Lázaro Ramos “coloca dendê na moqueca capixaba” ao receber homenagem no Festival de Vitória

Foto: Lázaro Ramos em videoclipe da cantora Zubilika, gravado em Cabo Verde

Por Maria do Rosário Caetano, de Vitória (ES)

O ator baiano Lázaro Ramos causou frisson em sua passagem, ao lado da companheira Taís Araujo, pelo Festival de Cinema de Vitória. O Cine-Teatro Sesc Glória estava abarrotado, todos queriam festejá-lo. Os aplausos e a tietagem foram múltiplos antes dele subir ao palco para receber o Troféu Vitória, o “Caderno do Homenageado”, com sua trajetória fartamente ilustrada, e jóia personalizada da designer Carla Buaiz.

No palco, o artista, de 45 anos, com novo visual (cabelos nevados), derramou simpatia e gratidão pelo reconhecimento (fez questão de segurar o “Caderno do Homenageado” e o Troféu Vitória colados ao corpo e ao coração). E bom humor. Disse que tinha ensaiado agradecimento sólido, mas a emoção empanava seus sentidos. Resolveu, então, arriscar em terreno perigoso. Provocar os capixabas justo em sua mais representativa expressão culinária, a moqueca, feita com tempero (urucum) diferente de sua versão baiana.

“Homenagear dois baianos (ele e a atriz Suely Bispo, soteropolitana radicada em Vitória), vocês sabem, é colocar dendê na moqueca capixaba”. A plateia reagiu com bom humor e muitos aplausos. Aceitou com fairplay a provocação da espaçosa turma do dendê.

Lázaro viu Taís Araújo, sua mulher há quase duas décadas e mãe de seus filhos, ser também muito festejada. Aos 45 anos, vestida como uma top model e aparentando bem menos idade do que tem (a mesma do marido), ela deu seguidas entrevistas e posou para fotos com muitos fãs. Mas, ao subir ao palco, com a designer Carla Buaiz, foi discretíssima. Entregou o troféu e o “Caderno do Homenageado”, e junto com Carla, deixou o proscênio.

O palco era inteiro de Lázaro, que festejava e era festejado pelos dois mestres-de-cerimônia da noite — os atores “baianos!” Dan Ferreira e Lucas Leto. Como bem observou a baiana (e capixaba adotiva) Suely Bispo, em coletiva de imprensa, dias antes, “o Espírito Santo só terá espaço nobre na cultura brasileira quando se orgulhar de si mesmo, como faz a Bahia, que conheço tão bem”.

Lázaro festejou a dupla de conterrâneos presente no palco: “já trabalhei com os dois. Dirigi Dan, muito talentoso, no teatro”. E Lucas, pequenino e elétrico, “protagonizou meu filme, ‘Um Ano Inesquecível-Outono’, que dirigi recentemente”.

Dan Ferreira e Lucas Leto esboçaram sorrisos de satisfação e externaram agradecimento “ao mestre”. Ao que Lázaro rebateu: “mestre não, colega de ofício! Vocês têm quase a minha idade!” (Risos).

Na parte da tarde, Lázaro lotou o auditório do Hotel Senac Ilha do Boi para coletiva de imprensa. Além de jornalistas, compareceram atrizes e atores, diretores e técnicos de cinema, professores, um discreto candidato a vereador, estudantes e muitos fãs. Além, claro, dos autores do “Caderno do Homenageado”, Leonardo Vais e Paulo Góis Bastos.

Lázaro respondeu a dezenas de perguntas e até ensaiou conselhos solicitados por aspirantes à carreira de ator e atriz. Com raro senso de humor, não repetiu fórmulas. Muito ao contrário, expôs dúvidas e só fez uma conclamação: “assistam a filmes brasileiros!”

Justificou a razão de tal pedido: “tenho notado que crianças e adolescentes vivem plugados no celular, suporte no qual consomem vídeos de até dois minutos. Não mostram paciência com narrativas mais longas. Precisamos motivá-los para a fruição de obras mais reflexivas”. E por que? “Porque estamos vivendo um tempo de grandes transformações. Já sabemos que a Marvel está produzindo filmes com ‘viradas’ de sete em sete minutos, pois entende que só agindo assim prenderá a atenção do espectador”.

