – “Instantes Cruzados” (Série, episódio: “Betina Polaroid – Corpos Desinvididualizados” (inédito e exclusivo) – De Sergio Bloch (27 min., 10 anos) – A drag queen e fotógrafa Betina Polaroid explora as fronteiras entre corpo, identidade e fotografia, retratando artistas queer e suas transformações. Unindo o analógico e o digital, ela questiona normas de gênero e a percepção da nudez no Brasil.
Quarta-feira, 26 de março:
- 21h30 – “Cinéticas” (Série, episódio: “Graci Guarani – Identidades e Narrativas Indígenas” (inédito e exclusivo, 85 min., livre) – A cineasta Mariana Porto mergulha no universo de Graci Guarani, pioneira indígena no audiovisual. Nascida na aldeia Jaguapiru (MS) e residente na Terra Indígena Pankararu (PE), Graci aborda ancestralidade e resistência em filmes como “Meu Sangue É Vermelho” e “Opará”.
Quinta-feira, 27 de março:
- 22h20 – “A Escrita Delas” (estreia no Canal) – De Vanessa de Araújo Souza (70 min., 10 anos) – Este documentário investiga a autoria feminina na literatura, questionando se a escrita pode ser definida pelo gênero do autor. Através de entrevistas com escritoras renomadas, o filme explora diferentes perspectivas sobre o tema, oferecendo uma reflexão profunda sobre a influência do gênero na literatura e celebrando o legado das mulheres na arte da escrita.
Pingback: news-1741266279344-10969 – News Conect Inteligencia Digital