Trilogia do Chile

Patricio Guzmán causou sensação com sua “Trilogia do Chile”, composta com documentários que radiografaram o governo (queda e morte) de Salvador Allende. E o triunfo de Pinochet. Os três filmes da “A Batalha do Chile” (“A Insurreição da Burguesia”, de 1975 , “O Golpe de Estado”, 77, e “O Poder Popular”, 79) – traçaram, sem nenhum maniqueísmo, duro retrato dos anos convulsivos que quase resultaram em guerra civil. O que Guzmán fez no documentário, o jovem Pablo Larraín, 36 anos, realizou, na ficção, com sua “Trilogia da Era Pinochet”. Começou com “Tony Manero” (2008), exibido em Cannes e lançado em muitos países, inclusive no Brasil. Um homem cinquentão, interpretado pelo grande ator Alfredo Castro, vive obcecado pelo personagem de John Travolta em “Embalos de Sábado à Noite”, hit de 1977. Seu sonho é vencer um concurso de imitadores de Tony Manero. A trama se passa em 1978, portanto, pouco mais de quatro anos depois do golpe de Pinochet. Mas o “Tony Manero fake” não quer saber de política. Para atingir seu objetivo, ele não se intimidará. Muitos dos que parecem ameaçá-lo serão eliminados. No filme seguinte, “Post Morten”, que disputou o Leão de Ouro, em Veneza, o mesmo Alfredo Castro interpreta um funcionário de necrotério, também despolitizado. Sua função é fazer a necropsia dos muitos corpos de resistentes à ditadura Pinochet. O filme que fecha a trilogia, “Não” (“O Plebiscito”), venceu a Quinzena dos Realizadores de Cannes, em maio último. Menos sombrio que os dois anteriores, este longa, baseado na peça “Plebiscito”, de Antonio Skármeta, de “O Carteiro e o Poeta”, tem mais uma vez Alfredo Castro como um dos protagonistas. Ele interpreta o publicitário que defende o “sim”, ou seja, a permanência de Pinochet. O defensor do “Não” ao ditador, que vencerá por 56%, é um chileno que regressa do exílio no México, interpretado por Gael García Bernal. “Não” vem causando sensação por onde passa. Em Locarno, foi exibido para oito mil pessoas, em praça pública. E aplaudido com fervor. Tem distribuição garantida no Brasil.

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