Gramado será primeira vitrine de longa documental sobre a notável experiência de Paulo Freire e seus alfabetizandos na potiguar Angicos

Por Maria do Rosário Caetano

Na presença da atriz Denise Weinberg, protagonista de “O Último Azul”, convidado da noite inaugural do Festival de Gramado, a presidente do evento, Rosa Helena Volk, anunciou os quatro longas documentais e doze curtas brasileiros que competirão ao Troféu Kikito. O filme do pernambucano Gabriel Mascaro conquistou o Urso de Prata, em Berlim, e rendeu o troféu de melhor atriz a Denise, no Festival de Guadalajara, no México.

A maior surpresa, entre os 16 títulos anunciados no encontro com a imprensa paulistana, chega do Rio Grande do Norte e esconde, atrás de seu título discreto (“Lendo o Mundo”, foto), projeto de alcance internacional, capaz de unir esforços de duas mulheres, a norte-americana Catherine Murphy e a brasileira Iris de Oliveira.

A dupla dedicou-se a reviver, em sons e imagens, experiência que marcou a história de Paulo Freire, o pedagogo da libertação, e de moradores de pequeno e pobre município do sertão nordestino, Angicos. Isso, no Governo João Goulart, portanto, antes do triunfo do golpe militar de 1964.

“Lendo o Mundo” deve causar furor na Serra Gaúcha, pois o pernambucano Freire (1921-1997) é considerado um dos nove mais inovadores (e importantes) educadores dos cinco cantos do planeta. Foi incluído em tão seleto time por enquete francesa, ao lado de, entre outros, Confúcio, Rousseau, Piaget e Maria de Montessori.

Completam a lista de longas documentais o paulista “Até Onde a Vista Alcança”, de Alice Villela e Hidalgo Romero (sobre guerreiro do povo Kariri-Xocó em busca de seu território memorial), o amazonense “Os Avós”, de Ana Lígia Pimentel, sobre mulheres que, aos 30 e poucos anos, ganham seus primeiros netos, e o carioca “Para Vigo me Voy”, de Lírio Ferreira e Karen Harley. Este documentário revê a trajetória de Carlos Diegues (1940-2025), um dos fundadores do Cinema Novo e diretor de “A Grande Cidade” e “Bye, Bye Brasil”.

“Para Vigo me Voy”, produzido por Diogo Magalhães Dahl Pereira dos Santos, foi exibido no segmento Cannes Classics, em maio último, no festival francês. Esses quatro documentários somam-se a seis ficções (ver matéria sobre este segmento do festival) para compor a representação nacional.

A seleção de curtas traz dois títulos gaúchos, dois paulistas, dois cariocas, dois baianos e um representante de mais quatro estados brasileiros (os nordestinos Pernambuco e Alagoas, o amazônida Pará e o sulista Paraná).

Resta, agora, anunciar os longas-metragens do Rio Grande do Sul, que farão parte do Gauchão, fruto de parceria histórica entre o festival e a Assembleia Legislativa do Estado, e os filmes da Mostra de Cinema Francês, programada em caráter especial, nesse ano em que Brasil e França comemoram 200 anos de relações diplomáticas.

A quinquagésima-terceira edição do Festival de Gramado acontece em agosto (de 13 a 23). Rosa Volk, que já foi secretária de Turismo do município gaúcho, fez questão de lembrar que, apesar de contar “com apenas 40 mil habitantes, a cidade serrana recebe, anualmente, 8 milhões de visitantes, 30% vindos do exterior”. E pondera: “E olhe que ainda não temos aeroporto”.

A Prefeitura Municipal está em campanha aberta para contar com moderno aeroporto capaz de atender “à segunda cidade brasileira que, entre outras façanhas, mais atrai noivos para suas festas matrimoniais”. Os gramadenses gostam de listar seu poder de atração materializado no Festival de Cinema, no Natal Luz e em recheado calendário de eventos culturais.

Confira os selecionados:

LONGAS DOCUMENTAIS

– “Lendo o Mundo” (RN), de Catherine Murphy e Iris de Oliveira
– “Os Avós” (AM), de Ana Ligia Pimentel
– “Para Vigo me Voy!” (RJ), de Lírio Ferreira e Karen Harley
– “Até Onde a Vista Alcança” (SP), de Alice Villela e Hidalgo Romero

CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS

– “Jeguatá Xirê” (RS), de Ana Moura e Marcelo Freire
– “Aconteceu a Luz da Lua” (RS), de Crystom Afronário
– “Jacaré” (BA), de Victor Quintanilha
– “Na Volta Eu Te Encontro” (BA), de Urânia Munzanzu
– “Cabeça de Boi” (SP), de Lucas Zacarias
– “FrutaFizz” (SP), de Kauan Okuma Bueno
– “Réquiem para Moïse” (RJ), de Caio Barretto Briso e Susanna Lira
– “Samba Infinito” (RJ), de Leonardo Martinelli
-“Boiuna” (PA), de Adriana de Faria
– “O Mapa Em Que Estão Meus Pés” (AL), de Luciano Pedro Jr.
– “As Musas” (PE), de Rosa Fernan
– “Quando Eu For Grande” (PR), de Mano Cappu

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