Workaholic assumido, Lázaro, que acaba de finalizar um novo livro, continuação do best-seller “Na Minha Pele” (ainda sem título definitivo), diz que foi curtir dez dias de férias na Ilha de Cabo Verde, na África. Lá encontrou o amigo Joel Zito Araújo, diretor de “A Negação do Brasil” e “Filhas do Vento”. Conversa vai, conversa vem, e estava convidado-convocado a romper os poucos dias de ócio. Luiza Botelho, filha de Joel Zito, casado com a cabo-verdiana São Graça, o convidou a participar das gravações de “Kel Dia – Aquele Dia”, videoclipe da cantora Zubilika. Como dizer não? Lá foi Lázaro ao batente. Assistam, na internet, ao baiano, com cabelos nevados, trocando carícias com a cantora cabo-verdiana em praia paradisíaca.

A Revista de CINEMA perguntou ao ator quais são seus projetos presentes e futuros. Ele respondeu: “meu livro está pronto. Ele nasceu da necessidade de me aprofundar no mesmo tema (a cor da pele) e dedicar mais espaço à minha mãe, de quem falei pouco no primeiro livro, com mais subjetividade que no ‘Na Minha Pele’. Íamos lançá-lo em novembro, mês da consciência negra. Mas estamos em ano eleitoral. Achamos melhor deixar para março. Eu sou de me entregar de corpo e alma aos meus projetos. Então, quero dispor de muito tempo para divulgar o novo livro.

Os trabalhos recentes são muitos. Além do filme “Um Ano Inesquecível-Outono”, Lázaro atuou em um episódio e dirigiu outro da série “5 x Comédia”, projeto que o uniu à atriz Ingrid Guimarães.

— São histórias novas. Vou lhes confessar: eu tinha um vício, uma teima, de que humor se faz no primeiro take. Não dá para repetir, senão perde a graça. Pois a Ingrid (Guimarães) me convenceu do contrário. Me provou que o humor é esculpido, se aperfeiçoa em muitos takes. Ela trabalha assim. Grava muitas vezes até encontrar o melhor take. Aprendi com ela. No episódio em que atuo, a direção é da minha grande amiga Flávia Lacerda (parceira de projetos no cinema e na TV, comandados por Guel Arraes). Na produção geral da série está Monique Gardenberg (“Ó, Pai Ó”, 2007).

Lázaro está, também, num dos mais esperados projetos do ano, a animação “Arca de Noé”, dirigida por seu grande amigo, o cineasta baiano Sergio Machado (de “Cidade Baixa”). Estreia agendada para dezembro.

— Faço a voz do vilão, o Leão, personagem da Arca de Noé recriada por Vinicius de Moraes e parceiros. Estou, também, em outro filme de animação, o “Virando Latas”, de Ana Carolina. E preparo minha estreia como diretor de filme infantil. Estou trabalhando no roteiro. É muito importante criar obras para crianças e adolescentes. No terreno da atuação, fui convidado e estou me preparando para filmar no Ceará. Só não vou revelar o nome do diretor.

Quando os coordenadores da coletiva, Leonardo Vais e Paulo Góis Bastos, avisaram que o tempo se esgotava e pediram a Lázaro Ramos que dirigisse suas palavras finais ao público, que deixasse uma mensagem, ele se levantou da cadeira. De pé e microfone na mão, voz firme e emocionada, mostrou as quatro imagens estampadas na camiseta que vestia:

— Esta primeira estampa é do ator e cineasta Zózimo Bulbul, com quem convivi menos do que gostaria. Mas tive o prazer de dirigi-lo num “Retrato Brasileiro”, feito para o Canal Brasil. Um documentário de uns 30 minutos. Num dia de gravação, ele apontou para a câmara e me disse “Isso é uma arma, se aposse dela e faça filmes. Dirija!” As imagens seguintes trazem Dona Ruth de Souza e de Dona Léa Garcia. Forças ancestrais que tanto admiro e reverencio. Com Dona Ruth, ainda trabalhei, numa diária única da série “Mister Brau”. Foi oportunidade única. Desfrutei de cada minuto ao lado dela. Com Dona Léa nunca trabalhei, mas ela sabia de minha estima e respeito por ela. A quarta imagem é de Antônio Pitanga, meu conterrâneo, grande ator e diretor, que em novembro lançará o longa-metragem “Malês”. Vamos todos prestigiá-lo nos cinemas.

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