Francisco Brennand
No ano de 2002, quando Mariana Brennand Fortes decidiu fazer um documentário sobre seu tio-avô, o artista pernambucano Francisco Brennand, seu único desejo era entender por que aquele homem tinha criado um templo de esculturas no meio da mata do bairro da Várzea do Capibaribe, em Recife. Recém-formada em cinema pela Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, Mariana se mudou para o Recife determinada a concluir o projeto em um ou dois anos. Mas logo que adentrou pelo portão da Oficina Brennand, construída nas ruínas de uma velha fábrica de cerâmica, ela percebeu que o desafio pela frente seria muito maior do que seu impulso inicial.
Apesar de ser bastante reconhecido pelo seu trabalho em cerâmica, Francisco é, e sempre foi, como ele mesmo costuma enfatizar, um pintor. No acervo, Mariana descobriu mais de mil pinturas e desenhos em diversas técnicas.
Quando convidou o fotógrafo Walter Carvalho, Mariana enfatizou a importância de ter uma equipe pequena e de fazer a primeira etapa do documentário com a câmera na mão, sem luz artificial, para que Francisco pudesse interagir com Walter da mesma maneira cúmplice e confessional que ele vinha interagindo com ela.
Na segunda etapa, Mariana se debruçou sobre os diários do tio, que ele vinha escrevendo desde os 22 anos. Pensando em tudo o que havia lido, Mariana e sua equipe recriaram em imagem e movimento as páginas do diário.
No meio do processo de montagem, Mariana descobriu que Francisco voltara a escrever em seu diário e essas novas páginas definiram a narrativa final do documentário. Próximo do corte final do filme, Mariana convidou a atriz Hermila Guedes para que ela lhe interpretasse, como uma outra voz contando a história de Francisco.
O resultado final, que chega às telas em março com distribuição da VideoFilmes, revela todas as facetas deste artista múltiplo, que pinta, desenha, modela, esculpe, fotografa, escreve literatura e transformou, nos últimos 40 anos, a antiga fábrica de cerâmicas de seu pai não só em um espaço de seu trabalho, mas, sobretudo em um lugar único no mundo. Francisco Brennand é sobre a essência verdadeira desse artista que se isolou no meio da mata para construir um conjunto arquitetônico ou, como ele mesmo prefere dizer, uma elaborada pintura de dimensões gigantescas, onde o templo, o rio e a mata se encontram no grande canvas da Várzea do Capibaribe.
O documentário foi exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde ganhou os prêmios Itamaraty e ABRACCINE como melhor documentário e melhor filme.
Em 2012, ano em que completou 85 anos de vida, Francisco Brenannd comemorou a data com o lançamento do livro de pinturas e desenhos O Universo de Francisco Brennand, pela editora G. Ermakoff, além de ser tema da exposição O Escultor Francisco Brennand – Milagre da Terra, dos Peixes e do Fogo. Francisco ainda se prepara para publicar os seus diários.