“Baby” é uma história de amor homoafetiva feita com poesia e paixão

Foto © Joana Luz

Por Maria do Rosário Caetano

“Baby”, segundo longa-metragem do mineiro, radicado em São Paulo, Marcelo Caetano, dividiu com “Malu”, de Pedro Freire, em cartaz há 10 semanas, o Troféu Redentor de melhor filme no Festival do Rio, ano passado. Registre-se que o júri, presidido pela grande atriz argentina Mercedes Morán, não deu uma de Rei Salomão. Simplesmente concluiu que era impossível decidir-se por um, excluindo o outro. Afinal, estava diante de obras de fina ourivesaria, construídas, ambas, com poesia e paixão. Capazes de criar atmosferas envolventes e provocar reflexão.

O filme de Marcelo Caetano – uma história de amor homoafetiva, realista e corajosa – estreia nessa quinta-feira, 9 de janeiro, em diversas capitais brasileiras. Chega recomendado pela Semana da Crítica, em Cannes, que reconheceu o trabalho de Ricardo Teodoro como “ator revelação”, e por duas dezenas de prêmios somados em festivais nacionais e internacionais.

Nessa terça-feira, 7 de janeiro, “Baby” terá sessão especial no CineSesc, com ingressos pagos. Os espectadores participarão de debate com Marcelo Caetano, Federico Devito e Rodrigo Gerace. E concorrerão a sorteios de camisetas com estampa do filme. Detalhe: a procura por ingressos foi tão grande, que os interessados só devem sair de casa depois de consultar a bilheteria do cinema da Rua Augusta paulistana.

Narrativa de título feliz e sintético, “Baby” centra-se no amor que nasce entre Wellington (João Pedro Mariano), egresso de centro de detenção juvenil, e Ronaldo (Ricardo Teodoro), homem feito e experiente. Os dois vão se conhecer num cinema de pegação do centro de São Paulo. O mais velho ensinará ao mais jovem novas formas de sobrevivência na maior metrópole da América do Sul. A cidade, vista especialmente em sua parte central, transformar-se-á, ela mesma, em um “personagem”. A fotografia calorosa assinada por dupla de craques (Joana Luz e Pedro Sotero) só fará valorizar o espaço urbano.

Marcelo Caetano, que realizou vários curtas homoafetivos (destaque para “Bailão”) e estreou no longa com o envolvente “Corpo Elétrico”, mergulhará com seus dois protagonistas (coadjuvados por time de respeito) em trama conflituosa. Serão difíceis as relações destes dois amantes tão dessemelhantes (e semelhantes). E, o que faz do filme um dos melhores da recente safra do cinema brasileiro, não fugirá de temas espinhosos, como o tráfico de drogas, a exploração vinda do sexo por aluguel e a discriminação social (primoroso – e de rara síntese visual – o tratamento dado à relação entre Wellington e parceiro estável, um arquiteto bem-nascido).

Além da ótima química entre o Baby de João Pedro Mariano e o Ronaldo de Ricardo Teodoro, o filme nos envolverá pela densidade de seu roteiro, escrito por Caetano e Gabriel Domingues. O erotismo (o filme é recomendado a maiores de 16 anos) impregna toda a narrativa, nada pudica. E as relações entre os muitos personagens serão, sempre, complexas e contraditórias. Não há mundo cor-de-rosa em “Baby”.

As relações familiares são vistas de forma matizada. Baby foi abandonado pelos pais e, com o vigor de sua juventude, vai construir novas relações de afeto. Mesmo assim, fará questão de reencontrar a mãe, evangélica praticante. O encontro resultará num dos mais belos e emocionantes momentos do filme. Mesmo que os afetos sejam transitórios e nada apaziguadores.

Ricardo Teodoro, mineiro de 36 anos, tem sólida trajetória no teatro (inclusive na brechtiana Companhia do Latão). O filme marca sua estreia no cinema e sua atuação mostrou-se notável já em Cannes. Depois, em Huelva-Espanha, ele recebeu o prêmio de melhor ator coadjuvante. E, em Lima-Peru, foi escolhido como o melhor ator.

O jovem João Pedro Mariano, de 21 anos, também vem causando ótima impressão nos festivais e desponta como nome em que se deve prestar bastante atenção. Além do Troféu Redentor de melhor intérprete na Première Brasil, do Festival do Rio, foi reconhecido no Mix Brasil (Troféu Coelho de melhor ator) e no Festival Aruanda, em João Pessoa.

 

Baby
Brasil, França e Holanda, 2025, minutos
Direção: Marcelo Caetano
Elenco: João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo, Marcelo Várzea, Maurício de Barros, Kyra Reis, Patrick Coelho, Baco Pereira, Sylvia Prado, Ariane Aparecida, Victor Hugo Martins, Kelly Campello e Cleo Coelho
Roteiro: Marcelo Caetano e Gabriel Domingues
Fotografia: Joana Luz e Pedro Sotero
Montagem: Fabian Remy
Direção de arte: Thales Junqueira
Trilha sonora: Bruno Prado e Caê Rolfsen
Produtores: Beto Tibiriçá, Ivan Melo e Marcelo Caetano
Distribuição: Vitrine Filmes

 

FILMOGRAFIA
Marcelo Caetano (Belo Horizonte/MG, 1982)

Curtas e médias-metragens:

2008 – “A Tal Guerreira”
2009 – “Bailão”
2012 – “Na sua Companhia”
2013 – “Verona”

Longas-metragens:

2017 – “Corpo Elétrico”
2025 – “Baby”

Séries de TV:

“Hit Parade” (Canal Brasil)
“Notícias Populares” (Canal)

Assistente de direção, co-roteirista ou produtor de elenco:

2015 – “Tatuagem”, de Hilton Lacerda
2015 – “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro
2016 – “Aquarius”, de Kleber Mendonça
2016 – “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert
2020 – “Bacurau”, de Kleber Mendonça

One thought on ““Baby” é uma história de amor homoafetiva feita com poesia e paixão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.