Mataram meu Irmão
Anotem este nome: Cristiano Burlan. Gaúcho, ele chegou a São Paulo, com a família, quando tinha oito anos de idade. Foi morar em vários pontos da periferia da cidade. Inclusive no Capão Redondo. Lá, perdeu, assassinado com sete tiros, o irmão Rafael Burlan da Silva. O jovem estava envolvido com roubo de carros e consumo de drogas, tinha apenas 22 anos e dois filhos pequenos.
Cristiano, professor da Academia Internacional de Cinema, tem 37 anos e uma filmografia recheada de títulos pouco conhecidos: muitos curtas e dois longas. Ele seria mais um nome entre as centenas de realizadores que se multiplicam, país afora, desde que as novas tecnologias baratearam a fabricação de filmes. Mas um longa documental mudou sua vida: “Mataram meu Irmão”.
O filme – corajoso, desconcertante, provocador – causou sensação no último festival É Tudo Verdade, organizado há 18 anos por Amir Labaki. Venceu o Prêmio CPFL de “melhor documentário” da competição brasileira, que lhe valeu R$ 100 mil e troféu outorgado pelo júri oficial, e conquistou o Prêmio Abraccine, da crítica cinematográfica. Mesmo quem está acostumado com documentários que abordam a violência urbana, tão grave em nossas grandes cidades, vai levar um choque.
Cristiano não fala “sobre” mortes que são meras estatísticas policiais. Ele se coloca por inteiro na narrativa, ao reconstituir, em primeira pessoa e com ajuda de familiares e amigos, a tragédia que vitimou seu irmão Rafael. Radiografa uma família (a sua) que convive de forma perturbadora com a violência. Um irmão, Tiago, está vivo, mas encarcerado em presídio de Cuiabá. O pai, alcoólatra, morreu de forma violenta. A mãe foi assassinada pelo companheiro, padrasto de Cristiano.“Já fiz um filme sobre meu pai e um sobre a morte de meu irmão. Agora penso em fechar esta trágica trilogia familiar com um filme sobre minha mãe. Minha ideia é buscar o assassino dela. Sei onde ele está”. Como se vê, Cristiano gosta de correr riscos com sua câmara.